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Os três principais direcionadores de preço do bitcoin para 2021

06 jul 2020, 9:58 - atualizado em 06 jul 2020, 10:04
Conforme o coronavírus continua a assolar a economia global, mercados acionários estão em alta e gestores de fundos estão tendo problemas em encontrar um lugar para todo o dinheiro, é um cenário que só favorece o bitcoin (Imagem: Freepik/starline)

Observando o mercado hoje em dia, está bem claro que a lacuna entre a economia e o mercado continua a aumentar. Conforme a crise do coronavírus piora nos EUA, o mercado acionário terminou o segundo trimestre de 2020 com sua melhor performance em mais de 20 anos.

Hoje, junto com ações, o preço do bitcoin se recuperou de sua baixa em março. O aumento de preço recente do bitcoin e os grandes e futuros desafios econômicos fizeram os investidores se perguntarem: “o bitcoin é um bom investimento agora?” ou “já perdi o bonde?”.

Embora o preço do bitcoin continue volátil a curto prazo, investidores devem focar em seu resultado a longo prazo.

Neste artigo, Kehan Zhou, fundador da Wall Strategies, analisará três direcionadores macroeconômicos que irão não apenas impulsionar o preço do bitcoin em 2021, como também impulsioná-lo para a adesão em massa.

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1. Políticas monetárias agressivas

COVID-19 deixou o Federal Reserve sem ter para onde ir. Desesperado para salvar a economia, o Fed esteve emitindo “dinheiro fácil” desenfreadamente ao comprar títulos do governo por meio do afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês).

O que é interessante sobre o novo programa QE é a alta velocidade em que ativos são comprados. Após a recessão de 2008, o Fed adquiriu mais de US$ 4 trilhões em ativos nos últimos seis anos, uma quantidade que, na época, era considerada controversa.

Porém, desde que a pandemia começou há três meses, o Fed comprou quase US$ 3 trilhões a mais em ativos e, assim, injetando quase a mesma quantidade de dinheiro na economia em poucas semanas, assim como o fex seis anos após a Crise Financeira Global.

Com a aquisição de US$ 4 trilhões em títulos, o Fed evitou um desastre econômico ao injetar dinheiro na economia. Porém, essa vitória tem um custo.

A desvantagem desse programa agressivo de afrouxamento quantitativo é a inflação prolongada a longo prazo. O excesso de dinheiro e crédito irá atingir a economia e aumentar os preços. Pessoas comuns e detentores de títulos terão de pagar o preço quando o dinheiro e os títulos perderem valor.

A pressão inflacionária aumentará cada vez mais por conta dos estímulos monetários agressivos (Imagem: Unsplash/@jpvalery)

A pressão inflacionária também veio para ficar. Grande parte dos títulos comprados pelo Fed terão uma maturidade de cinco anos ou mais, ou seja, o dinheiro fácil vai continuar na economia bem depois da pandemia.

Os EUA não são o único país com um programa agressivo de afrouxamento quantitativo. O Japão e alguns países da Europa também tomaram esse tipo de medida em março.

Então, estamos observando um aumento global na pressão inflacionária causada por políticas monetárias agressivas de bancos centrais.

Bitcoin como um protetor contra a inflação

Para investidores em bitcoin, a inflação tem sido mais uma amiga do que uma inimiga. O bitcoin é um ativo à prova de inflação e a pressão inflacionária deve impulsionar o preço do bitcoin em 2021 — principalmente por meio de dois mecanismos:

1 o bitcoin é precificado contra moedas fiduciárias. Conforme a inflação aumenta o valor de moedas nacionais como dólar e iene, o bitcoin se tornará mais valioso quando comparado;

2 o fornecimento fixo do bitcoin. A natureza deflacionária do bitcoin atrairá novos investidores que buscam por uma proteção contra a inflação. A demanda por ativos deflacionários pode resultar em um outro aumento de preço do bitcoin conforme moedas fiduciárias perdem seu valor.

A elevada avaliação e a abalada realidade econômica não apresentam uma boa proporção entre risco/retorno para investidores (Imagem: Freekpik)

2. Níveis elevados de ativos

Bancos centrais não são os únicos a desbravar um território desconhecido. Wall Street possui um dilema bem estranho. Gestores de fundos de hedge e investidores individuais estão com um nível recorde de dinheiro e estão tendo dificuldades de aplicar seu capital no mercado acionário e de títulos.

