Pedro Serra: Avanço das fintechs ameaça grandes bancos
Nos últimos anos, o sistema financeiro brasileiro tem passado por uma grande transformação. A chegada das fintechs, como os bancos digitais, carteiras digitais e plataformas de investimento ameaçam a soberania dos bancos tradicionais.
Essa é uma tendência inevitável e que vem sendo estimulada pelo Banco Central, através de iniciativas como o Pix e Open Banking, cujo objetivo final é aumentar competição no setor e pressionar spreads bancários.
Nesse sentido, é natural que os bancos digitais entrem no radar até mesmo dos grandes investidores. Exemplos desse movimento não faltam: recentemente, vimos a aquisição de parte do Nubank por Warren Buffet, assim como a compra de 35% da Modalmais (MODL11) pelo Credit Suisse e, nessa semana, foi a vez da gigante financeira JP Morgan anunciar a aquisição de 40% do C6 Bank.
O que as fintechs têm de diferencial?
O grande diferencial dessas fintechs, e que atrai o olhar desses grandes investidores, é que elas apresentam uma proposta de negócio completamente diferente daquela dos bancos tradicionais.
Apoiadas em um perfil mais jovem e em uma operação mais eficiente, apostam na redução de cobrança de taxas e uso intenso da tecnologia para melhorar a experiência do cliente, atacando diretamente as receitas tarifárias e de prestação de serviços dos grandes bancos.
Para os bancos americanos, os bancos digitais brasileiros acabam se configurando como uma oportunidade de entrar em um negócio de penetração crescente no varejo e estrutura com poucos ativos, inserindo-se em um mercado com grande potencial de crescimento, cuja entrada de maneira exitosa seria muito difícil e custosa.
Com essa parceria estratégica, esses players estrangeiros também conseguem ganhar escala, oferecendo seus produtos dentro das plataformas das fintechs.
Na outra ponta, para as fintechs a parceria com instituições de renome internacional, além de gerar credibilidade ao negócio, diminui a pressão para realização de IPO, além de oferecer capital para que estas sigam com seu processo de crescimento, que, muitas vezes, só consegue gerar lucro em estágios mais avançados de maturação.
Será a queda dos bancões?
Isso significa que os grandes bancos nacionais se tornarão menos rentáveis no futuro? Sim, com certeza as grandes instituições financeiras, que até agora reinaram soberanas, devem enfrentar uma concorrência cada vez mais feroz, conforme o mercado for se pulverizando e recebendo novos players.
Porém, acredito que boa parte desses desafios já está precificada, além de existirem uma série de oportunidades que ainda podem surpreender o mercado.
Além disso, vemos também nos bancos tradicionais esforços para criação de braços digitais de forma orgânica. O “iti”, do Itaú (ITUB4), e o “Next”, do Bradesco (BBDC4), são exemplos de iniciativas que vêm ganhando importância dentro dos “bancões”.
O Itaú, por exemplo, tem planos ambiciosos para o “iti”, que nasceu em 2019 como um aplicativo de pagamentos, mas que cada vez mais toma a forma de um banco digital. A meta é de captar 1 milhão de clientes por mês, chegando a 15 milhões de cliente até o final do ano.
Além disso, o poder de relacionamento com clientes é um importante diferencial dos grandes bancos, que mesmo com a aceleração dos processos de digitalização do setor bancário, ainda devem manter parte de suas agências físicas.
Entretanto, apesar dessa disputa, não resta a menor dúvida que o grande vencedor será o cliente final, que deve usufruir de uma oferta cada vez mais maior de produtos e serviços, fruto de um mercado financeiro mais robusto e menos oligopolizado.