Para onde vai a Selic? Comunicado dá margem para elevar cortes para 0,50 p.p., dizem especialistas
O Comitê de Política Monetária (Copom) abraçou as expectativas do mercado e elevou a taxa Selic para 10,75% ao ano, na reunião desta quarta-feira (18).
Segundo análises, os diretores do Banco Central (BC) optaram por uma alta mais modesta, de 0,25 ponto percentual (p.p.), mas adotaram um tom mais hawkish (duro).
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Desta vez, o Copom ressaltou que houve uma reavaliação do hiato para o campo positivo. “O conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado”, dizem no comunicado.
Em relação à inflação, afirmou que o IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta nas divulgações mais recentes.
Copom vai aumentar as altas na Selic?
O sócio da 051 Capital, Flávio Aragão, diz que o tom “muito duro” do comunicado dá margem para o mercado pressionar o BC, em um segundo momento, a elevar o ritmo de alta para 0,50 p.p. “O nosso Banco Central sempre deixa essas brechas”.
Segundo Aragão, em entrevista ao Money Times, as decisões sobre o futuro da política monetária estão sendo tomadas pela pressão colocada dentro da autarquia. “[O BC] acabou tendo que aumentar a Selic, porque falou demais, e, agora, o comunicado tenta mostrar serviço muito mais duro do que era esperado. Dependendo dos dados, vai ter que ceder à pressão do mercado de pedir 0,50 p.p. na próxima reunião”.
“É um Banco Central claramente independente de Brasília, mas dependente da Faria Lima, que cede aos seus desejos. Virou ‘Fla x Flu'”, completa.
Por outro lado, o economista da Rio Bravo, José Alfaix, afirma que o comunicado foi “menos polissêmico” do que o da última reunião e reforçou o compromisso da autarquia com a política monetária.
“Ao contrário da última, que o mercado esperava que fosse mais dura, esse claramente veio assim. Acho que foi muito bom”, afirma.
Também à redação, Alfaix disse que o Banco Central deixou “muito claro” que o cenário deteriorou, com um balanço de riscos pior e desafios maiores.
Por que não precisaria subir os cortes para 0,50 p.p.?
O sócio da 051 Capital — que, inclusive, não achava trivial que o Copom voltasse a elevar os juros — diz que o impulso fiscal do governo visto nos primeiro seis meses deste ano não deve se repetir no segundo semestre, nem em 2025.
Isso, segundo ele, já diminuiria a pressão fiscal e daria espaço para o Copom “aguardar” para tomar as próximas decisões.
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“Elevar a Selic em 1,50 p.p. leva toda a economia potencial do arcabouço fiscal. Não dá para exigir do governo um equilíbrio, se o Banco Central fizer um aumento de 1,50 p.p. nos juros, com a inflação de 4%”, afirma.
‘0,25 p.p. não vai segurar as preocupações do Banco Central’
O economista da Rio Bravo também afirma que a comunicação pavimenta o caminho para altas maiores até o final do ano, mas vê o movimento como necessário. “Por mais que não tenha guidance, eles deixaram muito claro que o cenário deteriorou”.
“0,25 p.p. não vai segurar as preocupações do Banco Central no curto prazo. Para ancorar as expectativas e apreciar a moeda, são necessários movimentos mais abruptos”, diz ao ressaltar que tais medidas devem “deixar menos custoso” o caminho à frente.
Alfaix ressalta que os juros já estavam em um patamar restritivo, mas não se materializavam na atividade. “Vemos o PIB crescendo acima das projeções, o IBC-BR caindo menos do que esperavam, os serviços e o varejo muito fortes também. Na prática, não está fazendo efeito na atividade”, afirma.
Segundo ele, parte disso está atrelado ao fiscal. “É esperado que tenha menos impulso no segundo semestre, mas depender do fiscal se ajustar é uma aposta um pouco arriscada. A dúvida sempre é o quanto as projeções do governo são compatíveis com a realidade”.
Além disso, Alfaix ressalta que o argumento inflacionário para subir a Selic também é “muito bom”. “Quando a gente olha a inflação mais à frente, está cada vez mais desencorada e há o perigo de crise hídrica e bandeira tarifária subindo para a vermelha”, diz.