Opinião

Ouro e decisão do Fed: Quando uma semana parece longa demais

23 jul 2019, 10:56 - atualizado em 23 jul 2019, 11:24
Jerome Powell
Investidores avaliam possível corte da Fed Funds Rate (Imagem: Facebook do Federal Reserve)

Barani Krishnan/Investing.com

Uma semana às vezes parece ser longa demais nos mercados. E ninguém melhor para dizer isso neste momento do que os comprados em ouro.

Os investidores do ouro aguardam ansiosamente o primeiro corte de juros nos EUA em mais de uma década desde a crise financeira. Mas terão de aguentar pelo menos mais uma semana antes de saber se o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) atenderá esse anseio.

O que torna essa espera ainda mais difícil é a falta de qualquer informação sobre os juros pelo Fed até a decisão de política monetária na reunião de 31 de julho.

A apenas uma semana da atualização da política mensal do banco central, as autoridades do Fed estão evitando fazer discursos públicos e entrevistas que possam intensificar a especulação do mercado sobre suas intenções.

Isso deixa os investidores sem novas informações sobre a perspectiva dos formuladores da política para os juros ou estímulo econômico. E não é apenas o Fed que está fazendo isso.

O Banco Central Europeu (BCE) também deverá anunciar sua própria atualização de política monetária em 25 de julho, com possível corte de juros.

“Blecaute” do Fed e do BCE aumenta o drama da espera dos investidores do ouro

Depois de semanas dando pistas sobre a direção da taxa de juros, os dois principais bancos do mundo de repente saíram do ar.

O “blecaute” de informações praticamente deixa os investidores do ouro sem norte, que deverão definir suas operações sozinhos até o desfecho da situação ao contrário do que aconteceu no mês passado, quando houve diversas indicações de um iminente corte de juros.

A boa notícia, no entanto, é que eles talvez não precisem esperar uma semana inteira para descobrir o jogo do Fed. Um corte de juros nos EUA é quase certo se o BCE flexibilizar sua política na quinta-feira.

O mercado precificava uma possibilidade de corte de juros pelo BCE maior que 50% na semana passada, com uma redução de 10 pontos-base. Bancos centrais menores na Coreia do Sul e África do Sul já cortaram juros na semana passada.

A maioria dos traders de juros espera uma redução de 25 pontos-base pelo Fed em 31 de julho. Isso faria com que a taxa dos fundos federais caísse de 2,25% para 2%. Outro corte de 25 pontos-base tem sido precificado para a reunião de setembro do Fed.

Ouro tem recomendação técnica de “compra”; projeções de curto prazo variam de US$ 1.500 a US$ 1.385

Gráfico Mensal Ouro - Powered by TradingView
Gráfico Mensal Ouro – Powered by TradingView
Os investidores do ouro estão apostando que o mercado ultrapassará as recentes máximas de seis anos, acima de US$ 1.500 por onça, se o Fed realizar os cortes indicados. Nas últimas duas semanas, o presidente do Fed, Jerome Powell, deixou clara sua preferência por uma flexibilização imediata para estimular o crescimento e afastar qualquer fraqueza na atividade que pudesse interromper a expansão de quase uma década sem parar.

A Perspectiva Técnica Diária do Investing.com tem recomendação de “compra”, projetando resistência mais próxima a US$ 1.436,05. No início do pregão asiático desta terça-feira, tanto o ouro spot, que reflete as negociações em lingotes, quanto os futuros nos EUA para entrega em agosto eram negociados abaixo de US$ 1.418.

Mas nem todos os banqueiros do Fed concordam com um corte. Antes do período de silêncio do banco central, o presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, declarou, após o fechamento do mercado na sexta-feira, que não via qualquer razão para o tão propalado corte de 25 pontos-base na próxima reunião.

Rosengren insistiu que a economia norte-americana estava em uma posição muito mais sólida do que a da zona do euro ou do Japão, onde havia uma expectativa geral de que os bancos centrais seguissem uma política de afrouxamento.

“Não vejo necessidade de uma flexibilização se a economia [dos EUA] está indo perfeitamente bem sem ela”, declarou ele em uma entrevista à CNBC.

Stephen Innes, sócio-diretor da Vanguard Markets, em Cingapura, alertou que a reação do ouro “será assimétrica em relação à mensagem de corte de juros do Fed após julho”.

Innes complementou:

Ainda é preciso ter cautela nesta semana, pois o movimento especulativo ultrapassou os US$ 1.400, com notícias que apontam para um corte de 25 pontos-base pelo Fed em julho, portanto tudo dependerá do prognóstico do Fed na coletiva de imprensa do presidente Powell após o FOMC.”

“Se tivermos um corte aparentemente improvável de 50 pontos-base, o ouro pode rapidamente subir para US$ 1.485. Mas, se as declarações do presidente Powell não atenderem as expectativas de moderação futura do mercado, os preços do ouro podem despencar para baixo de US$ 1.400 e possivelmente testar US$ 1.385 se o Fed for visto como mais rigoroso do que os mercados esperam.”

O analista britânico de metais preciosos e contribuinte do Investing.com, Clive Maund, também acredita que os preços do ouro podem apresentar um cenário misto daqui para frente.

Mas ele não espera que os investidores do ouro se desfaçam tanto do ativo, pois acreditam não só nas tendências técnicas a seu favor, mas também no principal suporte de preços decorrente das ameaças militares entre Estados Unidos e Irã.

Maund diz ainda:

“O cenário maior é fortemente altista, mas, se houver uma piora drástica na situação do Irã, parece que o mais provável é um período de consolidação/reação antes de ganhos significativos.

Se o ouro e o setor reagirem, é pouco provável que seja de maneira intensa, e qualquer reação desse tipo pode ser usada para aumentar as posições em todo o setor.”

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