Mercado acionário artificialmente inflacionado

A divergência recente entre os preços acionários e a realidade econômica sinalizam que ações são sobreavaliadas. Na última década, após a Grande Recessão, o mercado acionário americano atingiu recorde seguido de recorde com o período mais longo de crescimento de 128 meses.

Apesar do coronavírus estar afetando a economia americana, o mercado acionário está sendo sustentado pelo Fed. ⅓ das empresas no índice S&P 500 removeu suas orientações de rendimento e muitas estão reduzindo dividendos.

Ainda assim, o mercado acionário quase se recuperou para sua maior alta pré-COVID. A elevada avaliação e a abalada realidade econômica não apresentam uma boa proporção entre risco/retorno para investidores. Como resultado, mais pessoas estão retirando seu dinheiro do mercado acionário.

Programas agressivos de compra de títulos fizeram com que rendimentos de títulos ficassem drasticamente baixos (Imagem: Freepik)

Retorno deprimente no mercado de títulos

Em um mercado normal, altos preços de ações são acompanhados por altos rendimentos de títulos. A relação inversa entre preços de títulos e ações dá aos investidores a oportunidade de migrar para a renda fixa quando as ações estão superaquecendo.

Porém, esse não é o caso agora. Programas agressivos de compra de títulos fizeram com que rendimentos de títulos ficassem drasticamente baixos.

Além disso, a busca por ativos mais seguros durante a pandemia abaixou os rendimentos do tesouro para seus piores níveis e nunca se recuperaram. Já que o rendimento da Nota do Tesouro de dez anos está em apenas 0,673% por ano, não é novidade que investidores estão se afastando dos títulos.

A busca por ativos alternativos

Os níveis elevados de preço para ações e títulos criaram uma oportunidade para que o bitcoin atraia novos fundos e investidores. Quando gestores de fundos não conseguem atingir alvos de desempenho com ações e títulos, buscam por outras classes de ativos para impulsionar seus portfólios.

O problema dos elevados níveis de ativos é que a proporção de risco/retorno não é muito atrativa. Embora o bitcoin tenha alta volatilidade, o risco é justificado por seu alto potencial de crescimento que não existe em títulos e ações.

Quando comparamos o desempenho do bitcoin e do fundo negociado em bolsa (ETF) da S&P 500 — SPY —, podemos analisar que a performance do bitcoin ofusca a do mercado acionário. No momento desta publicação, o preço do bitcoin subiu 26% enquanto SPY caiu 4,18% desde o início do ano.

O preço do bitcoin aumentou 26% desde o dia 1º de janeiro (Imagem: Dados de Mercado da BNC)

Na verdade, os elevados preços de ativos já direcionaram mais dinheiro em bitcoin. Em 2019, fundos de hedge de cripto duplicaram seus ativos sob gestão (AUM) segundo a PwC.

Dado o cenário de baixo rendimento, podemos esperar que mais dinheiro entre no bitcoin e, assim, aumente mais o preço da criptomoeda em 2021.

3. Contração econômica

O surto do coronavírus encerrou a expansão econômica de 128 meses dos EUA. Estamos oficialmente entrando na fase de contração do ciclo comercial. Durante uma contração, o lucro de empresas cai.

Empresas devem reduzir sua quantidade de funcionários para cortar custos e algumas irão enviar um pedido de falência. Infelizmente, grandes falências já começaram a acontecer, incluindo JC Penny, Hertz e Chinos.

Conforme mais empresas sofrem com a baixa rentabilidade, podemos esperar que mais pedidos de falência venham à tona de 2021 (Imagem: Freepik)

Conforme mais empresas sofrem com a baixa rentabilidade, podemos esperar que mais pedidos de falência venham à tona de 2021.

Proteção contra recessão

Em uma recessão, ativos de porto seguro tiveram melhor desempenho que outros investidores conforme pessoas buscam por ativos mais seguros. Embora o bitcoin ainda não seja um ativo de refúgio completo como ouro e prata, é, desde sua concepção, uma proteção contra a economia convencional.

Independente de um banco central, o bitcoin tende a ter um desempenho melhor quando as pessoas perdem a fé na economia e no Fed. Diferente da Grande Recessão de 2008, a capacidade do Fed em salvar o dia não demonstra confiança.

A taxa de juros já está próxima a zero e o balanço do Fed já está bem forte. Com pressão inflacionária, inflados preços de ativos e contração econômica, mais investidores começarão a considerar o bitcoin como uma opção de investimento atrativa, o que provavelmente impulsionará o preço do bitcoin em 2021 e além.