Parada LGBT+: Quando a diversidade é motor dos negócios criativos
A maior Parada do Orgulho LGBT+ do mundo confirmou sua vocação mais uma vez. O fim de semana do feriado de Corpus Christi marca há quase três décadas também um movimento que foi ganhando forças, apesar de uma interrupção forçada pela pandemia da Covid-19.
O evento voltou ao seu palco natural na Avenida Paulista com força total e números expressivos. Segundo organizadores, mais de 4 milhões de pessoas estiveram no local entre protestos, dança e muita celebração das diferenças.
Na sua 26ª edição, o evento, que surgiu como Parada Gay, com poucos participantes, muita chacota de grupos conservadores e rejeição das grandes marcas, foi incorporando muitas bandeiras da diversidade, na sua trajetória até se tornar a maior do mundo em sua categoria.
Além do respeito e adesão de grupos militantes e progressistas, as últimas edições da festa-protesto marcam uma guinada também na sua relação com empresas patrocinadoras, apoiadores em geral e, também, órgãos públicos.
Essa mudança, que tem a ver com um novo momento da causa LGBT+, foi conquistada com muita luta, mártires e posicionamento social e político. E tudo isso tem a ver também com a revolução em processo criada pelo paradigma da economia criativa.
O DNA criativo da Parada LGBT+
Como já mostramos em outros textos nesta coluna, o DNA do pensamento dos negócios criativos brasileiros envolve quatro eixos: a inovação e a sustentabilidade, mas também – e, no caso da causa LGBT+, isso é fundamental – inclusão social e diversidade de culturas.
Ou seja, incluir e aceitar a diversidade são fatores fundamentais para os negócios criativos e tem tudo a ver com o movimento do orgulho gay que transforma a cidade de São Paulo no mês de junho.
De um evento quase clandestino (um protesto mesmo), a Parada LGBT+ tornou-se pilar central nas estratégias de São Paulo como cidade criativa e de grande apelo turístico. A Prefeitura de São Paulo já percebeu isso há tempos, pois sabe que o evento gera imagens que circulam pelo mundo mostrando a capital paulista como um lugar friendly para a comunidade gay. Isso até já foi mostrado em séries da Netflix, como Sense8.
Na prática, o evento é um dos que mais traz turistas a São Paulo e movimenta mais de 400 milhões de reais para a cidade, em turismo, hotelaria, varejo e serviços de entretenimento.
O movimento por trás da Parada LGBT+, que é um dos principais atratores de turismo para São Paulo, foi se expandindo para o Mês do Orgulho LGBT e, nisso, vemos a força da economia criativa: palestras, cursos, mostras paralelas e tantos outros eventos fazem com que a cidade viva organicamente a causa, gerando um movimento positivo para a questão da diversidade e para a geração de muitos negócios.
Variedade de negócios
Nos dias anteriores ao evento, muitos outros eventos e atividades aconteceram na cidade, um destaque foi a Popcon, feira LGBT+ de quadrinhos e artes gráficas, que aconteceu na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, centro de São Paulo. Esse é somente um exemplo, entre tantos outros de iniciativas de negócios empreendedores envolvendo artistas e agentes da causa da diversidade.
O segmento no todo vem crescendo – em todos os campos dos negócios criativos – com eventos, festas, produtos de consumo e produtos culturais voltados ao público LGBT+. De grifes de roupas à expansão da literatura temática há bons exemplos para todos os lados. Isso sem falar nas já tradicionais áreas envolvendo espaços culturais e de serviços.
No Baixo Augusta, durante os dias pré-Parada, a bandeira do arco-íris, símbolo da causa da diversidade era vista em lojas variadas como sorveterias veganas, cafés de bairro e até mesmo em lojas como Riachuelo e Cacau Show, no Shopping Frei Caneca, importante espaço de encontro da comunidade LGBT+.
Marcas engajadas
Por fim, a Parada LGBT+ que, no começo era ignorada pelas grandes marcas, somente atraindo algumas poucas de comunicação direcionada (como voltadas a produtos sexuais), foi entrando no radar das maiores empresas de vários segmentos.
Do receio de associar suas marcas com a causa da diversidade ao momento atual, muita militância e polêmica aconteceu. Um caso simbólico foi o da campanha do Dia dos Namorados da Boticário de 2015, em que havia um casal gay. Após protestos de grupos conservadores, que exigiam a retirada da propaganda do ar, a empresa manteve sua estratégia, deixando o filme na mídia.
Essa e outras ações foram as bases que, durante a 26ª Parada do Orgulho LGBT+, desfilassem na Avenida Paulista 19 trios elétricos com muito brilho e festas patrocinada por marcas como Vivo (VIVT4), Burger King (BKBR3), Terra, Amstel e tantas outras como Avon, Mercado Livre, Jean Paul Gaultier, Accor, Doritos, Philip Morris entre outras.
Cumprindo o ciclo virtuoso da economia criativa, com a adesão da opinião pública e de marcas mais progressistas, o movimento capitaneado pela Parada do Orgulho LGBT+ fortalece sua causa.
Mais que dar visibilidade e exigir respeito à diversidade humana, o movimento quer acesso ao consumo e a todos os demais palcos da sociedade, como a política. Por isso, há que se celebrar os resultados da 26ª. Parada LGBT+, pois eles foram um passo importante na consolidação de uma nova massa crítica que muda comportamentos e derruba barreiras e contribui para um mundo melhor.
E, nesse sentido, defendemos nesta coluna que há muito o que comemorar. Pois, em essência, não é disso que trata a ideia da economia criativa?
Anderson Gurgel é professor universitário da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Centro Universitário Belas Artes, além de jornalista de economia, negócios e marketing, pesquisador, consultor e produtor de conteúdo. Conectando todas essas várias frentes de ação estão os negócios criativos, do entretenimento e do esporte, segmentos que o profissional vem se dedicando ao longo dos quase 25 anos de vida profissional. É autor de livros, produtor de eventos e já ganhou alguns prêmios, sendo um destaque a Menção Honrosa em 2019 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie pela atuação na área de inovação na educação.
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