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Os mercados e Trump

26 jan 2017, 9:37 - atualizado em 05 nov 2017, 14:08

trump

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Os mercados domésticos voltam da pausa do feriado na cidade de São Paulo com os investidores mundo afora ainda cobrando do novo presidente dos Estados Unidos um discurso menos vagos sobre a política econômica. Mas a postura pouco presidenciável de Donald Trump em nada impediu que o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, superasse ontem a marca psicológica dos 20 mil pontos pela primeira vez na história.

Desde a vitória de Trump, em novembro, o Dow Jones já subiu aproximadamente 9%, pulando dos 19 mil para os 20 mil pontos em apenas 42 dias. No mesmo período, o S&P 500 avançou perto de 7% e o índice da bolsa eletrônica Nasdaq teve valorização de 8% no período.

O rali em Wall Street é sustentado pela expectativa de que Trump irá adotar políticas favoráveis aos negócios – como a desregulamentação nos mercados, cortes de impostos e gastos fiscais – a fim de acelerar o crescimento econômico. Mas o cenário pode ficar problemático, se o republicano insistir em levar a cabo as polêmicas promessas de campanha e as medidas protecionistas, em detrimentos de estímulos fiscais expansionistas.

A retórica vazia de Trump – que insiste em estimular a indústria manufatureira de uma economia guiada pelo consumo doméstico e o setor de serviços – deixa a sensação de certo “invencionismo” por parte do novo presidente. Daí o surgimento do termo “Trumponomics”.

Afinal, ao fechar os EUA para o mundo, os países que se verem prejudicados pelo fim de acordos comerciais de longas datas podem promover respostas duras ou migrar a parceria para outros blocos, fortalecendo outras economias. Na Ásia, por exemplo, já se fala que com o fim do TPP, os EUA não são mais confiáveis, o que abre espaço para uma negociação com a China com os países da região.

Além disso, a intenção de reinternalizar o parque fabril de empresas norte-americanas com produção fora dos EUA pode ter um custo que supere o pagamento dos possíveis impostos. Como resultado, em ambos os exemplos, pode haver um aumento de preços de bens e produtos aos cidadãos norte-americanos, gerando uma onda de insatisfação popular.

Por enquanto, o dólar continua perdendo força em nível global, mas qualquer movimento de maior apetite ao risco por causa desse enfraquecimento da moeda norte-americana pode ter vida curta. Assim, a Bovespa nos maiores níveis desde 2012 e o dólar flertando a marca de R$ 3,15 dão sinais de valores artificiais, o que deixa os investidores com o dedo no gatilho para qualquer movimento de realização. 

A questão é que os negócios locais têm sido beneficiados pelos passos do Banco Central e do Ministério da Fazenda para impulsionar a economia. Horas antes do início do feriado na capital paulista, o BC anunciou uma espécie de faxina nos compulsórios bancários.

A autoridade monetária promoveu uma reformulação no valor retido pelos bancos junto ao BC, o que libera a fatia de recursos disponíveis para a concessão de crédito. A simplificação nas regras do recolhimento obrigatório visa à redução do custo do empréstimo no país, reduzindo os juros cobrados às empresas e às famílias e também o spread bancário, por causa de um valor menor na captação do dinheiro pelas instituições.

Trata-se de uma estratégia que busca dar mais eficiência ao sistema financeiro, mantendo a tentativa do governo de emplacar uma “agenda positiva” no front econômico, em meio à ausências de desdobramentos políticos em Brasília. À essa medida somam-se a perspectiva de queda mais acelerada da taxa básica de juros (Selic) e o socorro rígido aos Estados. 

Ainda assim, permanece a ansiedade pelo novo relator da Operação Lava Jato, após a morte de Teori Zavascki. A decisão da presidente do STF, Cármen Lúcia, de retomar os trabalhos de homologação das delações da Odebrecht e o pedido de urgência no processo feito pelo procurador Rodrigo Janot podem turvar esse ambiente doméstico mais tranquilo.

Ainda mais, diante do potencial avassalador do conteúdo das informações dos executivos da empreiteira – que, inclusive, podem ser vazados. Tudo isso, às vésperas do fim do recesso no Congresso, que volta aos trabalhos na semana que vem tendo como primeira ordem do dia a eleição para a presidência nas duas Casas.

Na agenda econômica do dia, o calendário doméstico está mais fraco e traz a sondagem do comércio em janeiro (8h) e a nota sobre operações de crédito em dezembro (10h30). Já no exterior, destaque para a primeira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido no quarto trimestre de 2016 (7h30).

Entre os indicadores norte-americanos, às 11h30, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego e a balança comercial em dezembro. Depois, às 13h, é a vez dos indicadores antecedentes e das vendas de imóveis novos, ambos referentes ao mês passado. Também são esperados índices preliminares sobre a atividade nos setores industrial e de serviços (12h45).

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