Política

Parlamentares entram em compasso de espera de olho nos impactos das ações de Bolsonaro

20 abr 2020, 20:12 - atualizado em 20 abr 2020, 20:12
Jair Bolsonaro
O ato de domingo provocou repercussão, mas Bolsonaro já havia subido o tom na última semana, quando abriu fogo direto contra o presidente da Câmara (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

As principais lideranças políticas do Congresso entraram em compasso de espera para avaliar as implicações da presença na véspera de Jair Bolsonaro em ato de viés antidemocrático e as declarações do presidente nesta segunda-feira na tentativa de amenizar os efeitos de sua participação no domingo.

Alvo preferencial dos recentes ataques de Bolsonaro e de seus defensores, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cancelou toda a agenda que tinha prevista para esta segunda-feira. Na mesma linha, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), cancelou sessão remota de votação da Casa.

O tom adotado foi o de cautela e a segunda-feira foi marcada pelo recolhimento, não apenas por conta do isolamento social imposto pela crise do coronavírus, mas para análise do cenário político.

O ato de domingo provocou repercussão, mas Bolsonaro já havia subido o tom na última semana, quando abriu fogo direto contra o presidente da Câmara, a quem acusou de conduzir o país ao “caos”. Também sugeriu que o deputado estaria agindo para tirá-lo da Presidência da República.

No domingo, ao discursar no ato, voltou à carga e afirmou que acabou a “época da patifaria” e do que costuma chamar de “velha política”. Também afirmou que não quer “negociar nada”.

Mas, nos bastidores, iniciou nas últimas semanas uma investida entre partidos do chamado centrão em um movimento para, na avaliação de uma fonte, isolar Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o próprio DEM.

De quebra, a estratégia já mira na sucessão do comando da Câmara, reduzindo a influência de Maia no processo, e serviu para tirar o foco de sua decisão de demitir o popular então ministro Luiz Henrique Mandetta da pasta da Saúde na última quinta-feira.

Outra implicação dessa iniciativa, lembra a fonte, tem o efeito de “vacinar” Bolsonaro contra eventual avanço de pedido de impeachment, já que a prerrogativa de dar andamento a requerimento do tipo é prerrogativa do presidente da Câmara.

Na avaliação de outra fonte, a aproximação de Bolsonaro a esses partidos aproveitou duas brechas abertas no flanco de Maia, que até então contava com considerável força política, calcada em boa parte no chamado centrão, e em outra frente, na oposição, com numerosa bancada na Casa.

Uma da brechas diz respeito justamente à instabilidade que já se desenha pela disputa da sucessão da presidência da Câmara. A segunda, diz a fonte, mira na fatia do centrão insatisfeita com Maia –há relatos de incômodo por parte de deputados e líderes com o fato de o presidente da Casa privilegiar um círculo muito restrito de conversas, preterindo alguns líderes.

O cenário se mostrou favorável a uma investida do presidente da República, que, embora brade contra o que chama de velha política, já lançou mão da antiga abordagem de oferecer cargos a partidos como o PP, PRB e o PL nas últimas semanas.

Essa fonte alerta, aliás, para as idas e vindas de Bolsonaro –seja em acordos já selados com o Congresso, como no caso de recursos para o fundo eleitoral, seja na relação com aliados, lembrando do tratamento dispensado a Gustavo Bebianno, que comandou o PSL na campanha vitoriosa do presidente, mas acabou se tornando a primeira baixa do governo ao ser demitido da Secretaria-Geral da Presidência após desentendimento com um filho de Bolsonaro.

O perfil traria, segundo essa avaliação, dúvidas quanto a confiabilidade para os tratos fechados com o presidente.

No domingo, Bolsonaro participou e discursou em ato que atacou instituições democráticas como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Manifestantes também defendiam um novo AI-5, ato institucional editado durante a ditadura que marcou o endurecimento do regime, e alguns deles pediam uma intervenção militar.

Apesar das faixas e gritos de ordem contra instituições democráticas entre os manifestantes domingo, nesta segunda, o presidente negou que a manifestação tivesse viés antidemocrático.

Falando com jornalistas e populares em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro repreendeu um apoiador que pediu o fechamento do Supremo e defendeu a democracia, embora tenha voltado a atacar a imprensa.