Pau para toda obra: cadeia da mandioca é imensurável em utilização e em números
Se tem uma cadeia produtiva do agro que não é badalada, mas tem um peso enorme em capilaridade econômica, essa é a da mandioca. É também a cara do Brasil.
Pau para toda obra, da raiz se sabe muito do lado visível do seu uso, no alimento frito ou cozido e na farinha, além da tapioca que o Nordeste exportou para o Brasil inteiro.
O lado “escondido”, é o bilionário segmento da fécula, ou amido, que está presente em muitos produtos que pouca gente imagina, da panificação aos embutidos, do pão de queijo ao papel, da cerveja aos tecidos, e por aí vai.
E ainda avançando para amidos modificados, especialidades que vão dar liga a uma série de outros itens.
Além da pandemia, que fez o setor ganhar mais mercados com o “fique em casa”, 2021 também marca a “estreia” de outro subproduto, acrescentado ao cardápio comercial da mandioca.
A parte aérea das plantas – as folhagens e ramas – com alto teor de proteína, virou comida de animais. Na verdade, não é novidade, mas como os pecuaristas, principalmente, não sofriam com a oferta de outras silagens e rações, os mandioqueiros descartavam.
Agora, virou negócio, com os custos dos principais insumos das rações, como o milho. “E a gente está percebendo que agora veio para ficar, porque os criadores vão acabar incorporando definitivamente outras opções à dieta dos animais”, diz o produtor de fécula e presidente do Sindicato Rural de Paranavaí, Ivo Pierin. A situação lembra o mesmo caso do trigo.
Num raio de 300 kms dessa cidade do Noroeste do Paraná está o maior polo produtivo nacional, como o estado também domina a produção nacional.
Em números
Mensurar esse mercado, na ponta do lápis, é que são elas. Dadas as características da produção da raiz e da farinha, conduzidas praticamente no Brasil inteiro, e participação maciça de micro produtores e pequenas empresas, quando não de fundo de quintal, Pierin apanha para fazer algumas contas.
Aliás, todas as fontes. A Conab fala entre 19 a 20 milhões de toneladas de mandioca em 2020, mas a margem de erro está bem presente, como também os dados do Cepea, que contabilizou 538,8 mil/t de amido, com faturamento de R$ 1,2 bilhão.
O Paraná tem 70% daquilo e a região de Paranavaí 90% disso.
Farinha esquece. Um “chute” mais antigo, que o experiente Pierin dá, é de 1,5 milhão/t.
Em relação ao ganho na porteira, a receita gerada pelos produtores, o índice mais aceito, para 2020, é de R$ 1,5 bilhão, aqui também se considerando os endereços mais visíveis para as pesquisas.
Neste final de ano, entressafra, o preço da mandioca subiu para R$ 600 a tonelada, saindo dos R$ 500, com a menor oferta reflexo das geadas e seca – apesar da fama confirmada de lavoura rústica que aceita baixos regimes hídricos e calor.
A partir da visão do setor paranaense, o presidente do Sindicato de Paranavaí e proprietário da Podium Alimentos está vendo um certo declínio para 2022 na oferta geral, em razão da competição por área que a soja ganhou, mas isso poderá melhorar os preços.
E esse avanço da soja, nos últimos anos, fez o Brasil perder o lugar de campeão da produção mundial. Estamos atrás da Nigéria e, principalmente, da Tailândia, cujas fecularias estão voltadas para o mercado chinês.
Onde o Brasil também quer tirar um pedaço, com exportações crescentes, diz o empresário paranaense, para quem, igualmente, o setor tende a ficar mais profissional com as novas exigências e o perfil dos agentes.
Este e outros temas serão discutidos durante o 18º Congresso Nacional da Mandioca, de 29 a 1º de novembro, desta vez virtual.