Economia

Selic a 14,25%: Economistas já veem ‘luz no fim do túnel’ para aperto monetário

19 mar 2025, 20:57 - atualizado em 19 mar 2025, 21:03
selic banco central
Na visão da Ativa, o maior destaque fica por conta da flexibilização do guidance de política monetária (Imagem: Agência Brasil)

O Banco Central cumpriu o que prometeu e elevou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, a 14,25%. A dúvida era se a autoridade monetária iria fornecer um novo guidance (projeção).

No comunicado, o BC deixa espaço para mais uma alta, mas em menor magnitude, o que fez economistas projetarem uma elevação de pelo menos mais 0,5 ponto percentual, o que levaria os juros a 14,75%.

Com a decisão desta quarta, os juros básicos vão ao maior nível em mais de oito anos, após cinco altas consecutivas da taxa.

A Selic esteve em 14,25% pela última vez em 2016, quando permaneceu nesse patamar até outubro em meio a uma crise econômica e ao processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

Mais brando?

Ao avaliar que agora a “bola” do Copom estará com Gabriel Galípolo, já que a reunião de maio será a primeira sem as amarras de um “guidance” definido antes que ele assumisse a presidência do BC, Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, disse esperar um Copom mais brando à frente.

Um dos motivos de alívio é a queda do câmbio, com uma moeda mais estabilizada abaixo de R$ 5,8. Nesta quarta, o dólar fechou em queda de 0,42% — no menor nível desde 14 de outubro, quando a moeda terminou o dia a R$ 5,5827.

“O fator câmbio vem ajudando bastante dado a apreciação do real frente ao dólar nas últimas semanas”, diz Moreira.

Para ele, a R$ 5,8, os juros talvez possam parar nos 15%, diferente do cenário desenhado com um câmbio consistentemente acima de R$ 6,20, que seria necessário uma Selic acima de 15% para tentar reancorar as expectativas de inflação.

Na visão da Ativa, o maior destaque fica por conta da flexibilização do guidance de política monetária.

“A justificativa incluída pela autoridade dá um aspecto bastante dovish (branda) à perspectiva sobre a Selic, visto que o enfraquecimento da atividade foi classificado como incipiente, e o BC alegou que a desaceleração da alta se dará por conta das incertezas e das defasagens do aperto monetário”.

Com isso, a casa espera que o BC irá subir o juro na próxima reunião em 50bps e, por fim, conduzirá a taxa a 15%, encerrando o ciclo com uma alta residual de 25bps.

“O BC alegará que adotará a estratégia de esperar para ver, prevendo que os juros permanecerão elevados por tempo suficientemente prolongado até que haja a convergência da inflação para a meta”.

Já o Bmg diz que o comunicado reforça que a alta será de mais de 50bps e fim de papo, com o último movimento deste ciclo de alta de juros.

“O ponto de dúvida dessa decisão estava muito mais concentrado na comunicação para os próximos encontros, confirmando nossas expectativas”.

Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, diz que para as próximas reuniões, espera novas altas, sem dúvidas, mas altas menores, principalmente se os preços começarem a se acomodar.

“Eu trabalho com uma possibilidade de um aumento de 0,5%. E acho que o tom ali ficou mais ou menos nisso. Quando eles falam de dinamismo nos preços, eu vejo isso como o início de uma correção inflacionária aqui.”.

Adriana Dupita, vice-economista chefe da Bloomberg Economics, afirma, porém, que sinalização de uma menor alta na reunião de maio pode soar prematura para parte do mercado, considerando que antes da próxima reunião há pelo menos dois eventos importantes que podem influenciar no ritmo adequado de alta.

“Nas próximas semanas, haverá o envio da LDO 2026 em 15 de abril – importante para sinalizar o compromisso com a estabilização da dívida – e as novas rodadas da guerra comercial liderada por Donald Trump. Por ora, vemos uma nova alta de 50bps na reunião de maio, com a possibilidade de uma alta adicional na reunião de junho”.

BC reduz proejção de inflação

Desde a última reunião do Copom, as expectativas de mercado para os preços à frente seguiram desancoradas, fator tratado com preocupação pela autarquia, com a previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus passando de 5,50% antes do Copom de janeiro para 5,66% nesta semana.

Para 2026, foco do horizonte relevante de atuação do BC, as expectativas passaram de 4,22% para 4,48%.

O BC, no entanto, melhorou ligeiramente nesta quarta suas projeções de inflação em relação a janeiro, com estimativas passando de 5,2% para 5,1% em 2025, considerando o cenário de referência, que segue projeções de mercado para os juros. Para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante, a projeção passou de 4,0% para 3,9%.

Para fazer as projeções do cenário de referência divulgadas nesta quarta, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de R$ 5,80, abaixo dos R$ 6,00 reais usados na reunião de janeiro.

O centro da meta contínua para a inflação neste e nos próximos anos é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Mais cedo nesta quarta-feira, o banco central dos Estados Unidos manteve a taxa básica de juros inalterada na faixa de 4,25% a 4,50%, com suas autoridades indicando que ainda preveem uma redução de 0,50 ponto da taxa até o final do ano, embora citem maiores incertezas.

Em meio ao processo de alta em tarifas de importação pelo governo Donald Trump nos Estados Unidos e dúvidas sobre os próximos passos da guerra comercial e seus impactos, o BC afirmou no comunicado que o ambiente externo permanece desafiador, citando incerteza acerca da política comercial dos EUA.

Com Reuters

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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