Pacote fiscal: Fica evidente para o mercado que a orientação é 2026, diz banqueiro
O anúncio do pacote fiscal, junto com a isenção do Imposto de Renda, passou a mensagem ao mercado de que a orientação do governo é política e populista, visando as eleições para a presidência em 2026, afirmou o CEO do BR Partners (BRBI11), Ricardo Lacerda, ao Money Times.
“O Ministro Fernando Haddad não consegue fazer prevalecer sua posição. Temos uma expectativa fiscal muito negativa”.
Na última quarta, Haddad anunciou pacote com R$ 70 bilhões para os próximos dois anos. Porém, algumas casas veem outros números, com uma economia de R$ 40 bilhões.
As medidas foram suficientes para fazer o dólar disparar 4%, a R$ 6, ultrapassando a máxima histórica. Já o Ibovespa despencou mais de 2% no período.
Segundo o ministro, o impacto da isenção do IR será “neutralizado” por um aumento na taxação de salários acima de R$ 50 mil — o que tem sido considerado “insuficiente” pelo mercado.
Em reação, os economistas consultados pelo Banco Central elevaram as expectativas para a moeda norte-americana para os próximos anos, segundo o Boletim Focus desta segunda-feira (2).
Agora, as projeções são de dólar a R$ 5,60 no final de 2025 e de 2026. A estimativa para o final desde ano foi mantida em R$ 5,70 — apesar da percepção negativa sobre o cenário fiscal.
Sobre a moeda, Lacerda diz que o mercado parece projetar uma forte inflação para 2025.
Perda de oportunidade
No geral, o pacote foi visto como uma ‘perda de oportunidade’ do governo, que tinha tudo para enviar uma mensagem positiva aos investidores.
Também ao Money Times, o economista sênior da Julius Baer Brasil, Gabriel Fongaro, “[o pacote de corte de gastos] era a crucial”.
Fongaro disse que o pacote decepcionou tanto em relação à economia prevista quanto na qualidade das medidas.
“O mercado não acredita nos R$ 70 bilhões de economia que o governo projetou para os próximos dois anos. Tem também uma decepção na qualidade, com menos medidas estruturais do que foi imaginado”.
Na análise da Julius Baer, o número real deve da economia proveniente do pacote de ser de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões.
Já em relação às mudanças estruturais, o economista pondera medidas ventiladas na mídia, mas que não foram propostas, como: a revisão do seguro-desemprego e dos mínimos constitucionais de saúde e educação.
Além disso, ele cita a lentidão na alteração na regra do abono salarial, uma vez que a ideia de reduzir o acesso para quem recebe um salário e meio deve valer apenas em 2035.
Segundo o economista, existia uma percepção sobre uma “janela benigna” para Lula.
O mercado esperava que o presidente da República aceitasse medidas de ajuste fiscal, que poderiam organizar a situação econômica do país e ajustar os preços de ativos, e apenas depois entraria no ciclo eleitoral, pronto para fazer estímulos e gastar com a eleição.
No entanto, Fongaro afirmou que a proposta de aumentar a faixa de isenção do IR — que, inclusive, estava no plano de governo de Lula — escancarou que tal janela não existe. “O Lula já está pensando nas eleições de 2026”.
Com Giovanna Leal