Otan está dividida sobre eventual acordo entre Rússia e Ucrânia
Enquanto aliados da Otan discutem os termos de um eventual acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, sinais de divisões estratégicas estão surgindo dentro da aliança militar.
Com a guerra entrando em seu segundo mês, uma série de dilemas está surgindo sobre quais condições poderiam ser consideradas aceitáveis pela Ucrânia, especialmente no que diz respeito às garantias de segurança que os membros da aliança podem oferecer a Kiev.
Existem também divergências sobre que outras armas enviar à Ucrânia e se falar com o presidente russo Vladimir Putin ajuda ou não, segundo pessoas familiarizadas com discussões que ocorreram na semana passada entre líderes de ambos os lados do Atlântico e documentos vistos pela Bloomberg.
Algumas dessas diferenças vieram à tona no fim de semana depois que o presidente americano Joe Biden disse que Putin não poderia permanecer no poder, e depois voltou atrás quando seus comentários atraíram críticas.
Para evitar um confronto militar, o objetivo é alcançar um cessar-fogo agora, e depois a retirada das tropas russas por meios diplomáticos, disse o presidente francês Emmanuel Macron à televisão francesa quando perguntado sobre os comentários de Biden.
Berlim está em uma sintonia parecida. O porta-voz chefe do chanceler Olaf Scholz, Steffen Hebestreit, disse na segunda-feira que “a maior prioridade agora é conseguir um cessar-fogo para que a matança possa parar.”
Scholz discutiu o processo de negociação na segunda-feira com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy.
Mas outros membros da Otan acreditam que o diálogo que Paris e Berlim estão mantendo com o Kremlin é contraproducente e pode acabar favorecendo Putin, de acordo com um dos documentos.
O Reino Unido, a Polônia e outros países da Europa central e oriental – com exceção da Hungria – estão céticos de que o presidente da Rússia esteja levando a sério a negociação de um acordo de paz aceitável, segundo o mesmo documento.
O primeiro-ministro Boris Johnson, do Reino Unido, disse a repórteres que Putin já havia passado dos limites com suas ações na Ucrânia.
“Está claro que precisamos estar atentos ao fato de que ele não cumpriu suas promessas”, disse Max Blain, porta-voz do primeiro-ministro, na segunda-feira. “Temos visto Putin dizer uma coisa e fazer outra.”
Dois outros diplomatas de alto escalão do grupo das nações mais céticas disseram à Bloomberg que estavam preocupados que Macron pudesse pressionar Zelenskiy a concordar em tornar seu país neutro nos termos da Rússia, em troca de um cessar-fogo. Eles observaram, no entanto, que Macron foi claro ao refutar as exigências de Moscou sobre a integridade e soberania territorial da Ucrânia.
Zelenskiy disse estar aberto a adotar a neutralidade como parte de um acordo de paz com a Rússia, mas que tal pacto teria que vir com garantias de segurança e ser submetido a um referendo.
Um dos diplomatas disse que deixar questões em aberto sobre o território da Ucrânia para futuras negociações diplomáticas seria arriscar repetir erros do passado. Um alto funcionário da Europa ocidental questionou se as garantias se aplicariam às fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia ou àquelas que surgirem após a guerra, segundo outro documento visto pela Bloomberg.
Macron disse que está conversando com Putin porque Zelenskiy pediu, além de estar tentando assegurar os corredores humanitários para saída de civis. Um diplomata disse que Macron também poderia transmitir informações ao presidente russo sobre o quão ruim a guerra tem sido para suas tropas, já que aqueles ao seu redor provavelmente estariam escondendo a verdade.