Opinião

Marink Martins: os 6 estados que definirão a eleição presidencial americana

06 maio 2020, 13:21 - atualizado em 06 maio 2020, 14:39
Donald Trump
Para o colunista Marink Martins, o consenso de mercado parece apontar para uma reeleição relativamente tranquila do incumbente Donald Trump (Imagem: Facebook Donald j Trump)

Venho afirmando por aqui que a eleição presidencial nos EUA, marcada para ocorrer no dia 03/11, é algo que deverá trazer bastante volatilidade para os mercados.

Afirmo isso pois o consenso de mercado parece apontar para uma reeleição relativamente tranquila do incumbente Donald Trump.

Na verdade, para os mercados, a batalha ainda nem sequer começou! Os agentes ainda estão buscando entender a exuberância vista nos mercados face as adversidades apresentadas na economia real.

Isso não só é uma verdade nos EUA, mas também em outros mercados. Mesmo no Brasil – onde a queda acumulada do IBOV ainda está próxima de 30% – temos o segmento conhecido como “varejo-digital” registrando uma recuperação de deixar os céticos boquiabertos.

Contudo, é uma questão de tempo para que o “míope” mercado acorde para o fato de que pesquisas realizadas em 6 estados considerados “battle states” (campos de batalha) apontem para uma vitória do candidato democrata Joe Biden. Refiro-me aos seguintes estados: Arizona, Florida, Michigan, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin. Observe a tabela abaixo obtida através do site fivethirtyeight.com do aclamado estatístico Nate Silver:

Sabe-se que a eleição americana não é uma disputa por popularidade no nível nacional. Grande parte dos 50 estados são consistentes na escolha por candidatos de um determinado partido; alguns estados sempre votam por candidatos republicanos enquanto outros votam por candidatos democratas. Há, entretanto, um grupo de estados que são alternantes.

Estes são considerados “swing states” e são decisivos para definir o líder do país nas eleições que ocorrem a cada quatro anos. Em 2012, Barack Obama venceu em 4 destes 6 estados.

Embora ainda seja cedo para atribuir muita importância para pesquisas como a mencionada acima, os investidores não devem ignorar que o feito de Trump em  2016 – ao vencer os democratas em 4 destes 6 estados, além dos estados de Ohio e Iowa – foi, para muitos, um evento de cauda.

Praticamente um cisne negro! Aqueles que viraram a noite acompanhando a eleição em 2016 sabem que não estou exagerando.

As vitórias de Trump nos estados da Flórida e do Michigan surpreenderam a todos e, quando anunciadas, afundaram o índice S&P 500 em quase 8% durante a madrugada. A queda não durou muito tempo e, em um intervalo de 4 horas, já havia sido revertida.

A situação no estado de Michigan chama atenção. Em 2016, o estado, que tem uma inclinação democrata, tinha o candidato Bernie Sanders como favorito.

Contudo, a virada de mesa ocorrida no partido democrata, que favoreceu Hillary Clinton, contribuiu para que os eleitores se sentissem traídos e migrassem para o outro lado da força. Há quem afirme que houve também uma resistência associada a gênero.

O estado, que está entre os mais afetados economicamente pela epidemia, representará uma dura batalha para o atual presidente.

Confesso que ando meio obcecado com temas relacionados a esta eleição que está por vir. Talvez seja pelo fato de que a eleição de 2016 me pegou no contrapé no que diz respeito às minhas vendas de volatilidade feitas através das opções de Vale.

Mas, mesmo descontando a minha paranoia, reitero que o investidor deve se preparar para este evento com muita cautela.

Uma derrota de Trump implica em uma expectativa de maiores impostos e maiores gastos em um EUA já combalido pelos custos da epidemia.

Além disso, as empresas de tecnologia que turbinam o NASDAQ e o índice S&P 500 estarão mais vulneráveis a ataques “antitrusts” da Federal Trade Commission (FTC) – uma espécie de CADE americano.

A minha aposta é que o mercado passe a descontar esta possibilidade a partir do mês de julho.

Uma derrota de Trump implica em uma expectativa de maiores impostos e maiores gastos em um EUA já combalido pelos custos da epidemia (Imagem: Reuters/Jonathan Ernst)

Se em fevereiro acertei ao clamar para que investidores se preparassem para o “carnaVOL”, agora argumento por prudência diante de choques nos mercados que poderão vir na medida que “Joe SELL-den” mostre sua força na eleição presidencial.

Caso o leitor não seja um nerd como o autor, talvez não tenha reparado no trocadilho com o verdadeiro nome do candidato americano.