Papo de Grana: O Bitcoin está menos volátil que a Bolsa
Por Eduardo Tocchetto, CEO do Elliot
No mundo financeiro atual o conceito da volatilidade tem ganhado espaço nas discussões sobre composição de carteira e risco do investimento. A esfera financeira brasileira no Twitter se debulha nessa discussão, ficando claro a existência de dois times quando se trata do assunto. Só faltou incluir o Bitcoin nessas discussões, que com o passar do tempo se tornou mais atraente; mas farei isso por eles, nesta publicação.
Antes de entrarmos nesse embate, vamos dar um passo atrás e explicar o que é volatilidade. Essa, nada mais é, do que uma medida associada com o risco do investimento, que quanto maior sua oscilação, maior o risco.
Volatilidade é, também, o quanto o preço de um ativo se desvia do seu preço médio ou atual e o risco é a possibilidade do investimento não alcançar o resultado de que você deseja. Quer dizer que, a grosso modo, quanto maior a volatilidade, maior a variação no preço de um ativo e por consequência, maior o risco deste ativo não atingir o resultado que você deseja. Por isso que esses fatores andam lado a lado nas finanças.
Agora, quando se trata da relação que os investidores têm com o risco e a volatilidade, surgem dois times.
De um lado temos um grupo mais teórico, que segue modelos da academia para a determinação da melhor opção possível de investimento e para a montagem do melhor portfólio, com as combinações mais equilibradas, sempre tentando maximizar o retorno esperado ao mesmo tempo que tenta minimizar o risco da operação. Nessa linha de pensamento, tudo se resume a escolher os investimentos que oferecem o menor risco com o maior retorno esperado.
Do outro lado, temos um pessoal mais prático, onde tudo se resume a ter resultado na prática, ou seja, fazer o capital investido render e pouco importa a volatilidade, risco, sharpe ou qualquer outro indicador. Este grupo gosta da “filosofia Tallebiana” quando diz que a academia se distanciou da realidade e que muita coisa que vem de lá não serve para ser aplicada ao mundo real. Basicamente, tudo se resume a ter “skin in the game”, no português, arriscar a própria pele, onde você estará sofrendo diretamente os riscos das ações que você decide tomar, diferente de quem teoriza em livros, mas na prática não está exposto aos resultados do que prega.
No Twitter, temos representantes de peso em cada um dos lados e vou colocar algumas citações para sintetizar o pensamento de ambos.
Do lado dos amantes da volatilidade temos:
Henrique Bredda, cofundador do Alaska Black, um dos fundos de investimento mais badalados do Brasil no momento – e que entregou retornos grandiosos para seus cotistas recentemente, publicou o seguinte no Twitter, sobre uma conversa sua com o famoso investidor e outro cofundador do Alaska Black, Luiz Alves Paes de Barros:
“Um papo verídico sobre Volatilidade:
LAPB: Bredda, o que é esse negócio de “volatilidade” que tanto falam hoje em dia?
Bredda: É o quanto “sacode” o preço uma ação.
LAPB: Então isso é uma coisa boa, certo? Quanto mais volátil, melhor pra ganhar dinheiro!
Bredda: Não é bem isso que falam Luiz. O pessoal fala que ação mais volátil é ruim.
LAPB: Como assim? A gente ganha dinheiro comprando barato e vendendo caro. Quanto mais volátil, mais chance de dar moleza na compra, e mais chance de vendermos rápido quando encarecer!”
Segundo Bredda, a vida real é muito mais importante do que cálculos de volatilidade. Para ele o que acontece dentro da companhia é um risco muito mais relevante para o investidor.
Do outro lado trago uma colocação de Bob Lucas, um perfil no Twitter muito famoso no meio financeiro, que permanece no anonimato, mas mostra extremo conhecimento sobre teorias e a matemática do mundo dos investimentos.
“Imaginem se fossem fazer um cirurgia delicada e ao entrar na sala de operação o cirurgião começa a debochar do risco de você sobreviver e o anestesista de que não soubesse direto a dose da anestesista. É o que faz um gestor ao debochar dos riscos do fundo que administra.
A volatilidade é a dose da anestesista, se for muito alta mata o paciente. Lembrem da regra de bolo, a perda esperada é em geral de 1.5 a 2 vezes a volatilidade. Se seu investimento roda com uma volatilidade acima de 50% esteja preparado para perder tudo! Isso não tem nenhuma graça.”
Fica evidente a diferença na abordagem. Na turma do Bob Lucas, há muito mais cautela e uma preocupação maior com a parte teórica. Levantando sempre o ponto de que certos riscos são desnecessários, especialmente em casos de fundos de investimentos que trabalham com capital de terceiros.
Ambos lados tem seus motivos, mas independente do seu time, no último mês, tivemos uma amostra clara da volatilidade no mercado financeiro brasileiro. Nos últimos 30 dias a do Ibovespa ficou em 20,27%.
Nesse mesmo período o Bitcoin mostrou uma volatilidade de 1.27%.
O Bitcoin, desde sua criação, sempre foi visto como um ativo associado a grandes riscos, com altos e baixos recorrentes, e hoje em dia sua volatilidade é menor que a do mercado tradicional. Este ativo, que antes só agradava os mais adeptos ao risco, está começando a ser valorizado pelo grupo dos avessos a volatilidade.
Creio que esses fatos podem ser o começo de uma lenta mudança de paradigma sobre o que é um ativo válido para investimento. O Bitcoin ainda sofre muita rejeição por parte dos profissionais do mercado financeiro, mas, com o passar do tempo, e o amadurecimento desse mercado e suas regulamentações, mais e mais investidores abrirão os seus olhos para o mundo dos criptoativos.
A economia evolui, e devemos nos adaptar, pois temos um mercado financeiro sólido e desenvolvido que, com a queda da taxa de juros, tem trazido cada vez mais investidores. Apesar disso, também temos uma “indústria nascente”, a dos criptoativos, que vieram para resolver problemas claros que temos na nossa sociedade atual, como a falta de privacidade financeira, a dificuldade de movimentação de dinheiro pelas fronteiras, a grande dependência das economias às decisões dos governos e assim por diante. As criptomoedas estão passando por um amadurecimento robusto e acelerado, mostrando que são cada vez mais dignas de serem reconhecidas como uma alternativa de investimento.
As corretoras de moedas digitais já contam com mais investidores cadastrados do que a B3, mesmo que várias delas pelos motivos errados, buscando riqueza fácil, um mal que assola os brasileiros (e que falaremos mais em um próximo texto); mas que, mesmo assim, evidencia o nascimento de uma nova tendência financeira – e digital.
O mundo se desenvolve com rapidez e devemos acompanhar as tendências. Estar aberto a conhecer novas modalidades de investimento pode resultar em bons aprendizados e novos horizontes para sua independência financeira.