Crédito

Para Banco Central, crédito total crescerá 8,1% em 2020 após revisão de 6,9% neste ano

19 dez 2019, 9:13 - atualizado em 19 dez 2019, 14:51
Banco Central
Pelos cálculos mais recentes do BC, o estoque de crédito às famílias deverá subir 11,8% neste ano (Imagem: Flickr/Banco Central)

O Banco Central melhorou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano e no próximo, citando para 2019 fatores como os saques do FGTS e o maior carregamento estatístico e, para 2020, uma perspectiva de retomada “ligeiramente” mais forte.

Os novos dados vieram no Relatório Trimestral de Inflação do BC, em que a autoridade monetária indicou alta de 1,2% para o PIB neste ano, contra 0,9% antes, e de 2,2% para 2020, sobre leitura de 1,8% no relatório anterior, de setembro.

Para o ano que vem, o BC ressaltou que sua estimativa “está condicionada ao cenário de continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira”.

O diretor de Política Econômica do BC, Fábio Kanczuk, disse que a hipótese do Banco Central é que a recuperação econômica está sendo “bastante gradual” e tem se dado por um aumento relativo do setor informal.

Em entrevista para comentar o relatório, Kanczuk afirmou que, na margem, o BC vê um crescimento mais rápido, mas o movimento não é “inequívoco”, com algumas estatísticas mostrando isso de forma mais clara do que outras.

“As séries não contam uma história só, algumas mostram tração (da atividade), outras ainda estão de lado”, afirmou.

Para a revisão deste ano, a autoridade monetária frisou que computou principalmente o maior carregamento estatístico e os estímulos da liberação extraordinária de recursos do FGTS e do PIS/Pasep no quarto trimestre, destacando que o movimento se intensificou com a antecipação no cronograma de pagamentos pela Caixa Econômica Federal.

Pelo desenho original dos saques imediatos, esse calendário iria se estender até março do ano que vem. Com as mudanças, os dados do BC ficaram mais próximos dos indicados pelo governo e estimados pelo mercado.

Oficialmente, o Ministério da Economia previu em sua última revisão um avanço do PIB de 0,9% este ano e de 2,32% no ano que vem, embora membros da equipe econômica tenham indicado, desde então, que a economia deve crescer acima de 1% em 2019 e na casa de 2,5% em 2020.

No relatório Focus mais recente, feito pelo BC junto a uma centena de economistas, a expectativa é de alta do PIB de 1,12% neste ano e de 2,25% no próximo.

Desde a sua decisão na semana passada de cortar a Selic em meio ponto, à nova mínima histórica de 4,5% ao ano, o BC já vinha destacando uma visão melhor para a economia.

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Setores

Na revisão do PIB para este ano, o BC passou a ver melhor desempenho tanto da agropecuária, quanto da indústria e serviços, com altas de 2,0%, 0,7% e 1,1%, respectivamente, contra avanços de 1,8%, 0,1% e 1,0% calculados antes.

Pela ótica da demanda em 2019, o BC também ajustou para cima o aumento do consumo das famílias (2%, sobre 1,6% antes) e dos investimentos (3,3%, ante 2,6%). Ao mesmo tempo, passou a ver o consumo do governo caindo 0,6%, acima da queda de 0,3% vista anteriormente.

As contribuições da demanda interna e do setor externo para o PIB neste ano foram estimadas em 1,9 ponto e -0,7 ponto, respectivamente.

Já para 2020, o BC previu que a indústria empatará com a agropecuária em termos de expansão, ambas com aumento de 2,9%. Antes, a perspectiva era de elevação de 2,2% na indústria e 2,6% na agropecuária.

Para o setor de serviços, a perspectiva também foi melhorada a 1,7%, sobre 1,4% antes.

O Banco Central previu que a indústria empatará com a agropecuária em termos de expansão, ambas com aumento de 2,9% (Imagem: Enildo Amaral/BCB./Flickr)

Do lado da demanda, o grande destaque nas estimativas ficou com os investimentos, para os quais o BC prevê agora expansão de 4,1% em 2020, ante 2,9% antes. E reforçou no relatório que parte da alta na previsão “está associada a prognóstico mais favorável para a construção civil”.

Kanczuk destacou a jornalistas a contribuição dos bons prognósticos para a construção imobiliária, “que não está unicamente acontecendo em São Paulo, está espalhada por alguns Estados e capitais”.

Para os demais componentes do PIB, as estimativas sofreram pouca alteração: o BC vê o consumo das famílias aumentando 2,3% no próximo ano (2,2% antes) e o consumo do governo subindo 0,3% (0,5% antes).

As contribuições das demandas interna e externa para o crescimento do PIB no ano que vem foram calculadas em 2,4 ponto e -0,2 ponto, respectivamente.

Juros

Sobre os juros básicos, o BC também reiterou mensagem de que, após o corte da Selic na quarta-feira passada, “o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária”.

A mensagem vem sendo interpretada como um indicativo de que o ciclo de afrouxamento monetário está perto do fim, com parte dos agentes interpretando até mesmo que a última redução da Selic pode ter sido a última. O próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ocorrerá em 4 e 5 de fevereiro.

“O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, reforçou o BC no relatório.

Veja na íntegra o Relatório Trimestral de Inflação:

Pelos cálculos mais recentes do BC, o estoque de crédito às famílias deverá subir 11,8% neste ano (ante +11% projetados anteriormente) e 12,2% em 2020 (+11,2% antes).

Para as empresas, a estimativa de crescimento foi melhorada a uma expansão de 0,9% para 2019 (ante -0,9% no relatório passado), e para 2020, passou a uma alta de 2,5%, abaixo do patamar de 3,8% na leitura anterior.

Para o estoque de crédito livre, em que as taxas são pactuadas livremente entre bancos e tomadores, o BC projeta uma alta de 13,9% em 2019 (+12% antes) e de 12,9% em 2020 (+11,4% antes) e, para o crédito direcionado, que atende a parâmetros estabelecidos pelo governo, estima recuo de 1,3% em 2019 (-1,8% antes) e elevação de 1,6% no ano que vem (+3,6% antes).

Segundo o BC, os empréstimos para pessoas físicas financiados com recursos livres continuam sendo o principal vetor de crescimento do crédito no país.

reuters@moneytimes.com.br