Patrimônio dos candidatos: pouco significa, mas significa algo
Por Caio Augusto, do Terraço Econômico
O tema central das últimas semanas são as eleições presidenciais. Comparativos com o pleito de 1989, extremismos ganhando espaço e insegurança com o futuro do país não faltam. Dentre todas as discussões, uma que de vez em quando é levantada como suposto mérito ou demérito: o patrimônio dos candidatos.
Não surpreendentemente, neste tópico também temos dualidade: enquanto alguns afirmam que os maiores patrimônios são frutos de roubo (porque seria impossível ficar milionário de outro jeito), outros apontam que os menores seriam fruto de extrema incapacidade, principalmente considerando aqueles que tiveram certa condição de fazer este acúmulo.
O maior patrimônio declarado dentre os candidatos a presidente é o de João Amoêdo, do Novo, enquanto o menor é o de Guilherme Boulos, do PSOL. Isso significa necessariamente que um é extremamente hábil e outro absolutamente inapto? Na verdade, não.
É preciso ter em mente o fato de que ter sido hábil em uma área, não indica que será óbvio ver um bom desempenho em todas – já escrevi sobre isso aqui no Terraço, levando em conta a ótica política de criação de heróis que o brasileiro médio tanto admira.
A capacidade de atuação na esfera pública, no fim das contas, é o que vai mais importar em relação ao potencial de um candidato em ser ou não um bom político na prática. E, é claro, a avaliação disso envolve uma complexidade de fatores muito maior do que simplesmente observar o patrimônio acumulado.
A comparação direta do patrimônio acumulado com a capacidade de atuação política é tão frágil quanto a analogia entre o orçamento doméstico e as contas públicas. Mas diante da mais notável fragilidade, pode ser encontrada uma mínima relação (que estimo ser o motivo pelo qual essa questão dos patrimônios dos candidatos render tantas manchetes). Neste caso, a relação é a de que aqueles que tiveram um patrimônio acumulado mostraram-se mais capazes de lidar com algum patrimônio (o deles).
Usar como argumento que seu candidato é o mais rico e portanto é o mais capaz – ou que é o que tem menor patrimônio e por isso seria o mais honesto – não parece ter qualquer relação com a capacidade dele de articulação política ou de ser, de fato, um bom governante. Mas não deixa de significar, pelo menos, que ele tenha alguma noção maior sobre o que é um orçamento – reforço aqui, nem que seja o dele.
Por isso, da próxima vez que se deparar com uma reportagem a respeito do patrimônio de um candidato – nestas eleições ou nas próximas -, pense no que realmente existe de relação entre isso e a vantagem ou desvantagem em se depositar seu voto nele.
Com altas chances, se este for seu único pré-requisito (não dá para duvidar que em um país de 147,3 milhões de eleitores pelo menos uma ínfima parte pense assim), provavelmente você estará fazendo uma escolha vazia.