Internacional

Partido Republicano agora é de Trump; críticos temem que sua busca pelo poder não seja controlada

18 jul 2024, 19:52 - atualizado em 18 jul 2024, 19:52
Se Trump for longe demais, dizem seus oponentes, eles ainda poderão contar com os tribunais federais para impedi-lo.   (REUTERS/Dustin Chambers)

Cinco dias depois de escapar por pouco de um assassinato, Donald Trump aceitará sua indicação como candidato presidencial nesta quinta-feira diante de uma multidão de apoiadores, o ato final de sua transformação do Partido Republicano no partido de Trump.

Seu encontro com a morte alimentou o crescente fervor quase religioso entre os integrantes do partido, elevando-o de líder político a um homem que eles acreditam ser protegido por Deus.

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“Trump, Trump, Trump”, gritaram os participantes da Convenção Nacional Republicana em Milwaukee quando ele aparecia todas as noites nesta semana, com um curativo na orelha direita, para ouvir orador após orador entoar reverências a seu respeito e mencionar a mão de Deus em sua sobrevivência do atentado.

Os republicanos estão se unindo em torno dele esta semana. Com a maior parte das dissidências superadas e seu controle sobre o partido nunca antes tão forte, Trump estará em uma posição muito mais sólida do que em seu mandato de 2017-2021 para dar continuidade à sua agenda se vencer a eleição de 5 de novembro.

Sem as divisões internas que às vezes o atrapalharam em seu primeiro mandato, Trump estaria mais livre para adotar políticas duras que incluem deportações em massa como parte de uma repressão à migração ilegal, políticas comerciais agressivas e demissão de funcionários do governo considerados pouco leais.

Mesmo que Trump retome a Casa Branca, os republicanos assumam o controle de ambas as Casas do Congresso e os conservadores continuem mantendo uma super maioria na Suprema Corte, ainda haverá controles institucionais para um segundo mandato de Trump.

Ele poderia ser mantido sob controle pelo Congresso, pelos tribunais e por um público que elege um novo Congresso a cada dois anos e um presidente a cada quatro anos, segundo especialistas em direito constitucional.

No entanto, muitos apoiadores de Trump querem ver um presidente poderoso.

“É preciso um líder forte no topo”, disse Bill Dowd, de 79 anos, dono de uma madeireira, convidado da delegação do Colorado em Milwaukee.

“Sou um grande fã de Ronald Reagan. Ronald Reagan também uniu o partido”, disse Dowd.

Dowd reconheceu que alguns de seus amigos republicanos temem que Trump possa tentar abusar de seu poder. Ele disse que, embora não compartilhe desse receio, acredita que a dissidência não deveria ser sufocada em nenhum partido.

Para os críticos e oponentes políticos de Trump, este é um momento sombrio e perturbador: eles veem o Partido Republicano moderno como um culto à personalidade, uma base a partir da qual Trump poderia adotar políticas extremas e criar a primeira Presidência verdadeiramente imperial dos Estados Unidos, ameaçando o futuro de suas normas democráticas.

“Donald Trump… prometeu ser um ‘ditador’ ‘no primeiro dia’ e agora seus juízes da Suprema Corte dizem que ele pode governar sem nenhum controle sobre seu poder”, disse Ammar Moussa, porta-voz da campanha do atual presidente norte-americano, Joe Biden, rival democrata de Trump.

“Trump é um mentiroso, mas acreditamos nele quando diz que governará como um ditador”, disse Moussa.

O porta-voz da campanha de Trump, Steven Cheung, disse que as afirmações dos democratas de que Trump ameaça a democracia norte-americana e que pode se tornar um autocrata se for reeleito são “propagação do medo” e um “esforço flagrante para enganar o povo americano”.

Um Trump sem restrições

Em Milwaukee, quase todos os 30 delegados, convidados e republicanos eleitos entrevistados pela Reuters para esta reportagem reconheceram que seu partido havia se tornado o partido de Trump, mas rejeitaram qualquer sugestão de que tivesse se tornado um tipo de culto.

“Acredito que o presidente Trump é uma figura transformadora, um homem do destino que Deus providencialmente salvou da morte no sábado”, disse o delegado da Louisiana Ed Tarpley. “Ele recebeu uma missão especial em nosso país. A mão providencial de Deus elevou Donald Trump a um status diferente.”

Os entrevistados disseram que queriam um presidente Trump que não fosse limitado pela burocracia ou pelo Congresso para executar sua agenda. Eles eram a favor de um uso mais amplo de decretos — decisões tomadas por um presidente que não precisam da aprovação do Congresso.

Eles não querem que nada impeça seus planos de deportar milhões de pessoas que estão no país ilegalmente e de reduzir o tamanho da burocracia federal. Em seu primeiro mandato, Trump reclamava com frequência dos burocratas do “Estado profundo” que, segundo ele, estavam tentando frustrá-lo.

“O presidente… deve ter permissão para implementar suas políticas livre de uma burocracia resistente a elas e de autoridades não eleitas que não concordam com elas”, disse Tarpley.

No entanto, há limites constitucionais para o que Trump pode fazer por meio do poder de seu cargo, e quaisquer políticas ainda podem enfrentar ações judiciais.

“Acho que os temores dos críticos são exagerados, no sentido de que eles estão mais preocupados com a substância de suas prováveis políticas do que com a possibilidade de que elas sejam adotadas por meio de decretos unilaterais”, disse Stewart Baker, ex-conselheiro geral da Agência de Segurança Nacional dos EUA.

Se Trump for longe demais, dizem seus oponentes, eles ainda poderão contar com os tribunais federais para impedi-lo.

“Estamos cientes do fato de que temos uma Suprema Corte muito conservadora. Mas o que descobrimos é que até mesmo juízes nomeados por Trump decidiram contra suas políticas e as consideraram ilegais”, disse Kica Matos, presidente do Centro Nacional de Direito da Imigração.

Metade dos republicanos que responderam a uma pesquisa da Reuters/Ipsos nesta semana disse concordar com a afirmação de que “o país está em crise e precisa de um presidente forte que possa governar sem muita interferência dos tribunais e do Congresso”.

Esse número foi substancialmente maior do que os 35% dos democratas e 33% dos independentes que concordaram com o sentimento.

Apenas um participante da convenção entrevistado pela Reuters, um republicano sênior de um Estado do sul, disse estar preocupado com um segundo governo Trump. Ele disse que temia que Trump se tornasse um autocrata, buscasse vingança contra seus inimigos políticos e enchesse os órgãos do governo de pessoas que só dissessem sim a ele.

Trump foi amplamente criticado por ter dito durante a campanha que, caso vencesse, seria um “ditador” — mesmo que apenas por um dia, um comentário que ele disse mais tarde ser uma piada.

Os democratas o criticaram duramente por prometer perdoar seus apoiadores presos pela insurreição mortal de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio dos EUA, que foi desencadeada por sua recusa em aceitar sua derrota nas eleições de 2020.

Trump, que foi condenado num caso de suborno a uma ex-estrela pornô e enfrenta acusações relacionadas a seus esforços para reverter a vitória de Biden, ameaçou usar o Departamento de Justiça para perseguir oponentes, incluindo Biden. Trump se declarou inocente das acusações.

O ex-candidato presidencial republicano Asa Hutchinson disse que estava preocupado com a falta de restrições a Trump em um segundo mandato.

“O Departamento de Justiça é provavelmente o exemplo perfeito disso. Claramente, um presidente Trump teria uma mão próxima na direção das atividades do Departamento de Justiça”, disse Hutchinson, ex-governador do Arkansas, à Reuters.

reuters@moneytimes.com.br
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