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Os EUA em 2022: Pacote trilionário de Biden fará o país liderar retomada global?

27 dez 2021, 8:00 - atualizado em 17 dez 2021, 19:12
Joe Biden
Joe Biden anunciou pacote de quase US$ 2 trilhões para fomentar economia americana (Imagem: Divulgação/ Casa Branca)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou recentemente um pacote ambicioso para 2022, com foco principalmente em investimentos verdes. Ao todo, serão investidos US$ 1,75 trilhão em políticas sociais e em um pacote contra a mudança climática.

O valor do investimento, além de visar questões específicas, também busca devolver aos americanos uma soberania econômica ameaçada pela China depois dos efeitos da pandemia da Covid-19. Seus efeitos são de médio a longo prazo.

Entre os principais pontos do pacote, estão a pré-escola gratuita para crianças de três a quatro anos de idade, apoio para custos de creche para famílias que ganham menos de US$ 300 mil por ano, créditos fiscais até US$ 300 mensalmente por criança, a expansão de refeições escolares gratuitas, bem como descontos e créditos para reduzir o custo de sistemas solares em telhados em 30%, incentivos para encorajar a fabricação de tecnologia de energia limpa nos EUA e mudar outras indústrias para reduzir as emissões de carbono.

Pacote transformador

Em outra ponta, o pacote trilionário de Biden também prevê a limitação dos medicamentos prescritos em US$ 2.000 por ano. Para Augusto Neftali Corte de Oliveira, da PUC-RS, a iniciativa “é muito importante e transformadora, e pretende mexer com a economia americana daqui para o futuro a médio prazo”.

É uma grande iniciativa do governo dos Estados Unidos, de uma grande gama de investimentos, que busca recolocar os fundamentos da economia americana para o futuro. Embora seja de economia doméstica, ele está voltado para a renovação dos EUA na economia global, reconstruindo os fundamentos  nos próximos 50 anos”, afirma. 

De acordo com fontes ouvidas pelo jornal The New York Times, “a combinação de gastos e créditos fiscais da proposta se traduziria em 20 mil milhas de estradas reconstruídas, reparos nas 10 pontes mais economicamente importantes do país, eliminação de canos de chumbo do abastecimento de água do país e uma longa lista de outros projetos que pretende criar milhões de empregos no curto prazo e fortalecer a competitividade americana no longo prazo”.

Segundo Oliveira, da PUC-RS, é claro que os pacotes não farão os problemas vigentes do país desaparecerem logo no início de 2022.

“A curto prazo, o que mais importa é a continuidade dos pacotes imediatos de alívio econômico devido à pandemia. Para o ano que vem, é mais importante as medidas do banco central americano, que já está pensando em rever algumas das políticas, por causa da inflação, do que propriamente a aprovação desses novos pacotes que são mais a médio prazo”, diz.

Atraindo oportunidades

“Mas o que podemos esperar para 2022 é uma tendência de — à medida que esses programas forem sendo executados — uma grande atração para os Estados Unidos de oportunidades, em especial na área das tecnologias de ponta e das tecnologias verdes. Existe expectativa de que a demanda de soluções e de pessoal capacitado aumente.”

Oliveira também explica que, apesar de ser algo voltado mais para o futuro, os primeiros impactos dos investimentos serão sentidos durante o governo Biden.

Mesmo se, em 2024, o democrata não for reeleito, para o cientista político é difícil que outro candidato abra mão dos benefícios oferecidos. “Uma vez que o dinheiro esteja disponível para os políticos, é quase impossível que alguém não o queira. Uma vez aprovado, ele vai ser implementado com muito menos resistência do que para a sua aprovação — os políticos não vão recusar. Depois de aprovada, a coisa decola”, diz. 

A política, apesar de doméstica, tem como objetivo posicionar os Estados Unidos em sua eventual disputa com os  chineses. “A China tem capitaneado investimento, então os EUA têm o desafio de reconstruir a sua economia”, diz Oliveira. Do ponto de vista internacional, para o especialista, “é a iniciativa de investimentos dos EUA e do G7, a nível global, para fazer frente à iniciativa chinesa”. “Esse pacote global, que teria impacto grande nos países em desenvolvimento, ainda tem sido discutido”, diz. 
Para autoridades americanas, se o pacote for aprovado, “os gastos encerrariam décadas de estagnação no investimento federal em pesquisa e infraestrutura – e retornariam o investimento do governo nessas áreas, como parcela da economia, aos níveis mais altos desde a década de 1960”, de acordo com o NY Times. O que, com certeza, tornaria os Estados Unidos ainda mais competitivo.