Países sorteiam de armas a ouro para incentivar a vacinação contra covid
Por Emily Cadman e Felix Tam
Quando as campanhas de vacinação contra a Covid-19 começaram, o maior prêmio material era um adesivo no Instagram. Agora, em Hong Kong, é possível ganhar um Tesla ou até mesmo um apartamento no mercado imobiliário mais caro do mundo.
Com barras de ouro, Rolex de diamantes e compras no valor de US$ 100 mil também em jogo, as loterias de vacinas de Hong Kong são facilmente as mais chamativas. No entanto, está longe de ser a única que oferece incentivos para tentar aumentar as taxas de vacinação. A Rússia está sorteando snowmobiles. Nos EUA, residentes do estado da Virgínia podem obter licenças vitalícias de caça e rifles personalizados. No Alabama, pessoas vacinadas tiveram a oportunidade de dirigir em uma pista de corrida.
Com a variante delta solta pelo mundo, crescem os apelos para que as pessoas se vacinem em países com imunizantes de sobra. Governos e empresas privadas recorrem a uma série de táticas, desde anúncios com mensagens tranquilizadoras de personalidades confiáveis, como médicos ou profissionais de hospitais, até iniciativas em países como a França para limitar o acesso a locais públicos.
Brindes são a opção com menor impacto político, embora tenham levantado questões éticas. Autoridades não esperam que tais incentivos tenham muito efeito sobre os céticos, mas a esperança é que os prêmios possam dar um empurrãozinho aos que estão procrastinando.
Mas esses prêmios aumentam as taxas de vacinação?
Os dados são irregulares. Existem muitos relatos de aumentos das taxas de vacinação no período inicial. Em Hong Kong, por exemplo, o número de residentes totalmente vacinados contra a Covid-19 dobrou nas últimas sete semanas, para mais de 2 milhões de pessoas, coincidindo com o lançamento de uma série de incentivos do setor privado.
Por outro lado, um estudo recente da loteria de vacinas de Ohio não revelou evidências de que o ritmo de vacinação tenha aumentado, embora indique que as taxas diminuíram menos em Ohio do que nos Estados Unidos em geral.
Onde os dados sugerem aumento, os motivos são difíceis de decifrar. É apenas a ideia de ganhar algo ou as pessoas também são motivadas pela publicidade positiva que acompanha as campanhas de vacinação? A maioria dos especialistas concorda que vale a pena tentar os incentivos, porque a história sugere que as mensagens de saúde por si só não são suficientes.
“As cutucadas são o que mudam o comportamento das pessoas”, disse Noel Brewer, professor especializado em pesquisa de administração de vacinas na Universidade da Carolina do Norte. “A comunicação do medo, ou a comunicação do risco, é ineficaz.”
Incentivos eficazes levam em consideração o contexto da população local, afirma Brewer. A Carolina do Norte, observa, ofereceu US$ 25 para pessoas que receberam a primeira dose, o que pode parecer pouco, mas teria sido significativo para residentes de baixa renda.
Em Hong Kong, há vacinas suficientes para todos, e são gratuitas a partir dos 12 anos. Mas a vacinação foi prejudicada pela falta de confiança no governo apoiado pela China e pela preocupação com efeitos colaterais.