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Pazuello negociou CoronaVac com intermediários por 3 vezes o preço do Butantan, diz Folha

16 jul 2021, 19:07 - atualizado em 16 jul 2021, 19:07
Pazuello
No vídeo, no entanto, não são mencionados valores, tampouco é possível aferir a data da reunião (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Apesar de ter declarado que não cabe a um ministro negociar com empresas, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello teria negociado com um grupo de intermediários, segundo o jornal Folha de S.Paulo, a compra de 30 milhões de doses da vacina chinesa CoronaVac por quase três vezes o preço oferecido pelo instituto Butantan, que produz o mesmo imunizante no Brasil com insumos chineses.

Em vídeo divulgado nesta sexta-feira, Pazuello comemora com um grupo de empresários um acerto prévio para o contrato de aquisição das vacinas contra Covid-19 do laboratório chinês Sinovac, em um encontro fora da agenda que teria ocorrido em 11 de março.

No vídeo, no entanto, não são mencionados valores, tampouco é possível aferir a data da reunião.

O jornal teve acesso à minuta de um contrato entre o ministério e uma empresa de comércio exterior de Santa Catarina, a World Brands, especializada em importação de vários produtos, inclusive, de acordo com o site, itens médicos.

A proposta, segundo a Folha, previa que o preço de cada dose da CoronaVac vendida através da empresa custaria ao governo 28 dólares. No início do ano, o governo havia fechado o contrato da compra de 100 milhões de doses da mesma vacina, produzida no Butantan, por 10 dólares cada.

No vídeo gravado por Pazuello logo após o encontro, o então ministro aparece com quatro homens não identificados, um deles oriental, e comemora o acerto para compra das vacinas.

Pazuello afirma que recebeu uma comitiva liderada pelo empresário de aparência oriental, a quem chama de John, e que o encontro foi para tratar da possibilidade da compra de “30 milhões de doses, em uma compra direta com o governo chinês”, e que a conversa teria aberto a possibilidade de “novos laboratórios, novas doses”.

“Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento já assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender a nossa população”, disse Pazuello no vídeo.

O ministério não chegou a assinar qualquer contrato com a World Brands.

Em nota, a pasta informou que a atual gestão, sob comando do ministro Marcelo Queiroga, não tem conhecimento de memorando de entendimento para aquisição de doses da CoronaVac.

“Caixa de Pandora”

Alguns dias depois da reunião gravada, no dia 15 de março, a saída de Pazuello do cargo foi anunciada e o general deixou efetivamente o ministério no dia 24 do mesmo mês. A Reuters tentou contato com Pazuello, mas não obteve resposta.

A empresa World Brands também foi procurada e informou que não tem ainda um posicionamento, que poderia ser enviado mais tarde.

Em depoimento à CPI da Pandemia no dia 20 de maio, Pazuello fez questão de dizer que não negociava diretamente vacinas, o que era feito por seus subordinados.

“Pela simples razão de que eu sou o dirigente máximo, eu sou o ‘decisor’, eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro”, disse Pazuello na CPI, respondendo ao relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

A revelação já caiu nas mãos dos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito. “A CPI da Pandemia abriu a caixa de Pandora! Estão emergindo todos os esquemas do governo federal na compra de vacinas. Os brasileiros e brasileiras que morreram, não foram vitimadas apenas pela Covid-19”, escreveu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, em suas redes sociais.

O governador de São Paulo, João Doria, que negociou com o Butantan a vinda da CoronaVac ao Brasil, atacou o governo federal em sua conta no Twitter.

“Enquanto trabalhávamos para viabilizar a Coronavac de forma segura e com preço justo para os brasileiros, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em nome do governo Bolsonaro, negava a vacina e superfaturava seu preço nos bastidores. Uma vergonha nacional”, escreveu.

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