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Pandemia, juros baixos e a retomada do setor imobiliário brasileiro

07 dez 2020, 7:24 - atualizado em 07 dez 2020, 7:36
Com o represamento dos últimos meses, as pessoas aumentaram seu desejo por um novo lar, sobretudo com a impulsão da baixa da Selic, observa o CEO da Arbo Imóveis (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

Assim como em outros setores, entre a segunda quinzena de março e o fim de maio, ocorreu um bloqueio total do mercado imobiliário por conta do desconhecimento da pandemia.

Nesse período, embora os números de infectados e mortos ainda não fosse tão alto, se comparado ao que viria posteriormente, o pânico instaurou-se como nunca antes e, por conta disso, as pessoas deixaram de visitar os imóveis, seja pelo medo de contágio, ou simplesmente pelas restrições de circulação, que praticamente impossibilitavam as visitações e o contato com os proprietários para qualquer tipo de negociação.

Com o represamento dos últimos meses, no entanto, somado às novas perspectivas de modelo de vida, vindos com a Covid-19, as pessoas aumentaram seu desejo por um novo lar, sobretudo com a impulsão da baixa da Selic, aliada a um crédito bem mais barato para a compra de imóveis.

A partir de então, aqueles que habitavam propriedades já prontas ou antigas – nessa ordem – passaram a aproveitar as baixas taxas de juros que, na maioria das vezes, só podem ser usadas para a aquisição de imóveis que já estão prontos.

O Brasil vinha se recuperando a passos lentos da crise imobiliária nos últimos dois anos, e havia uma perspectiva de melhora para 2020, porém, a pandemia, somada à conjunção de facilidade econômica para aquisição de um imóvel, fez a curva de crescimento se acentuar.

O fato é que a conjunção dada pelos juros baixos faria o mercado se reaquecer com ou sem pandemia, mas a mesma despertou o desejo por imóveis com características um pouco diferentes. Um bom exemplo disso é o aumento da venda de imóveis maiores, como casas em condomínios fechados, ou segundo imóvel, seja no campo ou na praia.

Se antes o país vinha numa tendência maior pela locação, hoje, com a condição econômica atual, o número de vendas se equipara ao de aluguéis (Imagem: Unsplash/@tierramallorca)

Mas vale lembrar que não são os mais procurados: apenas tiveram aumento de vendas se compararmos ao período pré-covid. E, guardadas as devidas proporções, o que se dava antes, continua, tal qual sempre foi: em cidades médias e pequenas, casas são mais procuradas; já em cidades grandes, continuam sendo os apartamentos.

Também é interessante observar que, se antes o país vinha numa tendência maior pela locação, hoje, com a condição econômica atual, o número de vendas se equipara ao de aluguéis, além de a localização influenciar menos que anteriormente, e tamanho e características do imóvel ter ganhado mais relevância.

Quanto ao próximo ano, ainda pouco sabemos, mas é quase certo que, se não ocorrer nenhum aumento nas taxas de juros para aquisição de imóveis, e a rentabilidade de investimentos fixos continuarem baixas, 2021 será ainda melhor que 2020, visto que muitas empresas já se ajustaram aos novos (agora já nem tão novos assim) tempos e, aos poucos, as pessoas estão retomando suas condições de empregabilidade, o que, naturalmente, faz com que haja mais procura por imóveis.

Passamos por um momento de alta nas vendas que, ao que tudo indica, deve se estender, mas, o que veio para ficar no mercado imobiliário é como o setor teve que se reajustar para atender melhor às expectativas dos clientes finais, tanto proprietários como compradores e locatários.

E nesse novo cenário, a digitalização e a preocupação com a melhor jornada de compra se tornaram obrigatórios, necessários — e uma conquista para o consumidor.

Por Manoel Neto, CEO da Arbo Imóveis