Os EUA podem fazer do Brasil um país melhor, afirma Ernesto Araújo na CRE
O Brasil sente orgulho de se colocar como um forte aliado dos EUA e essa aliança deverá ser mantida caso Joe Biden vença as eleições presidenciais naquele país.
Este foi o ponto defendido pelo chanceler, Ernesto Araújo, na Comissão de Relações Exteriores (CRE), ao ser questionado por diversos senadores sobre a relação do Brasil com os EUA.
— Nossa proximidade é com os EUA enquanto país, não com Trump [o atual presidente, Donald Trump]. Esta aliança é de interesse permanente para os dois lados.
Um governo do Partido Democrata [de Biden] provavelmente manterá essa posição, a menos que queiram trabalhar contra seus próprios interesses, o que tenho certeza não irá ocorrer – afirmou Araújo nesta quinta-feira (24).
Para o chanceler, os EUA podem tornar o Brasil um país melhor, inclusive nos ajudando a cumprir a Constituição de 1988.
— Temos parceiros que podem nos ajudar a defender os interesses do nosso povo, alguns mais que outros. E hoje o parceiro que mais pode nos ajudar a cumprir a Constituição, a independência, os direitos humanos e outros objetivos são os EUA.
Não tenho vergonha nenhuma de que seja um parceiro tão importante, eles podem nos ajudar a transformar o Brasil do jeito que queremos fazer, numa real democracia e economia de mercado, respeitados no planeta. Os EUA trabalham por grandes valores — disse.
Críticas
A postura de Araújo teve o contraponto de diversos senadores. Jaques Wagner (PT-BA) lembrou que enquanto o Brasil libera o mercado interno de etanol para produtores norte-americanos, eles taxam com mais rigor a entrada do aço brasileiro naquele país.
Telmário Mota (Pros-RR) chegou a entregar uma bandeira do Brasil ao chanceler, dizendo que é a bandeira que ele deve defender, em vez de a norte-americana.
Araújo agradeceu, garantindo que já tinha várias, e a elogiou “por ser grande”. Para Telmário, toda a fala do chanceler durante a reunião “foi para inglês ver”.
O senador ainda fez fortes críticas à postura dos governos do Brasil e dos EUA contra a Venezuela, que também atinge a economia de Roraima.
— Não podemos brigar com quem compra da gente, com quem contribui pro nosso comércio. Quando começaram as sanções dos EUA contra a Venezuela, o comércio de Roraima com eles caiu de US$ 350 milhões, em 2018, para US$ 238 milhões, em 2019.
As sanções fecharam 96% do comércio de Pacaraima, foi o caos absoluto, a exportação toda estrangulou. Uma loucura! Todo o calcário de Roraima vem da Venezuela, onde a tonelada custa R$ 70. Mas no Brasil é R$ 300. Ou seja, se quem planta soja em Roraima depender do calcário local, ninguém tem mercado — protestou.
O senador também criticou o fechamento das fronteiras entre os dois países, quando ainda não havia o problema da pandemia. Telmário lembrou que após a reabertura da fronteira, o PIB de Roraima, em 2019, cresceu 4,3%, muito acima da média nacional, que foi de 1,1%.
Na resposta, Araújo disse que a redemocratização da Venezuela, que seria o objetivo do governo brasileiro, proporcionará grandes ganhos econômicos para Roraima.
O ministro informou ainda que o Itamaraty negocia a construção de uma estrada para a Guiana, que poderá escoar a produção roraimense. Na réplica, Telmário protestou, lembrando que praticamente todas as estradas em Roraima “estão praticamente intransitáveis” e portanto seria melhor o governo federal investir nelas.
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) lembrou que o Brasil negocia fechar um acordo com os EUA visando combater a corrupção. O senador disse esperar que o acordo inclua também o combate à prática das “rachadinhas” em gabinetes parlamentares.
E Zenaide Maia (Pros-RN) também criticou a postura do Brasil no conflito entre EUA e Venezuela. Citou uma declaração recente de Mike Pompeo, de que seu país já bloqueou mais de U$ 30 bilhões venezuelanos, fruto da exportação de petróleo, graças às sanções.
A senadora considera contraditório os EUA dizerem que querem o bem do povo venezuelano, enquanto o condenam “à fome e à miséria”.
Política ambiental
Zenaide e Rogério Carvalho (PT-SE) também fizeram reparos à “postura negacionista” que dizem haver no governo Bolsonaro, em relação às mudanças climáticas. Carvalho disse que o discurso de Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU, na terça-feira (22), teve esse viés e “foi ridicularizado em todo o mundo”.
Na resposta, Araújo afirmou que a tese de que as mudanças climáticas são um fenômeno causado principalmente pela ação humana ainda não é um consenso científico.
— Há muitos cientistas que contestam não a existência do fenômeno, mas sua magnitude, e o fato de ser ou não predominantemente causado pelo homem.
Esses cientistas infelizmente são demonizados, são postos fora do debate. Eu acho isso incorreto, pois essas críticas existem. Precisamos tomar decisões com base na melhor ciência, pois ela não é questão de quem tem a maioria — disse.
Araújo reiterou, no entanto, que o governo brasileiro prioriza a agenda ambiental, tanto que, segundo ele, cerca de 40% das tratativas relacionadas à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) são sobre acordos nessa área.