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Paulo Deitos: Sequência de altas da taxa de juros no Brasil não afeta investimentos em startups

05 abr 2022, 12:37 - atualizado em 05 abr 2022, 12:37
Startup negras negros
Essas mudanças na SELIC afetam fortemente aqueles que olham a curto prazo, o que não é o caso de um investidor em startup (Imagem: Pixabay)

Este ano promete ser cheio de imprevisibilidades para o mercado de investimentos. O constante aumento da taxa de juros não interferirá no mercado de investimentos em startups, muito menos no modelo de negócio das plataformas de ofertas públicas, que em 2021 registraram um crescimento de 224% ante 2020. Os dados são do Relatório de Evolução nos Investimentos em Startups via Plataformas 2020/2021 elaborado pela CapTable.

Diferente do mercado financeiro tradicional, onde há pressa na compra e venda de ações, o mercado de investimentos em startups requer um processo de longo prazo. A atual taxa de juros, na casa dos 10,75% – que pode aumentar até o final do ano conforme apontam especialistas – não muda a dinâmica atual do mercado. 

Essas mudanças na SELIC afetam fortemente aqueles que olham a curto prazo, o que não é o caso de um investidor em inovação digital. Afinal, os juros não serão de 2% ou 12% por dez anos. O mercado de investimentos em startups requer paciência para alcançar retorno de dez, vinte e até mais de cinquenta vezes do valor investido. 

Isso ocorre porque os investimentos em startups, apesar de terem grande potencial de retorno, possuem dinâmicas bem diferentes de outros investimentos de rendas variáveis como criptoativos e bolsa de valores. O investidor precisa ser muito paciente, pois o retorno pode vir em um tempo médio de cinco a dez anos.

Claro que há exceções neste mercado. O investidor pode ter retorno em um prazo menor caso a startup em que investiu seja adquirida por outra companhia dentro do processo que chamamos de exit. Um exemplo é o banco digital Alter que foi adquirido pelo Méliuz apenas oito meses depois de passar por captação em plataforma de investimento. Quem aportou naquela rodada teve um retorno de 73%. 

Com isso, podemos concluir que as startups têm um processo de maturação diferente das demais empresas tradicionais. Só para dar uma ideia: um empreendimento digital passa por diversos processos antes de dar um retorno ao investidor. 

Essas etapas podem envolver investimento anjo, aceleradora, seed, séries A, B… até chegar ao exit ou se tornar uma S/A, onde o investidor tem a opção de receber de volta seu capital corrigido ou converter o investimento em ações da startup. 

Sim, caros investidores em startups, assim como vocês, eu também faço parte dessa comunidade que aporta recursos em inovação e sei muito bem o que passa na cabeça tanto de quem investe quanto dos que têm alguma objeção em começar a investir. 

A regra do jogo é manter a calma e visualizar seu retorno a longo prazo. Por isso, os juros de hoje não afetam seus investimentos na área. Alguns deles podem realmente não dar certo. Afinal, nem todas as startups crescerão ao ponto de fazer um IPO ou ser adquirida por outra empresa.

No entanto, outras entregarão um crescimento exponencial e multiplicarão várias vezes o capital investido que compensarão (e muito!) aqueles investimentos que não foram adiante. 

Por isso, a estratégia é construir um portfólio de participações. Isto é, espalhar o capital em várias startups. Por trás da trajetória de sucesso de uma startup há muito trabalho, tentativas, erros, acertos e aprendizados. 

E quem sabe, alguma dessas apostas não seja justamente em um próximo unicórnio que trará um retorno muito superior a qualquer outro tipo de aplicação, independente do humor do mercado, do ciclo econômico ou das taxas de juros. 

*Paulo Deitos é cofundador da CapTable – maior hub de investimentos em startups do Brasil – e da CapRate – plataforma P2P Lending do ramo imobiliário e a primeira do segmento a atuar como Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP) autorizada e regulamentada pelo Banco Central (BC) no país. Formado em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é professor do MBA Fintech na Universidade Católica da Argentina (UCA) e de Gestão Imobiliária da Faculdade Insted, em Campo Grande. Foi diretor da ABFintechs e da Alianza Fintech Iberoamericana no México.