Pedidos de recuperação judicial sobem 40% na região de Nova York
A pandemia atingiu empresas da cidade de Nova York com quase 6 mil fechamentos, aumento de cerca de 40% dos pedidos de recuperação judicial na região e lojas com portas fechadas nos bairros comerciais dos cinco distritos.
A situação tende a piorar. Neste quarto trimestre, a maior cidade dos Estados Unidos verá mais portas trancadas, pois empresas devem esgotar os empréstimos federais e privados recebidos em março e proprietários cancelarão contratos de comércios que não conseguem pagar o aluguel. Além disso, a queda das temperaturas tende a diminuir refeições ao ar livre em restaurantes e o movimento nas lojas.
“No final do outono, haverá uma avalanche de falências”, disse Al Togut, advogado que trabalhou em processos de insolvência para pequenas empresas e grandes corporações como a Enron. “Quando o frio chegar, começaremos a ver um aumento das falências na cidade de Nova York.”
A cidade de Nova York e suas empresas chegaram a um ponto crucial. Depois de mais de seis meses com o espectro da Covid-19 pairando em cada vagão do metrô e lojas de esquina, o vírus dá sinais de ressurgimento.
No sábado, o estado de Nova York registrou mais de 1.000 novos casos pela primeira vez desde o início de junho. Focos surgiram nos bairros do sul do Brooklyn e Queens em grandes comunidades judaicas ortodoxas, justo quando observavam o Yom Kippur.
Enquanto isso, diretores apelaram ao estado para assumir o controle das escolas, dias antes de reiniciarem as aulas presenciais. Segundo eles, o prefeito Bill de Blasio não conseguiu garantir funcionários suficientes para uma reabertura segura.
A redução da receita tributária já provocou cortes dos serviços municipais. Com lixo nas calçadas, parques mal conservados e aumento dos tiroteios, fica mais difícil persuadir trabalhadores a voltar aos escritórios, disseram mais de 150 executivos ao prefeito em carta neste mês. A ausência de trabalhadores de escritórios é um golpe de misericórdia para muitos comerciantes.
A pandemia pode fechar permanentemente até 30% das 230 mil empresas de Nova York, de acordo com a associação empresarial Partnership for New York City.
Os pedidos de recuperação judicial na região dispararam desde meados de março, quando o estado de Nova York registrou as primeiras mortes de Covid-19 e o governador Andrew Cuomo fechou todas as empresas não essenciais.
Foram registrados 610 processos nos distritos do sul e leste de Nova York de 16 de março a 27 de setembro, de acordo com documentos judiciais. O número representa um salto de 40% em relação ao mesmo período de 2019 e, de longe, é o maior de qualquer ano desde a crise financeira. Os distritos incluem alguns condados próximos.
A capital de negócios dos EUA sempre se recuperou de crises anteriores, mas o advento do trabalho em casa em uma economia cada vez mais dependente de empregos de colarinho branco pode ser um desafio intransponível.
O proprietário do Jimmy’s Steak and Grill, um carrinho de comida na esquina da Madison com a 60th Street, disse que, com os prédios de escritórios próximos vazios, as vendas de cachorros-quentes e pratos de cordeiro com arroz caíram 60%.
Jimmy González, apontando tristemente para a calçada vazia, disse que mais da metade dos donos de carrinhos de comida que ele conhece desistiram. “Eles vendem o carrinho, vendem a licença, vendem tudo.”
No final de setembro, apenas 15% dos 1,2 milhão de funcionários de escritórios da cidade haviam retornado, de acordo com a Partnership for New York City.