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Para XP Investimentos, Raia Drogasil pode não resistir ao coronavírus por muito tempo

02 mar 2020, 9:16 - atualizado em 02 mar 2020, 9:45
Raia Drogasil
Nada de novo: para a XP, crescimento previsto até 2023 já foi embutido no atual preço das ações da Raia Drogasil (Imagem: Gustavo Kahil/ Money Times)

Ao contrário do que se pode supor, um eventual aumento dos casos de coronavírus, no Brasil e no mundo, teria efeitos mais negativos, do que positivos, para a Raia Drogasil (RADL3), a maior rede de farmácias do país.

A avaliação é da XP Investimentos, que iniciou a cobertura dos papéis com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 112 para o fim do ano.

O valor é 6% menor que o preço de referência da XP. Assinado pelo analista Pedro Fagundes, o relatório cita alguns motivos para não se empolgar com a empresa no curto prazo. O primeiro é que o crescimento projetado pela Raia Drogasil para os próximos três nos já está precificado pelo mercado.

A companhia pretende abrir 880 lojas até 2023, o que geraria crescimentos médios anuais de 16% nas vendas; de 22% no ebitda; e de 29% no lucro líquido. Apesar das perspectivas positivas, Fagundes lembra que a Raia Drogasil já está cara, na comparação com outras empresas do setor.

Isto porque, suas ações são negociadas por um P/L (relação preço da ação/lucro por ação) de 46 vezes. As rivais são negociadas por 25 vezes, em média. Para a gestora, somente a aceleração do crescimento orgânico ou aquisições de rivais poderia melhorar as perspectivas para os papéis nos próximos meses.

Epidemia

A preocupação mais imediata da XP é o impacto do coronavírus sobre a companhia. Nos últimos dias, a Raia Drogasil mostrou resistência em meio à tensão que tomou o mercado com o avanço da epidemia. Enquanto o Ibovespa, principal índice da B3, caiu 8,4%, a empresa perdeu apenas 2,3%.

Fagundes atribuiu o desempenho à corrida dos investidores para ativos de boa qualidade – e, neste caso, a boa visibilidade de geração de caixa da rede farmacêutica ajuda -, e à percepção de que o setor se beneficia com o aumento de medicamentos, máscaras e álcool gel.

Coronavírus Saúde
Ponto fraco: matérias primas para medicamentos do Brasil são importadas da Ásia (Imagem: Unsplash/@tore_f)

Mas, para o analista, trata-se de uma resposta de curto prazo, que não deve iludir os investidores. “Estamos cautelosos. Reconhecemos que os dois fatores acima podem continuar suportando um desempenho relativamente mais positivo das ações no curto prazo”, afirma o relatório.

“Entretanto, temos preocupações em relação às potenciais implicações do vírus na cadeia de abastecimento da indústria farmacêutica”, acrescenta. A XP Investimentos lembra que o Brasil importa da Ásia boa parte da matéria prima para a fabricação de medicamentos.

Se a epidemia se agravar no Oriente, há risco de desabastecimento da cadeia produtiva no Brasil.

Para mostrar que essa não é uma hipótese descabida, a XP recorda que, na semana passada, o FDA (órgão americano que fiscaliza a indústria farmacêutica) anunciou a falta de um medicamento devido ao coronavírus.

A gestora cita um último componente: as vendas de produtos de perfumaria e beleza, que compõem cerca de 25% da receita da Raia Drogasil, também podem cair, se os consumidores optarem por comprar gêneros de primeira necessidade, em vez de artigos de consumo discricionário.

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