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País está no radar do desaquecimento chinês, mas há casos de vendas sem relação direta com o PIB

05 set 2022, 17:11 - atualizado em 05 set 2022, 17:30
Mulher caminha no leito do rio Yangtze exposto em Chongqing
Seca na China neste verão ajudará a desacelerar a economia ainda em 2023 (Imagem: cnsphoto via REUTERS)

Recidivas da covid no primeiro semestre, como também agora, mais uma seca intensa neste verão, catapultam o Produto Interno Bruto (PIB) chinês com menor vigor em 2023. Prever o impacto de um crescimento mais baixo sobre as exportações brasileiras do agronegócio ninguém arrisca.

No primeiro semestre de 2022, o agronegócio como um todo embarcou 1% a menos em volume para o mundo todo e a China representou 35% do faturamento de US$ 79 bilhões. Em 2021, participou com 34%, desembolsando para os exportadores daqui acima de US$ 40 bilhões.

Um grau de importações abaixo das que o Brasil estava acostumado a ver nos anos anteriores está no monitor para o 2023, mas é bom lembrar que tanto o país asiático manobra a contenção das aquisições sempre que vê o apetite dos fornecedores por preços fora de controle, como também tem um arsenal de instrumentos de política econômica e monetária para controlar uma derrapagem maior da economia.

No primeiro caso, temos a soja, carro-chefe das vendas do Brasil para os asiáticos. Adriano Gomes, da AgRural, lembra que o USDA calculou, em janeiro, que a China importaria, mundialmente, 100 milhões de toneladas até dezembro, mas deverá ficar em 90 milhões concluindo o ciclo 21/22.

No 1º semestre o Brasil embarcou 12% a menos, 35,2 milhões de toneladas, sobre o 1S21, quando fechou o ano em 60 milhões/t.

Essa situação, a rigor, começou antes de a economia chinesa dar sinais de desaceleração e de margens ruins de esmagamento, que se viu mais intensamente a partir de maio.

Já tiraram o pé antes, quando os preços disparavam depois de uma safra brasileira em queda.

Para 2023, enquanto o mundo olha a possibilidade de o PIB subir no máximo 5%, como observado pelo FMI, os prognósticos de compra de soja vão a 98 milhões/t. Repercutindo ainda o órgão de Agricultura dos EUA, Gomes reflete que os números ainda ficam abaixo do recorde da temporada 20/21, de 99,8 milhões/t.

Em 2020 o PIB local avançou 8,1%.

Se for olhado, não há uma relação direta de PIB versus importações de soja, cujo desempenho ainda está preso às condições de evolução da recuperação do plantel de suínos e nem a margem de esmagamento está apenas diretamente condicionada ao consumo de carne.

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Carne de boi

Outro exemplo é o da carne bovina no último trimestre de 2021, quando a economia cravou 6% de alta. A China barrou por três meses as importações de carne brasileira, mesmo que o diagnóstico de vaca louca, que suscitou o embargo, deu negativo para risco humano poucos dias depois da notificação da doença.

O maior comprador da proteína nacional fechou 2022 com 950 mil toneladas, contra 1,2 milhão de 2020, e conseguiu frear os preços internos. Só voltou a importar do Brasil em fevereiro deste ano.

Já em 2022, mesmo com preços altos, e o PIB fraquejado, as vendas do Brasil aceleram, e devem voltar à casa das 1 milhão/t.

Verdade que por dois meses, no segundo trimestre, as importações chinesas foram pouco menores mês contra mês, embora maiores que na comparação com 2021, por conta dos lockdowns.

Mas foi caso pontual, como pode ser o de agora, caso avance perigosamente o contágio. Para 2023, precisaria se prever algum evento parecido para subtrair as previsões do comércio.

3º mandato de Xi

E, aqui, vale lembrar dos instrumentos que Pequim tem para calibrar a economia. Por duas vezes, aqui em Money Times, a economista do Bradesco (BBDC3) Fabiana D’Atri alertou que o “pouso suave” do PIB contratado pelo governo para 2022, em 5,5%, poderia ser calibrado para evitar derrapagem descontrolada.

A oxigenação da política monetária via redução das taxas de juros, liberação de parte do compulsório dos bancos, linhas de crédito para construção civil, entre outros já estão a caminho.

Se ainda assim sair do controle e o PIB correr o risco de ficar abaixo disso ao término dos 12 meses, o governo não deixará que se repita em 2023, ainda mais que o presidente Xi Jinping deve ser reeleito para o 3º mandato no Congresso do Partido Comunista, em outubro.

Fabiana, representante do Bradesco no Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), dizia também que o governo chinês jamais deixaria que a economia viesse a prejudicar a segurança alimentar do país, como, inclusive, não ocorreu durante do pico da pandemia, em 2020.

Os exemplos acima acabam por comprovar que o controle das importações não sofre pressão exagerada da economia.

A desaquecimento programado do PIB, visando dar mais qualidade ao desenvolvimento, que começou com a consolidação das milhares de indústrias químicas e, igualmente, com a crise da construtora Evergrande, lembra a economista, ainda não saiu do controle de Pequim.

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