PEC desidratada ainda deve impedir corte da Selic, diz Kawall
A PEC da transição ainda terá efeito fiscal negativo e adiará o ciclo de corte de juros mesmo se for desidratada para um valor em torno de R$ 150 bilhões durante a tramitação no Congresso, diz o ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall, em entrevista.
Para ele, uma redução do valor e do prazo dos gastos fora do teto para ampliar o Bolsa Família trariam alívio apenas parcial. Pela proposta original, estima-se que cerca de R$ 200 bilhões ficariam acima do teto em 2023 e a permissão continuaria por quatro anos.
Mesmo um plano intermediário, com ao menos R$ 150 bilhões de espaço no Orçamento e a redução do prazo para dois anos, como admitem lideranças ligadas ao novo governo, elevaria o endividamento do país, atualmente já acima de 70% do PIB, afirma Kawall.
Com a piora fiscal, o Banco Central terá de manter os juros elevados por mais tempo, diz o economista — que deixou a ASA Investments em fevereiro e lançou com sócios a gestora de fortunas Oriz Partners, em outubro.
Ele afirma que um waiver de dois anos ainda representaria gastos muito além do teto até 2024, que é justamente o horizonte atual da meta de inflação.
“Não faz sentido colocar mais dinheiro na economia quando o mercado de trabalho já está apertado”, afirma. “Isso seria jogar gasolina no fogo, tornaria mais difícil a inflação convergir para a meta.”
Curva elimina apostas em corte e vê Selic a 14,50% com PEC
Desde o anúncio da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para a PEC que tornará possível cumprir a promessa de elevar o Bolsa Família para R$ 600,00, o mercado passou a precificar alta de juros, numa mudança expressiva do cenário antes da eleição.
Até então, havia uma queda de cerca de 1 ponto percentual embutida na curva de juros, que foi revertida para uma alta de 0,50 pp em 2023.
“A torcida é para que o Congresso coloque um limite. Não dá para entender uma proposta que permite ao governo gastar R$ 800 bilhões em quatro anos”, disse Kawall.