Os motivos que levam o dólar a disparar no exterior; real pode chegar a qual cotação?
O dólar atravessa uma forte turbulência nos mercados globais e chegou às máximas no pregão de ontem (27).
Frente ao real, a divisa norte-americana atingiu os maiores níveis desde o fim de maio, ao alcançar R$ 5,07 para venda no movimento intradiário – mas fechou cotada a R$ 5,04 no mercado à vista.
Contudo, o comportamento local nas últimas semanas é reflexo do mau humor que toma conta das moedas globais e que se intensificou na véspera. Com isso, o Dollar Index (DXY) – índice que mede a força do dólar ante uma cesta de divisas como euro, libra esterlina e iene -, chegou ao maior patamar desde novembro de 2022.
Sendo assim, o DXY caminha para fechar em alta pela 11ª semana seguida, iniciando a tendência de valorização em julho, saindo de 99 pontos para as máximas de 106,8 no pregão de ontem.
O início do ciclo de valorização do dólar no exterior começou uma semana antes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) retomar a elevação de juros. No encontro da autoridade monetária, no fim de julho, a taxa de juros subiu em 0,25 ponto percentual (p.p.), para o intervalo entre 5,25% e 5,50%.
Por que o dólar dispara no exterior?
A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, deixa claro que a disparada do dólar no exterior está relacionada ao “salto da curva de juros”.
Com isso, as taxas do mercado de títulos americanos (treasuries) continuaram trajetória ascendente nesta semana. A liquidação das treasuries tomou corpo depois da decisão da semana passada do Fomc.
Embora tenha pausado o aperto monetário na atual faixa dos 5,25%-5,50%, o comunicado do Fed demonstrou que a autoridade monetária tem apetite por novas altas e projeta juros transitando na faixa dos 5% até o fim do ano que vem.
Abdelmalack avalia que a trajetória de alta dos títulos americanos são decorrentes não apenas das sinalizações que a taxa de juros permanecerá elevada por um período prolongado.
“A questão não é nem se o Fed vai fazer uma elevação residual dos juros. Mas é o fato de, na semana passada, quando eles indicaram que quando começar o corte de juros, em 2024, não será tão forte quanto o que era previsto. Isso mexeu também bastante no mercado”, comenta.
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O alerta das treasuries
Desde a última decisão do banco central americano, a lupa dos investidores se voltou para as T-notes de 10 anos, o título de longo prazo mais relevante para o mercado. O ativo é utilizado por analistas para inferir o preço justo de demais categorias (taxas maiores para as T-notes significam queda do preço justo dos ativos).
Ontem, as T-notes fecharam com taxas superiores a 4,6%, imprimindo passo firme na busca dos 5%, terreno já coberto pelos títulos de 2 anos.
Desta forma, o reposicionamento dos títulos de longo prazo nas máximas dos últimos 16 anos acompanham uma piora na percepção fiscal dos Estados Unidos, com a indefinição sobre o orçamento do governo no centro da discussão.
O panorama de incerteza fiscal no longo prazo leva a um aumento do prêmio dos títulos. Isto é, a compensação para que investidores mantenham-se comprados ao longo até seu tempo de maturação.
Entretanto, o que vem preocupando os analistas de Wall Street é a velocidade com que a perda de valor desses títulos da dívida dos Estados Unidos está ocorrendo. O que pode tornar um grande problema para detentores financeiros dos ativos. Portanto, na prática, isso significa um aumento de chance de um evento como o da falência de bancos regionais, observado em março, volte a acontecer em breve.
E o real?
Para o economista e consultor André Perfeito, o real seguirá no patamar de R$ 5,00 até o fim de 2023 e enumera motivos. “Se os juros de curto prazo não caírem nos Estados Unidos, se o juros longos vão continuar pressionados e se por aqui, a perspectiva é de queda da [taxa] Selic até 9% a ‘conta erro’, teremos um dólar mais forte”, diz.
Ele observa que, se é verdade que o mercado deve “realizar” lucros nos Estados Unidos de maneira relevante nos próximos meses somado a uma crise econômica, o mesmo mercado que acredita que os juros irão permanecer elevados hoje, começará a precificar queda de juros só em 2024.
“Eu sei que isso ainda não está no radar. Porém, se a crise for séria como se imagina, o Fed não poderá fingir que não tem nada acontecendo e deve sinalizar cortes no próximo ano. Se isso acontecer, o real deve se apreciar. Mas para isso acontecer, o mercado e a economia americana tem que ‘sofrer’ antes”, pondera.
*Com Jorge Fofano