Para onde agora, Ilan? Momento de subir a Selic deixa mercado confuso
O Banco Central foi enfático ao indicar o fim do atual ciclo de cortes no juro. A taxa Selic deve permanecer estacionada em 6,75%, o menor nível da história, por algum tempo. Daqui para frente, o BC poderá adotar um discurso mais aberto, atento ao avanço das reformas, evolução da inflação e do câmbio. Por ora, não há consenso entre os analistas sobre quando o juro voltará a subir: as projeções, segundo um levantamento do Money Times com 10 economistas (veja abaixo), vão desde outubro deste ano até meados de 2019.
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A taxa Selic em alta novamente no futuro faz parte do ciclo de política monetária. Eventualmente, por um bom motivo: a recuperação mais intensa na economia. Aliás, um dos pontos de discórdia das previsões deriva dos cálculos sobre a inflação. A partir do ano que vem, cai a meta de inflação de 4,50% para 4,25%. Isso requer um cuidado maior com o nível geral de preços.
Fica a dúvida sobre qual detalhe da expectativa de inflação pesa no modelo de cada analista. “O Brasil não está acostumado a ter uma inflação baixa, então algumas pessoas têm uma visão mais pessimista da inflação achando que o que aconteceu no ano passado foi algo extraordinário, dificílimo de se repetir”, comenta Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos.
De acordo com o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,29% em janeiro deste ano, ante 0,44% em dezembro de 2017. O indicador também veio menor do que o esperado pelo mercado (+0,42%). Em 12 meses, o índice desceu para 2,86%.
O mais recente Relatório Focus, do Banco Central, mostra que os analistas preveem uma inflação oficial de 4,25% (exatamente na meta) ao fim de 2019. Quanto à taxa básica de juro da economia brasileira, a mediana aponta para 6,75% ao fim deste ano, subindo para 8% no ano que vem.
Os próximos encontros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em 2018 acontecem em 20 e 21 de março; 15 e 16 de maio; 19 e 20 de junho; 31 de julho e 1º de agosto; 18 e 19 de setembro; 30 e 31 de outubro; e 11 e 12 de dezembro.
30 e 31 de outubro
O time de economistas do Credit Suisse, integrado por Nilson Teixeira, Iana Ferrão, Leonardo Fonseca e Lucas Vilel, avalia que o nível expansionista da política monetária deve ser normalizado, com a inflação aumentando para o centro do alvo e o fechamento do gap de produção no início do próximo ano. Com isso, a expectativa é que o BC suba o juro em 25 pontos-base em outubro e depois mais 50 pontos-base em dezembro, levando a Selic para 7,5%. Em 2019, a estimativa é de um retorno a 9,5%.
Na visão da equipe do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ, composta por Calos Pedroso, Mauricio Nakahodo e Luiz Augusto, a Selic será mantida até o final de outubro, seguindo por um aumento monetário até fechar o ano em 7,25% e chegando a 8% em março de 2019. Assim, “voltando para a taxa de juros de equilíbrio em um cenário de condições econômicas mais sólidas”.
11 e 12 de dezembro
A Capital Economics estima que a Selic fique inalterada até as eleições de outubro. “Dado o potencial de uma mudança significativa no cenário político, as perspectivas de taxas de juros além das eleições são excepcionalmente incertas”, diz o economista Neil Shearing. Ele prevê uma alta de 50 pontos-base em dezembro, seguida de mais 100 pontos-base, para 8,25%, em 2019.
1º trimestre de 2019
Para Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, os recentes indicadores de atividade econômica mostram recuperação bastante consistente da absorção doméstica (principalmente consumo e investimento) indicando que a economia não necessita de estímulos adicionais. “Julgamos que o ciclo de alta da taxa de juros terá inicio em 2019, provavelmente ainda no primeiro trimestre”, avalia.
Na mesma linha, a equipe da Rio Bravo Investimentos interpreta que a Selic permanecerá parada em 6,75% até o fim do ano, e o Copom irá aumentá-la no primeiro trimestre de 2019, levando o juro básico para entre 8,50% e 8,75% ao fim do ano que vem.
“O BC começará a normalizar a Selic apenas no início de 2019, em nossa opinião”, concorda Ignacio Crespo, economista da Guide Investimentos, em nota a clientes.
O time do BTG Pactual, composto por Eduardo Loyo e Claudio Ferraz, acredita que o ciclo se encerrou em 6,75%, mas não descarta um novo corte caso a reforma da Previdência, inesperadamente, passe. “Esperamos que a taxa Selic seja mantida em espera pelo resto do ano, antes de embarcar em uma ascensão moderada no início do próximo ano”, dizem.
O economista-chefe doItaú , Mario Mesquita, considera que, dada a clara intenção do comitê de encerrar o ciclo de cortes, a não ser que novos dados mostrem um panorama ainda mais favorável para a inflação, a taxa Selic deve encerrar o ciclo em 6,75% – “nível que deve ser mantido ao longo de todo o ano”.
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, existe uma confusão na curva de juro para o fim do ano. “Há uma parte do mercado sinalizando uma alta no último trimestre de 2018, mas dado o hiato do produto ainda elevado, acredito que seja algum tipo de ruído eleitoral”, avalia. Segundo ele, a elevação só deve ocorrer no primeiro trimestre de 2019.
2º trimestre de 2019
Na leitura da economista Tatiana Pinheiro, do Santander, apenas um fator muito positivo poderia levar o Banco Central a reduzir mais ainda os juros, caso por exemplo da aprovação da reforma da Previdência. “Acreditamos que o BC tem um cenário de inflação e atividade bastante benigno, que permite deixar os juros em 6,75% no ano inteiro e no começo de 2019, começando a elevar de novo os juros no segundo trimestre do ano que vem”, diz.