PCC monitorou local de votação de Moro e atentado era iminente, diz Polícia Federal
Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) fizeram um monitoramento dos passos do ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça Sergio Moro no ano passado, inclusive vigiando o local de votação dele e com coleta de dados pessoais e de familiares, e um atentado para sequestrar e matar o atual senador pelo Paraná era iminente, disse a Polícia Federal em pedido de prisão enviado à Justiça.
Essas informações, que constam de documentos do caso vistos pela Reuters, justificaram as ordens de prisão e de busca e apreensão contra integrantes da facção criminosa cumpridas na quarta-feira pela PF no curso da operação Sequaz.
Houve conversas e ações para planejar ataques a Moro no dia da eleição em outubro do ano passado e também depois, com ele já eleito senador.
Em um print de uma conversa por aplicativo, conforme a decisão judicial de prisão preventiva, consta um “relato detalhado de um reconhecimento de local que seria usado para votação na eleição de 2022” por Sergio Moro, identificado com Clube Duque de Caxias. Foram feitos, por exemplo, “descrição de acessos, câmeras existentes no local, segurança e rota de acesso”.
Durante sua gestão como ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro, Moro foi responsável por fazer a transferência para um presídio federal de segurança máxima de diversas lideranças da facção, inclusive do chefe do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Em uma espécie de retaliação, o plano para matar Moro, segundo a PF, estava sendo arquitetado ao menos desde o ano passado e estava próximo de ser executado no mês passado.
“Corroborando a iminência do plano, o principal investigado (…) e sua companheira (…) realizaram mudança de residência no início do mês de fevereiro, buscando cadastrar todos os dados em nome de terceiros, notoriamente para tentarem ficar invisíveis quando do cometimento dos gravíssimos delitos”, descreveu a PF.
Investigações da PF feitas encontraram planilhas de gastos para a ação, avaliações para a compra de um veículo blindado para cometer o atentado, manuscritos com dados pessoais de Moro como endereços dele e informações de familiares, inclusive o email da filha dele.
A juíza federal Gabriela Hardt, que substituiu Moro à frente da Lava Jato no Paraná, determinou uma série de ações como prisões, quebras de sigilo e outras medidas restritivas após avaliar a gravidade do caso.
“A participação em organização criminosa visando o sequestro de um senador da República, determinado com o único propósito de acuar o Estado, já demonstra o risco que os investigados representam para a sociedade”, disse a magistrada, na decisão.
O caso envolvendo Moro tem causado forte repercussão no mundo político. Nesta quinta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse achar que a revelação de planos da facção para atacar Moro e outras autoridades sejam, na verdade, uma “armação” do parlamentar, que antes de entrar na política foi juiz de processos contra o petista no âmbito da operação Lava Jato.
Após as declarações do presidente, Moro negou se tratar de uma armação e cobrou uma retratação, especialmente irritado com sorriso dado por Lula antes de responder à imprensa o que achava da operação da PF.
Moro foi quem condenou Lula em um dos processos que levaram o petista à condenação e à prisão por 580 dias, o que posteriormente impediu ele de concorrer em 2018 ao Palácio do Planalto.
Na quarta-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, rejeitou que uma declaração de Lula em entrevista à TV 247 na terça-feira, em que disse que pensava em se vingar de Moro durante o período em que esteve preso por ordem do então juiz, possa ter qualquer relação com o caso agora investigado pela PF, e disse ser leviano fazer qualquer associação política com a situação.