Para BlackRock, juros altos são o novo normal e a correção dos mercados já começou
A decisão do Fed, comunicada na semana passada, deu sinal verde para uma arrancada nos rendimentos das T-notes de 10 anos. Em menos de uma semana, o ‘pai de todos os ativos’ subiu quase 0,2 pontos-base para ser negociados a 4.538%, níveis próximos a crise financeira global de 2008.
E, segundo a BlackRock, o processo de correção dos mercados, provocado naturalmente pelo aumento das taxas, já começou.
O S&P 500, o principal dos três índices de Nova York, já opera abaixo da média móvel dos últimos 50 dias e embica em direção à média dos últimos 200 dias. O desempenho negativo do Ibovespa (IBOV), em pleno ciclo de afrouxamento monetário, também parece responder à perspectiva de juros elevados por mais tempo nas principais economias desenvolvidas.
O fato é negativo para a Bolsa local, que perde a atratividade diante de oportunidades mais seguras no exterior, como os próprios títulos da dívida pública americana e títulos de dívida corporativa.
O parecer divulgado hoje confirma o panorama desenhado pela gestora ainda em dezembro do ano passado: o mundo será inflacionário por mais tempo, diante de riscos geopolíticos e cenário de menor produtividade econômica.
Segundo a BlackRock, os efeitos monetários ainda estão sendo sentidos globalmente e não há por que o Fed, ou o Banco Central Europeu, diminuir suas taxas de referência no curto-prazo.
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BlackRock viu crescimento ‘tático’ para Brasil
Ainda ao final do ano passado, a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, diagnosticou uma mudança no comportamento dos mercados que pode ser amarga ao paladar dos investidores: as condições que garantiram um “bull market” (mercado altista) para ações e títulos ao longo da década passada podem ter dado um adeus definitivo.
Na visão da gestora, o Brasil e o mundo enfrentam restrições de produção de longo prazo, levando a uma inflação que não conseguirá ser completamente domada nem mesmo pela ação dos bancos centrais.
Uma perspectiva mais sombria em relação ao avanço global dos preços está atrelada ao envelhecimento da força de trabalho, à transição energética e à chegada de uma nova ordem geopolítica, catalisada pela guerra na Ucrânia e que deve ter como maior desafio a tensa relação EUA–China.
Mesmo em face a estes desafios, os executivos locais da BlackRock e o estrategista-chefe da empresa na América Latina veem oportunidades de um crescimento “tático” para o mercado de capitais brasileiro, dada a sua posição de destaque entre as economias em crescimento.
Na avaliação dos executivos locais da gestora, o retorno para um cenário mais favorável em direção aos ativos de risco deve passar por um recuo dos juros, ao menos abaixo do patamar dos 10%.
Nesse sentido, a ação prematura do BC brasileiro no combate à inflação e o encerramento do ciclo em cronologia anterior aos mercados desenvolvidos podem catalisar uma reversão da política monetária contracionista em 2023.
À época, a gestora disse entender que o mercado brasileiro já havia executado a uma precificação das condições macroeconômicas mais desfavoráveis, ao contrário de Europa e EUA, cujos mercados ainda poderiam sentir correções significativas no curso de 2023.