Dólar deve se manter alto no curto prazo, diz economista-chefe da Nomad
O dólar à vista (USBRL) superou a marca de R$ 6 pela primeira vez no final de novembro e mantém-se no nível histórico desde então — com valorização acumulada de quase 6% no período.
O gatilho para a disparada norte-americana foi o anúncio do pacote fiscal acompanhando pela ‘surpresa’ da isenção do imposto de renda para salários de até R$ 5 mil.
“O que gerou esse estresse todo foi uma percepção de que o problema maior não está sendo endereçado. Então, esse é o grande custo do anúncio”, disse o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, em entrevista ao Money Times.
Segundo ele, o mercado passou a ter uma visão de que o balanço de risco da economia brasileira ficou muito pior.
“Claro que a história principal é a postura fiscal do do governo que tem dificuldades para controlar a evolução na dívida pública”, acrescentou Igliori.
Na avaliação do economista, o dólar deve se manter em níveis altos no curto prazo — ou pelo menos, enquanto o governo não der uma mensagem “mais firme” sobre o compromisso com as contas públicas.
Para diminuir o estresse dos ativos locais, e principalmente do “precisaria ter uma mensagem muito contundente, não só do Executivo, mas também do Congresso de que a agenda fiscal subiu para prioridade número um na agenda de 2025”, disse.
“Está claro para todos que temos como fugir desse debate mais estrutural sobre as nossas questões fiscais, particularmente sobre a estrutura de despesas. Essa mensagem tem que vir com força total.”
Nos últimos dias, o Congresso Nacional tem se empenhado na aprovação do pacote fiscal, na tentativa de reduzir ‘os danos’ no mercado — mas ainda é visto como insuficiente para conter a disparada do dólar.
“É muito importante nesse momento, mas neste momento não adianta mais vim só com medidas pontuais para lidar com a evolução [dos gastos públicos] de curto prazo”, afirmou economista-chefe da Nomad.
Quem mais tem culpa na disparada do dólar?
Apesar de ser um dos ‘grandes vilões’, o pacote fiscal não é o único culpado para a disparada recente do dólar.
Na reta final do ano também é comum a saída mais expressiva de dólares do país, como o aumento das remessas de pessoas físicas e empresas para o exterior e o pagamento de taxas de dividendos.
O exterior também pesa contra o real. Em janeiro, Donald Trump assume a presidência dos Estados Unidos — e deve colocar em prática as medidas mais protecionistas, como a imposição de tarifas para produtos de vários países. E o Brasil está entre os alvos do republicano.
Como resultado, o dólar deve permanecer forte ao longo de 2025 — o que já está precificado no câmbio, na visão do economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori.
“O dólar flutuando entre R$ 5,50 e R$ 6 já tinha um bom pedaço de expectativa sobre o ciclo de juros nos Estados Unidos, que a gente sabe que tudo indica que vai ser um ciclo muito profundo”, afirmou Igliori.
“Agora, a cotação da divisa entre R$ 6 e R$ 6,50 é essencialmente doméstico. Mas ainda não dá para ver algo que impulsione o dólar para ir para R$ 7 no curto prazo.”
Intervenções do Banco Central
Na última quinta-feira (19), a moeda norte-americana bateu R$ 6,30 — mesmo com uma sequência de intervenções do Banco Central nos últimos dias.
Na avaliação do economista da Nomad, não dá pra saber o que aconteceria se os leilões do BC não fossem feitos.
“A motivação por trás desses leilões é, obviamente, lidar com o estresse [do mercado] nesse momento. O Banco Central não está mudando, de forma deliberada, a estratégia com relação à política cambial”, disse Igliori.
“[As intervenções ] não estão trazendo o dólar para baixo de R$ 6 novamente, porque a gente realmente está vivendo um momento de estresse”.
Desde 12 de dezembro, o BC já injetou mais de US$ 20 bilhões em uma série de intervenções no câmbio, incluindo vendas à vista e leilões de linha (dólares com compromisso de recompra).
Ontem (19), o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária seguirá atuando no câmbio a depender do fluxo de saída.
Segundo ele, as intervenções foram para lidar com disfuncionalidades do mercado, e não fazer frente a pioras em prêmios de risco, gerir dívida ou fazer política monetária.
Já o diretor de Política Monetária e próximo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse não ver um ataque especulativo como justificativa para a alta do dólar nos últimos dias.