Pazuello diz que intervenção na saúde do Amazonas foi rejeitada por governador
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello afirmou nesta quinta-feira à CPI da Covid no Senado que um pedido de intervenção federal na saúde pública do Amazonas durante a grave crise provocada pela Covid-19 no início do ano foi levado a uma reunião do presidente Jair Bolsonaro com ministros, quando decidiu-se pela não intervenção.
Segundo o ministro, o governador do Amazonas, Wilson Lima, era contrário à intervenção por considerar que o governo estadual do Amazonas tinha condições de enfrentar a pandemia sem a necessidade de intervenção federal.
“Essa decisão não era minha… Foi levado à reunião de ministros com o presidente, e o governador, presente, se explicou, apresentou suas observações. E foi decidido pela não intervenção. Foi dessa forma que aconteceu”, disse o ex-titular da Saúde, em resposta ao senador Eduardo Braga (MDB-AM), que chegou a encaminhar carta a Bolsonaro pedindo a intervenção no Estado.
A crise em Manaus, cidade que foi duramente atingida por uma explosão de casos de Covid no início do ano que gerou uma escassez de oxigênio em hospitais, é um dos principais temas da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pelo Senado.
Pazuello conferiu a responsabilidade pela escassez de oxigênio na capital do Amazonas à empresa White Martins, por não ter comunicado as autoridades das baixas em seus estoques, e à Secretaria de Saúde do Estado, que não teria acompanhado o assunto de perto, de acordo com o ex-ministro.
“Vejo aí duas responsabilidades muito claras: uma começa na empresa que consome a sua reserva estratégica e não se posiciona de uma forma clara, e a outra, da Secretaria de Saúde”, disse.
“No momento que a secretaria deixa de acompanhar o processo e se antecipar ao processo, a responsabilidade quanto a isso é clara no sistema: é da Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas, ponto.”
O ex-ministro voltou à CPI nesta quinta-feira pelo segundo dia seguido para prestar depoimento. Na véspera, ele foi acusado de mentir sobre questões como compra de vacinas e a crise de falta de oxigênio em Manaus.
O ex-ministro iniciou o segundo dia de depoimentos dizendo que seu respeito à verdade está muito além da CPI. Argumentou, ainda, que versões inseridas nas perguntas dirigidas a ele na comissão divergem das que ele apresenta.
Ministro que mais tempo permaneceu à frente da Saúde durante a pandemia, Pazuello fez questão de lembrar, quando falava de seu compromisso com a verdade, que é general do Exército.
“Então, eu solicitaria, de forma muito, muito, muito humilde aos senhores, que a gente lembrasse que os compromissos de dizer a verdade e o respeito que eu tenho por esse compromisso… ele está muito além da Comissão Parlamentar de Inquérito. Eu sou um oficial General”, disse.
Pazuello argumentou ainda que o TrateCov, aplicativo anunciado pelo então ministro em Manaus em 14 de janeiro, tratava-se inicialmente de uma tentativa de auxiliar os médicos e agilizar os diagnósticos de Covid-19. Segundo ele, a plataforma foi lançada sem estar concluída e só esteve disponível na internet a partir de um “roubo” de um hacker.
“Ele foi hackeado, puxado por um cidadão. Existe um boletim de ocorrência, uma investigação que chega nessa pessoa. Ele foi descoberto. Ele pegou esse diagnóstico, botou, alterou, com dados lá dentro, e colocou na rede pública. Quem colocou foi ele; tem todo o boletim de ocorrência. Eu vou disponibilizar para os senhores”, garantiu o ex-mininstro.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), argumentou que o aplicativo chegou a ser veiculado na TV Brasil. O relator Renan Calheiros (MDB-AL), por sua vez, lembrou que a retirada do ar não exime o fato de a plataforma ter sido propagandeada.
“Olha só, esse programa que o ministro Pazuello fala que foi hackeado, ele foi hackeado e colocado na TV Brasil, para vocês terem uma ideia. Na TV Brasil! O hacker é tão bom que ele conseguiu colocar o programa, uma matéria extensa na TV Brasil”, disse Aziz.
O aplicativo indicava o uso de medicamentos como cloroquina, ivermectina e azitromicina, que não têm eficiência comprovada contra a doença e que podem provocar efeitos colaterais graves.