Bancos

Pandemia leva bancos globais a priorizar mercados domésticos

04 maio 2020, 14:18 - atualizado em 04 maio 2020, 14:18
Bank of America Bancos
O Bank of America, com sede em Charlotte, Carolina do Norte, está entre as várias instituições dos EUA mais seletivas para empréstimos europeus (Imagem: Reuters/Brian Snyder)

A pandemia de coronavírus provoca uma onda de nacionalismo em vários países. Agora, bancos estão na vanguarda do movimento, fundamental para as medidas de resgate de governos diante da pior recessão desde a Grande Depressão.

O Intesa Sanpaolo, com sede em Milão, reforçou a política de empréstimos “Itália em primeiro lugar”. O Banco da China, de Pequim, se volta para o mercado doméstico depois da grande aposta no Oriente Médio.

Em Frankfurt, o Deutsche Bank adiou planos de expansão na Índia, enquanto injeta recursos na Alemanha. O Bank of America, com sede em Charlotte, Carolina do Norte, está entre as várias instituições dos EUA mais seletivas para empréstimos europeus.

Um novo foco nacional poderia impedir a expansão incipiente de bancos que começavam a reconstruir seu alcance global depois que a crise financeira de 2008 encerrou abruptamente uma era de exuberância.

O foco doméstico também deixará muitos bancos presos em mercados onde a concorrência é intensa e as oportunidades de crescimento limitadas.

Embora a mudança de ênfase dos bancos tenha sido estimulada pela crise de saúde, segue uma maré de nacionalismo refletida em eventos políticos, como o Brexit, a política do “America First” do presidente Donald Trump e o debate sobre o futuro da União Europeia.

Esse nacionalismo, por sua vez, pode ser aguçado pela pandemia: restrições às viagens ao exterior, controle estatal de algumas empresas-chave e trilhões de dólares em empréstimos de emergência apontam para um forte papel dos governos nas economias nos próximos anos.

“Esperamos ver um forte foco dos bancos no mercado doméstico”, disse Alexandra Annecke, gestora da Union Investment, em Frankfurt, que tem como alvo empresas de serviços financeiros.

“As garantias estatais para empréstimos são organizadas em âmbito nacional, e os bancos vão atender empresas domésticas em primeiro lugar.”

As novas prioridades afetam bancos em diferentes pontos do arco da expansão internacional. As três maiores instituições dos EUA, algumas europeias e a maioria dos bancos japoneses ampliaram a presença internacional na última década e provavelmente continuarão a fazê-lo após a crise atual.

JPMorgan Chase, Citigroup e Bank of America dizem que suas ambições globais não foram afetadas pela pandemia. O BNP Paribas, por outro lado, é o único banco europeu que resistiu a diminuir presença nos EUA desde a última crise. O HSBC Holding tem aumentado o foco na Ásia.

E bancos japoneses precisam continuar emprestando para o exterior porque as margens de juros em casa são quase inexistentes.

“Quantos bancos globais da Europa ainda temos?” disse Jan Schildbach, chefe de pesquisa para mercados bancários e financeiros do Deutsche Bank, em Frankfurt. “A maioria não havia se recuperado completamente da última crise; a atual apenas tornará mais difícil a reconstrução de suas ambições globais, se isso ainda for possível.”

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