Painéis solares se acumulam em meio à crise energética na Europa
Enquanto a Europa enfrenta uma crise energética, dezenas de milhares de painéis solares estão empilhados em depósitos na região.
O salto dos preços da eletricidade após a invasão da Ucrânia pela Rússia reforça o argumento para uma transição mais rápida rumo a fontes renováveis.
A demanda por energia solar de residências e empresas está em alta, e a oferta de painéis aumenta para atendê-la. Mas falta uma peça-chave do quebra-cabeça: não há engenheiros suficientes para instalar os módulos em telhados com a rapidez necessária para atender os pedidos.
“A energia solar é infraestrutura, e você não pode simplesmente estalar os dedos e fazer a infraestrutura acontecer”, disse Jenny Chase, analista de energia solar da BloombergNEF. Empresas de energia solar “começam a perceber que, na verdade, não estão instalando tão rápido quanto comprando”.
O atraso se reflete nos dados de exportação do maior produtor mundial de painéis solares. As vendas da China para a Europa totalizaram US$ 14,2 bilhões de janeiro a julho, ou cerca de 54 gigawatts, segundo a BloombergNEF. Esse volume é suficiente para abastecer mais de 16 milhões de residências na Alemanha, e acima da previsão da BNEF de 41 gigawatts instalados na região durante todo este ano.
A Europa ainda deve instalar uma quantidade recorde de capacidade solar em 2022, mas o número seria ainda maior se todas as pessoas em busca de painéis pudessem realmente obtê-los, de acordo com Dries Acke, diretor do grupo de lobby Solar Power Europe, com sede em Bruxelas.
“Instaladores em muitos países estão com a carteira de pedidos completa para as próximas semanas e meses”, disse Acke. Na Bélgica ou Alemanha, painéis encomendados agora só poderão ser instalados depois de março, afirmou.
O problema é que a instalação de painéis solares em telhados é trabalhosa. As interrupções causadas pela falta de instaladores são muito mais comuns no setor do que nas usinas construídas pelas concessionárias, segundo Daniel Tipping, analista da consultoria Wood Mackenzie.
Um dos maiores instaladores de painéis em telhados da Espanha, a Holaluz-Clidom, iniciou um programa para treinar trabalhadores e tentar solucionar a falta de mão de obra. Há um ano, a instalação de um sistema em telhado levava cerca de 180 dias, mas agora a empresa reduziu o prazo para um máximo de 45 dias, disse a diretora-presidente, Carlota Pi Amoros.
“Há uma demanda insana por energia solar na Espanha”, disse Pi Amoros em entrevista. “Estamos entrando no outono e garantimos a nossos clientes que terão seus painéis solares antes do inverno. É um chamariz de venda muito forte.”
Cadeia de suprimentos
A falta de mão de obra é o principal gargalo para a indústria solar da Europa no momento. Mas o acúmulo de painéis estocados em Roterdã, o maior porto do continente, também tem a ver com logística. Longos atrasos têm sido relatados na alfândega.
Ao mesmo tempo, com a escassez global de chips de computador, alguns painéis estão sem os inversores usados para processar eletricidade.
“’É um momento muito ruim para a cadeia de suprimentos”, disse Martin Schachinger, diretor-gerente da plataforma alemã de corretagem solar pvXchange Trading. “Não temos chance de atingir nossas metas climáticas nos próximos anos se essa escassez atrasar o crescimento da indústria.”
E há outra ameaça iminente, embora a longo prazo. Parlamentares da União Europeia propuseram levar a proibição do bloco contra mercadorias fabricadas com trabalho forçado a países terceiros. Para a indústria solar chinesa, é um efeito da repressão dos EUA a produtos fabricados em Xinjiang, um polo de matérias-primas para grande parte da produção solar do país.
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