Países com rápida distribuição de vacinas fortalecem moedas
O ritmo irregular da distribuição de vacinas ao redor do mundo oferece aos investidores uma nova rota para ganhos nos mercados de câmbio, que movimentam US$ 6,6 trilhões por dia.
Dos cinco países que lideram o combate à Covid-19, todos, exceto um, registraram ganhos em suas moedas em relação ao dólar em janeiro, segundo estudo da Bloomberg sobre as 15 maiores economias com dados de vacinação e casos de coronavírus disponíveis.
O avanço da imunização no Reino Unido compensou o elevado número de casos o suficiente para impulsionar a libra, enquanto a distribuição caótica da União Europeia pesou sobre o euro.
Esses movimentos turvaram o cenário para o dólar, que está do outro lado dessas apostas e desafiou as expectativas de desvalorização, mesmo com as diferenças em número de casos e ritmo de vacinação nos EUA.
Com o impacto da pandemia na negociação de moedas, uma coisa é certa: já se foram os dias em que os cenários para os juros dos bancos centrais e diferenciais de crescimento eram os principais fatores das estratégias de negociação.
O Brasil está entre os países com pior desempenho na distribuição da vacina, analisados pela Bloomberg, junto com França, Suécia e Espanha. Relação ajuda explicar a pressão que o real sofre no mercado de câmbio.
Agora, gestores de bilhões de dólares em empresas como Aberdeen Standard Investments e Brandywine Global Investment Management se especializam em imunidade de rebanho, analisando as crescentes correlações entre vacinações e mercado de câmbio para guiar as negociações.
“A tendência em termos de velocidade de vacinação e em termos de taxas de infecção dá uma boa ideia” de qual economia abrirá mais rápido”, disse Charles Diebel, que administra cerca de 4,5 bilhões de euros (US$ 5,4 bilhões) na Mediolanum, em Dublin.
Vencedores em vacinas
Para muitos operadores, derrotar o vírus é um pré-requisito para um país reativar a economia e, assim, fortalecer a moeda local, o que aumenta a importância de uma distribuição bem-sucedida e rápida de vacinas.
Por exemplo, o dólar australiano deu um mergulho em relação à moeda da Nova Zelândia na semana passada, depois que a Alemanha lançou dúvidas sobre a eficácia da vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca, que faz parte do programa de vacinação da Austrália.
Mas em nenhum lugar a relação entre moedas e vacina é mais clara do que no Reino Unido, que se posicionou perto do topo em um estudo da Bloomberg de três variáveis: progresso cumulativo nas vacinações e ritmo de distribuição, compensados pela taxa de infecções por coronavírus.
Até quarta-feira, o Reino Unido havia administrado 15,8 doses por 100 pessoas, em comparação com 10,7 nos EUA e apenas 3,2 na União Europeia.
“Começa a surgir uma negociação de spread da vacina”, disse Michael Brown, analista de mercado sênior da Caxton FX, uma empresa de pagamentos com sede em Londres. Para Brown, esta divergência beneficia as posições vendidas em euros em relação à libra.
Também pode impulsionar o dólar. Embora a liderança global contínua dos Estados Unidos em novos casos de coronavírus tenha ofuscado o impacto positivo das vacinas, o dólar se fortaleceu desde o início da vacinação no país em meados de dezembro.
Cálculo de moedas
Mas enquanto alguns operadores veem o progresso das vacinas como um benefício direto para uma moeda, outros levam esse cálculo a outro nível.
Para Jack McIntyre, da Brandywine, uma distribuição rápida nos EUA, especialmente em conjunto com um ritmo acelerado na China, poderia na verdade enfraquecer o dólar. Isso porque o sucesso nessas duas nações provavelmente estimularia uma recuperação global, afastando os investidores de ativos seguros como o dólar.
É fundamental que investidores observem como as vacinas influenciam as perspectivas dos bancos centrais, já que muitos deles estão baseando as previsões e o tom das declarações de política monetária no avanço das vacinas, de acordo com Simon Harvey, analista de mercado sênior da Monex Europe, em Londres.
“Quanto mais rápido vacinas eficazes forem distribuídas, mais cedo as economias poderão ser reabertas e as recuperações retomadas”, disse.