Pacote de corte de gastos decepcionou? Ibovespa (IBOV) cai mais de 1% após anúncio de medidas
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou o tão agurdado pacote de corte de gastos, em linha com as expectativas — o que pegou de surpresa foi o anúncio conjunto de que quem ganha até R$ 5 mil ficará isento de Imposto de Renda (IR). O mercado reage negativamente ao pronunciamento do governo, com o Ibovespa (IBOV) operando em queda acentuada nesta quinta-feira (28).
Por volta de 12h05, o índice caía 1,15%, aos 126.201 pontos. Já o dólar superou máxima histórica, batendo os R$ 6 na manhã desta quinta.
De quebra, hoje as Bolsas dos Estados Unidos não abrem devido ao feriado de Ação de Graças no país, afetando a liquidez do mercado brasileiro. Na sexta-feira (29), inclusive, o mercado norte-americano opera até às 13h.
Haddad confirmou em seu anúncio em rede nacional uma economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. As medidas incluem:
- Reajuste do salário mínimo acima da inflação, mas “de forma sustentável”.
- Idade mínima para militares entrarem na reserva.
- Limite para transferências de pensões militares.
- Abono salarial restrito a quem ganha até R$ 2.640, corrigido pela inflação até atingir 1,5 salário mínimo.
- Crescimento das emendas parlamentares abaixo das regras fiscais.
O pacote ainda irá passar pelo crivo do Congresso antes de efetivamente valer. Em coletiva de imprensa ao lado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, Haddad disse que os líderes da Câmara dos Deputados e do Senado receberam de forma “bastante favorável” o pacote de contenção de gastos anunciado pelo governo, dizendo acreditar no encaminhamento das medidas no Congresso.
Pacheco, por sua vez, afirmou que o pacote de medidas está entre as prioridades do Senado para as próximas três semanas.
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Entre analistas, o clima após o anúncio ficou de decepção, uma vez que a espera para o pronunciamento do governo se alongou e, enquanto o mercado ansiava pelos cortes, veio junto e elevação da faixa no Imposto de Renda.
Vale pontuar que, segundo Haddad, a elevação da isenção para R$ 5 mil será compensada por maior tributação sobre rendas acima de R$ 50 mil mensais – sem impacto fiscal, segundo ele.
O que esperar do mercado brasileiro?
Na avaliação de Felipe Reis, estrategista da EQI Research, a impressão inicial é de que o esforço de corte de gastos potencial foi ofuscado pelo novo patamar de isenção de IR.
“Notamos que as medidas terão que ser aprovadas pelo Congresso, que poderá alterá-las, o que amplia nosso ceticismo sobre o saldo fiscal efetivo resultante do pacote”, avalia. Para Reis, as preocupações do mercado com a evolução da dívida pública não serão mitigadas pelo pacote anunciado.
Para Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, o discurso do ministro trouxe avanços em relação ao compromisso com a sustentabilidade fiscal, sendo o destaque positivo do pronunciamento a proibição de benefícios tributários em caso de déficit primário.
“Contudo, a proposta de tributar fundos exclusivos e super-ricos gera incertezas no mercado financeiro, pois pode reduzir o apetite de investidores de alta renda, impactando o fluxo de capital para a bolsa e a entrada de investimento estrangeiro, afetando dolar e inflação”, avalia Lima.
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Além disso, ele comenta que o o estímulo ao consumo e os reajustes salariais podem gerar pressões inflacionárias, dificultando a manutenção da política monetária restritiva.
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, afirma que o governo poderia ter se comunicado melhor, com foco apenas no ajuste das contas para em um outro momento falar da ampliação da isenção do Imposto de Renda.
“Isso vai levar a um nervosismo muito grande no mercado, hoje possuímos feriado de ação de graças nos EUA, então se tende a ter um fluxo de saída de capital maior do que entrada, penso que se aguardou muito sobre o corte de gastos e não foram tomadas as melhores medidas no melhor momento”, diz.
*Com informações da Reuters