Pandemia vitima o RenovaBio e Usina Cruangi já sabe que vai fazer mais açúcar
A terceira usina pernambucana que poderá emitir créditos descarbonização do RenovaBio é uma unidade cooperativada, mas o excesso de gasolina (e petróleo) e de etanol que ainda deverá estar remanescente a partir de setembro, quando começa a safra nordestina, não permite prever mais vantagens nas operações com biocombustível.
Gerida pela Cooperativa do Agronegócio dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (Coaf), a Cruangi já tem planejada uma produção mais açucareira e o volume de créditos de descarbonização (CBios) será correspondente ao volume menor de etanol a ser fabricado. A pandemia faz vítima o RenovaBio já no seu primeiro ano de implantação.
“Nosso mix será mais açucareiro devido ao baixo preço do etanol praticado no mercado, afetado pela queda do consumo diante da covid-19 e pela concorrência frente à gasolina, que sofre desvalorização diante da baixa do petróleo”, adianta Alexandre Andrade Lima, presidente da cooperativa.
Na safra 19/20, concluída em fevererio, a indústria de Timbaúba, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, produziu 73 milhões de litros de etanol hidratado e anidro. O total do mix para o ciclo 20/21 ainda não está decidido, mas a chave vai ser virada para a produção de mais commodity, mesmo que também as cotações não estejam melhores com o mundo vendo o Brasil produzi-la mais.
A certificação da Cruangi, que acaba de ser dada pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), ao menos já permite a unidade a operar Programa Nacional de Biocombustíveis, a pleno vapor, para a safra seguinte.
Os CBios são emitidos à distribuidoras – enquanto vigorar o sistema de distribuição exclusiva – na medida da quantidade de etanol comercializado, e sua precificação deverá agregar as condicionantes relativas aos sequestro de carbono no processo produtivo, ou seja, quanto menos uso de insumos fósseis, mais valor. A negociação dos CBios será na B3.
Preços da cana
A Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP), igualmente sob a presidência de Alexandre Lima, informou que o valor do ATR (Total de Açúcar Recuperável) em abril caiu 8,5%.
O kg do açúcar, portanto, ficou em R$ 0,8167, que aponta para um referencial de R$ 97,19 a tonelada da cana padrão. Em março foi de R$ 106,22.
Embora não haja mais cana para ser negociada, em plena entressafra, para Lima o valor do ATR em queda aponta para novos recuos sucessivos até a safra seguinte, e preocupa mais ainda os produtores.
No preço da cana, a qualidade divide a precificação com o valor de mercado do mix produzido e a pandemia, portanto, mostra o estrago que está se abatendo no setor, incluindo a poderosa produção do Centro-Sul, em plena safra.
Daí que Alexandre Lima referenda o pedido de ajuda ao governo – já solicitado em relação à queda do PIS/Cofins quanto na prorrogação das dívidas de custeio – pela Feplana, a entidade nacional dos plantadores, também por ele dirigida.