Eleições 2022

Pedro Serra: Ano eleitoral – o que esperar e como investir

11 mar 2022, 18:12 - atualizado em 11 mar 2022, 18:12
Eleições
Como eleições vão mexer com os seus investimentos e suas ações? (Imagem: EBC)

É do conhecimento de todos que momentos de grandes decisões, que costumam envolver grandes mudanças, costumam estressar os mercados, em especial, aqueles períodos que são mais difíceis de serem previstos.

As eleições, em especial no nosso País, são sempre um desses momentos que enchem o mercado de incertezas, causando algumas instabilidades. Levando isso em consideração, o que esperar das eleições presidenciais deste ano?

Antes de iniciar a avaliação das eleições de 2022, vale traçar um panorama sobre os processos eleitorais passados e seus impactos no mercado.

Começando por 2002, quando a liderança de Lula trouxe um desconforto ao mercado, devido à desconfiança dos investidores em relação ao candidato da esquerda, apesar de seu aceno de paz ao mercado contida na “carta aos brasileiros”. 

Já nas eleições de 2006 e 2010, o cenário estava mais consolidado, com uma vantagem de 60% de Lula em relação a Geraldo Alckmin e 56% de Dilma em relação a Serra, neste caso, não havia previsão de mudanças bruscas na condução da política econômica, acalmando assim os ânimos dos mercados.

 As eleições de 2014 já foram mais acirradas e polarizadas, com um desejo social forte por uma mudança de rumos econômicos e políticos.

Além disso, o acidente aéreo do candidato Eduardo Campos e a entrada abrupta de Marina Silva na disputa, estimulou a volatilidade dos mercados.

Esse sentimento de polarização e acirramento se expandiu em 2018, porém o mercado carregava um “bom humor” pós impeachment, e o índice Ibovespa apresentou uma volatilidade dentro da média no período.

O que esperar de 2022?

 Antes de mais nada, vale ressaltar que as pesquisas eleitorais realizadas até aqui possuem pouco valor estatístico e não devem ser consideradas como forma de antecipação de resultado. Em outras palavras, muita água ainda vai rolar. 

Tendo como parâmetro as eleições observadas e, adicionando o ambiente polarizado que vivemos atualmente, o Brasil não deve  ter uma disputa eleitoral relativamente tranquila, do ponto de vista das expectativas de mercado, como observado em 2006 e 2010.

Naquele momento o resultado das eleições não representava, para as expectativas da época, um cenário binário e com diferenças extremas.

Havia sim uma disputa entre situação e oposição, mas em 2006 os candidatos eram conhecidos e não havia propostas com grandes rupturas, já em 2010, a então candidata Dilma Rousseff, gozava de uma boa reputação herdada e percebida por parte relevante da população, e sua proposta carregava contornos de continuidade.

As eleições de 2002, 2014 e 2018, carregavam cenários binários com uma ruptura elevada, para  bem ou para o mal, dependendo do resultado final das eleições. Nesses casos, os mercados tiveram, obviamente, uma elevada volatilidade durante a corrida eleitoral.

“Recentemente, o conteúdo de algumas entrevistas divulgadas pelos jornais, mostra que parte do mercado acredita, em um Lula mais ao centro”, escreve (Imagem: REUTERS/Edgard Garrido)

Em 2002, as circunstâncias observadas possuíam características muito distintas da de hoje, uma vez que Lula nunca tinha estado no poder anteriormente e os mercados tinham uma percepção muito negativa do candidato, o que trouxe uma volatilidade significativamente elevada.

Recentemente, o conteúdo de algumas entrevistas divulgadas pelos jornais, mostra que parte do mercado acredita, em um Lula mais ao centro.

Independentemente de concordar ou não com esta afirmação, só o fato de haver  gestores pensando nessa possibilidade, indica que uma eventual pesquisa mostrando um crescimento de Lula nas intenções de voto, possa estressar os mercados, porém em menor medida se comparado a 2002 quando a visão sobre Lula era mais radical.

Em 2018, mesmo com uma disputa eleitoral acirrada, o mercado vinha de uma euforia pós impeachment com promessas de um governo reformista, e uma eventual vitória de Bolsonaro, representava a continuidade e um governo menos intervencionista.

Esse bom humor que existia na época, que foi abalado durante as eleições, mas restabelecido com Bolsonaro ficando em primeiro lugar no 1° turno, a volatilidade se manteve em linha com a média histórica. 

Acredito, também, que o mercado não carrega o mesmo “bom humor” de 2018, e temos elementos suficientes para esperar uma eleição bastante disputada, inclusive com possibilidades do surgimento de uma terceira via, o que nos leva a acreditar que as eleições de 2022 possa ter características, do ponto de vista da volatilidade, semelhantes às de 2014.

Em resumo, esperamos uma elevação da volatilidade até próximo à metade deste ano, quando teremos uma elevação no fluxo de notícias, o início das campanhas, debates, pesquisas se tornando mais frequentes e, posteriormente, com mais peso estatístico.

Além disso, soma-se à questão eleitoral os eventos externos, como a guerra na Ucrânia, a retirada dos estímulos e a elevação dos juros na Europa e Estados Unidos.

Levando em conta este cenário, fica aqui uma dica para quem quer investir bem nesse ano de eleição: a história nos mostra que os resultados de empresas estatais se tornam extremamente voláteis em anos eleitorais, especialmente em cenários polarizado, sendo que este cenário pode se tornar ainda mais frágil dependendo do vencedor e de sua linha de condução econômica. Sendo assim, 

A história nos mostra que as empresas estatais nos anos de eleições que apresentam um cenário binário se tornam extremamente voláteis, dependendo do candidato vencedor e de sua linha de condução econômica.

Sendo assim, o retorno esperado nas Estatais ainda não vale o risco implícito e o investidor deve dar preferência a nomes privados.

Além disso, empresas que possuem uma dinâmica mais própria de crescimento e com histórico comprovado, podem ser boas escolhas até ser possível criar cenários com base nos candidatos que poderão governar o País nos próximos quatro anos.