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Parlamentares analisam propostas e defendem necessidade urgente da reforma tributária

05 out 2020, 19:21 - atualizado em 05 out 2020, 19:21
Política Senado
As discussões ocorreram durante audiência pública virtual da comissão da reforma tributária (Imagem: Reprodução TV Senado)

A Comissão Mista da Reforma Tributária realizou nesta segunda-feira (5) uma audiência pública virtual, em que os debatedores analisaram as principais propostas de reforma tributária em tramitação no Senado e na Câmara e defenderam que o país precisa de mudanças urgentes.

A comissão mista tem como presidente o senador Roberto Rocha (PSDB-MA). O relator do grupo é o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e o vice-presidente é o deputado Hildo Rocha (MDB-MA).

O ex-deputado federal Luiz Carlos Hauly, autor intelectual da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 110/2019, que tramita no Senado, afirmou que o texto simplifica o sistema, além de adotar nota fiscal eletrônica para todo o país.

Essa PEC acaba com nove tributos e cria dois impostos, um sobre bens e serviços (IBS), nos moldes dos impostos sobre valor agregado cobrados em países desenvolvidos, e um imposto específico sobre alguns bens e serviços. O texto está em análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde é relatado pelo senador Roberto Rocha.

Essa PEC acaba com nove tributos e cria dois impostos, um sobre bens e serviços (IBS) (Imagem: Agência Brasil/Marcelo Casal Jr)

— O momento é histórico. Na história do Brasil, alguns momentos são fundamentais, e este é um deles. Propomos uma reforma fraterna e solidária para fazer com que os mais pobres possam ter melhores condições de vida no Brasil — disse Hauly.

Ele afirmou que o atual sistema tributário brasileiro acarreta baixo crescimento econômico, aumento das desigualdades sociais, quedas arrecadatórias e aumento constante das alíquotas dos impostos. Além disso, há sonegação, inadimplência, informalidade e renúncias fiscais, acrescentou.

— Estamos propondo a reengenharia tributária, tecnológica, fraterna e solidária, para quê? Para destravar a economia brasileira de uma vez por todas, fazendo com que as empresas trabalhem em regime de competitividade, transparência, isonomia, fazendo com que o emprego tenha salários dignos e condignos, aumentando o poder aquisitivo das famílias, fazendo o Brasil crescer — disse Hauly.

O ex-parlamentar afirmou que a reforma tributária que o Congresso vai aprovar não pode ocasionar aumento da carga tributária e precisa eliminar o maior número de tributos.

José Barroso Tostes Neto, secretário especial da Receita Federal, explicou que a primeira proposta encaminhada pelo governo ao Congresso trata da extinção das contribuições do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da criação de uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). De acordo com ele, a CBS seria um imposto sobre valor agregado (IVA) moderno, com incidência somente sobre o valor agregado ao produto e sobre a receita bruta. O Projeto de Lei 3.887/2020, do Poder Executivo, que cria a CBS com alíquota de 12% aguarda votação na Câmara.

Tostes Neto disse que o governo crê que a adoção da CBS vai acarretar redução das distorções tributárias na cadeia produtiva e, sobretudo, na equalização dos tributos entre os diversos setores. Além disso, vai simplificar o sistema, com regras simples, claras e uniformes.

— Esse equilíbrio vai gerar um aumento da renda disponível, sobretudo para as faixas inferiores de renda, e também impactos positivos na geração de empregos — afirmou Tostes Neto.

Vanessa Canado, assessora especial do ministro da Economia, Paulo Guedes, informou que a Secretaria de Política Econômica do ministério realizou diversos estudos que mostram os ganhos para o país que serão trazidos pela adoção da CBS, como ganho de produtividade, aumento do PIB per capta e geração de centenas de milhares de empregos.

A assessora de Guedes informou que a Secretaria de Política Econômica do ministério realizou diversos estudos (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Integrante da equipe técnica responsável pela proposta do governo, ela disse que a proposta do governo busca diminuir a regressividade do sistema tributário.

— O Brasil é um dos países em desenvolvimento com a maior carga tributária; é uma carga tributária de país desenvolvido, de país rico. Grande parte dela é concentrada no consumo — disse a assessora.

Bernardo Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal e autor intelectual da PEC 45/2019, do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), disse que a proposta quer substituir cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por um único imposto sobre bens e serviços (IBS). Ele disse que o IBS teria alíquota uniforme com tributação no destino, e exportações e investimentos totalmente desonerados.

Appy explicou que a arrecadação será centralizada, com gestão compartilhada entre União, estados, DF e municípios por meio da Agência Tributária Nacional. Ele explicou ainda que a transição para o IBS será de 10 anos, para que haja segurança jurídica e se garanta compensação de perdas para os entes da federação.

Para Appy, a reforma tributária vai ter grande impacto positivo no crescimento econômico brasileiro, podendo o PIB crescer 20 pontos percentuais em 15 anos. Além disso, ele disse que as disposições da PEC 45 têm potencial para aumentar emprego e renda e reduzir a regressividade da tributação do consumo.

Décio Padilha, secretário da Fazenda de Pernambuco, explicou que a proposta apoiada por todos os governadores tem como eixo não haver perda de arrecadação para os estados nem aumento da carga tributária. Ele defendeu também a criação de um fundo de desenvolvimento regional para ajudar os estados menos industrializados.

Representante do Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, Finanças, Receita ou Tributação dos Estados e do DF (Consefaz), Décio Padilha afirmou que a complexidade tributária do Brasil prejudica o ambiente de negócios, gera insegurança jurídica e aumenta o risco Brasil.

— Qual é a necessidade da reforma tributária? É o manicômio tributário atual. Não é apenas um cipoal de normas, é um manicômio tributário. Por isso, a nossa opinião, dos 27 secretários de Fazenda, é que tem que ser uma reforma ampla com um único tributo sobre consumo nacional, legislação do Congresso Nacional, um comitê gestor, que o Congresso tem como ajudar na construção, e a gente criar uma harmonia federativa, e sair desse manicômio tributário — afirmou o secretário.

Alberto Macedo, coordenador do Grupo de Trabalho da Reforma Tributária da Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo, defendeu a proposta denominada Simplifica Já!: unificação de todos os ICMS estaduais em um ICMS nacional; unificação de milhares de ISS municipais em um ISS nacional; adoção da CBS; e desoneração parcial da folha de pagamentos. O novo ISS ficaria no destino e haveria nota fiscal eletrônica nacional que poderia ser usada por todas as prefeituras.

Macedo explicou também que, no Simplifica Já!, haverá desoneração parcial da folha: quanto maior for a massa salarial da empresa e quanto maior for o número de empregados, menor será a alíquota da folha, proporcionalmente.

— Nós temos um sistema tributário complexo, o Congresso Nacional tem a oportunidade de solucionar os problemas e o Simplifica Já se põe como uma alternativa viável de melhoria contínua desse sistema de forma imediata ajudando o Brasil a crescer o quanto antes — disse Alberto Macedo.

Os senadores Major Olimpio (PSL-SP), Simone Tebet (MDB-MS), Zenaide Maia (Pros-RN) participaram da audiência pública e debateram as propostas com os palestrantes. Também participaram os deputados federais Alexis Fonteyne (Novo-SP), Paula Belmonte (Cidadania-DF), Mauro Benevides Filho (PDT-CE), General Peternelli (PSL-SP) e Vitor Lippi (PSDB-SP).