Meio Ambiente

Os mistérios em torno do petróleo que chega às praias do Nordeste

25 out 2019, 19:29 - atualizado em 25 out 2019, 19:29
A data exata em que o petróleo começou a chegar em terra não está clara, mas o governo lançou sua resposta em 2 de setembro e o vazamento capturou maior atenção das pessoas nas semanas seguintes (Imagem: REUTERS/Lucas Landau)

Uma camada espessa de petróleo vem atingindo vastos trechos do litoral da Região Nordeste há quase dois meses, e autoridades e especialistas têm sugerido várias teorias sobre sua origem. Veja o que se sabe até agora sobre o desastre ambiental e o que permanece um mistério.

O que aconteceu?

O petróleo apareceu em milhares de quilômetros de praias, manguezais e recifes nas margens dos nove Estados do Nordeste. Segundo o Ibama, 238 locais foram afetados, incluindo algumas das praias mais famosas do país.

A data exata em que o petróleo começou a chegar em terra não está clara, mas o governo lançou sua resposta em 2 de setembro e o vazamento capturou maior atenção das pessoas nas semanas seguintes.

Até 21 de outubro, o Brasil coletou 600 toneladas de lodo nos esforços de limpeza, e trabalhava para reabilitar pássaros e tartarugas marinhas cobertos pelo óleo.

Nordeste Mar Petroleo
Em vez disso, o óleo é um petróleo bruto especialmente pesado, tão denso que frequentemente flutua abaixo da superfície da água, tornando muito mais difícil encontrar a fonte ou medir a escala completa (Imagem: REUTERS/Diego Nigro)

Fato Incomum?

O óleo não chegou a grandes manchas flutuando na superfície, como visto em vazamentos históricos como o navio-tanque Exxon Valdez em 1989 ou a explosão de 2010 da plataforma de perfuração de petróleo Deepwater Horizon no Golfo do México.

Em vez disso, o óleo é um petróleo bruto especialmente pesado, tão denso que frequentemente flutua abaixo da superfície da água, tornando muito mais difícil encontrar a fonte ou medir a escala completa.

O óleo está surgindo à medida que desemboca esporadicamente na praia, o que significa que uma praia pode ver grandes quantidades de petróleo, enquanto outra ao lado não será afetada completamente.

O óleo está surgindo à medida que desemboca esporadicamente na praia, o que significa que uma praia pode ver grandes quantidades de petróleo, enquanto outra ao lado não será afetada completamente (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O que o governo tem feito?

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os governos estaduais e a Marinha estão envolvidos nos esforços de limpeza. Nesta semana, até 5 mil homens do Exército também foram mobilizados.

O Ibama disse que, como o óleo não flutua, os métodos convencionais são ineficazes, como barreiras para impedir que o óleo chegue à costa. Em vez disso, os esforços foram concentrados em coletar o óleo que desemboca na praia.

A Marinha está liderando uma investigação sobre a fonte do petróleo, com apoio de outras agências e da Petrobras. A Polícia Federal também está investigando possíveis atividades criminosas associadas ao derramamento.

Petróleo praias nordeste
O Ibama disse que, como o óleo não flutua, os métodos convencionais são ineficazes, como barreiras para impedir que o óleo chegue à costa (Imagem: Felipe Brasil/Fotos Públicas)

Qual é a fonte?

A origem do petróleo continua sendo um mistério, com o governo e especialistas sugerindo várias teorias. Nesta sexta-feira, a Petrobras disse que o óleo foi produzido em 3 campos de exploração venezuelanos, mas não há informações sobre como ele chegou ao litoral brasileiro.

No início, alguns pensavam que o óleo poderia ser resíduo da lavagem do tanque de um navio no mar. Mas o governo agora considera isso improvável com base na quantidade de petróleo, disse uma fonte familiarizada com o assunto à Reuters.

Outros especularam que poderia ser um naufrágio, possivelmente um navio antigo no fundo do mar que corroeu a ponto de o tanque de óleo vazar.

Uma teoria proeminente é de que o petróleo é resultado de uma transferência “navio a navio” que deu errado. Nessas transferências, o petróleo é canalizado entre os navios no mar com uma mangueira e outros equipamentos.

Se uma mangueira rompesse à noite durante uma transferência e ninguém percebesse, poderia levar de 20 a 30 minutos para injetar 600 toneladas de petróleo no oceano – a quantidade coletada até o momento – dependendo da taxa de transferência, estima Alexandros Glykas, diretor administrativo da consultoria de gerenciamento de risco navio a navio DYNAMARINe.

Ainda assim, Glykas disse que é difícil provar que é de navio a navio sem evidências físicas, como equipamentos usados no oceano ou registros relevantes de prestadores de serviços de navio a navio.

Óleo na praia
A densidade e o teor de enxofre do óleo, que podem ajudar na identificação de sua fonte, são mais difíceis de confirmar devido à quebra do óleo, uma vez que fica na água do mar por meses (Imagem: REUTERS / Adriano Machado/Direitos Reservados)

O que o óleo mostra?

A melhor evidência disponível é de testes de laboratório de amostras de óleo.

Um relatório inicial da Petrobras indicou que as amostras compartilhavam as mesmas propriedades que o petróleo venezuelano. A Marinha também realizou uma análise que confirmou que o petróleo era venezuelano.

Mas autoridades do governo brasileiro dizem que isso não significa que a Venezuela seja responsável. O governo da Venezuela e a empresa estatal de petróleo PDVSA negaram qualquer envolvimento no vazamento.

A Reuters não pôde verificar as descobertas, pois nenhum relatório foi tornado público. Duas pessoas familiarizadas com o assunto disseram que os documentos foram marcados como segredos de Estado, embora não esteja claro o motivo.

A Universidade Federal da Bahia, um dos Estados afetados pelo vazamento, realizou seu próprio estudo concluindo que o petróleo era venezuelano, disse Olivia Oliveira, pesquisadora envolvida no estudo.

A densidade e o teor de enxofre do óleo, que podem ajudar na identificação de sua fonte, são mais difíceis de confirmar devido à quebra do óleo, uma vez que fica na água do mar por meses. A pesquisadora se recusou a fornecer uma cópia do relatório da universidade, dizendo que ele havia sido fornecido à polícia e aos promotores federais e continuava parte de uma investigação em andamento.

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