Orlando Telles: Quando o mercado DeFi vai voltar a crescer?
As finanças descentralizadas (DeFi) foram um dos maiores destaques do mercado de criptoativos em 2020, mostrando para o mundo a viabilidade de criar aplicações em blockchain e, por consequência, impulsionando a possibilidade de outros tipos de aplicações, como o mercado de Blockchain Games e o de Web 3.0.
Em contrapartida, 2021 foi marcado por um baixíssimo crescimento do segmento em comparação a outras áreas do mercado de criptoativos, como os NFTs, Web 3.0 e até mesmo as plataformas de contratos inteligentes.
Para exemplificar esse momento desfavorável, de acordo com o Coinpaprika, no último ano, o ether (ETH), moeda nativa da maior plataforma de contratos inteligentes da atualidade, valorizou-se 80% contra a desvalorização de 44% da Uniswap (UNI), maior corretora descentralizada da rede da ETH, e de 61% da Aave (AAVE), maior protocolo de empréstimos do mercado.
O que desperta uma pergunta simples na maioria dos investidores: “O que faria o mercado DeFi reaquecer?”
Quando observamos as principais métricas do mercado, fica evidente que o ano de 2021 não foi negativo para o setor do ponto de vista de crescimento, contudo, não está se refletindo no preço nos últimos meses.
Segundo dados do gráfico do site Bitwise, com crescimento de 267% em números de usuários, atingindo a marca dos 4,3 milhões de pessoas; de 324% em receita mensal, ultrapassando os US$ 280 milhões, o ano passado também foi marcado por inúmeros gargalos para o setor DeFi.
Entre eles podemos citar o aumento dos riscos regulatórios e a falta de escalabilidade da rede da ETH, que, por conta do crescimento do mercado de NFTs, atingiu a sua maior taxa de gás da história, tornando o mercado DeFi “vítima” de seu crescimento.
Existem alguns fatores que, se alterados, podem ser o motor de um novo crescimento do mercado DeFi neste ano.
Um dos primeiros caminhos é através do desenvolvimento e consolidação de outros ecossistemas de criptoativos que viabilizam taxas mais baratas possibilitando não apenas a entrada do mercado varejo, como também o crescimento acelerado da base de usuários desses protocolos.
Atualmente, ecossistemas como a Solana (SOL), Polkadot (DOT), Fantom (FTM) e Avalanche (AVAX) estão em busca para entrar nessa corrida, o que aumenta de forma significativa as métricas de Capital Travado sobre Operação (TVL), e busca proporcionar soluções com baixas taxas de transação.
Nenhum dos ecossistemas acima conseguiu se consolidar como a rede da Ethereum, eles ainda sofrem com alguns testes de estresse que mostram gargalos estruturais, hacking, entre outros pontos.
Outro caminho para o reaquecimento do mercado DeFi seria através das soluções de escalabilidade da rede da Ethereum, caso essas conseguissem grande aderência.
Atualmente, o protocolo que mais se destaca é a Polygon (MATIC) com sua sidechain, além do desenvolvimento de alternativas como os Zk-rollups – solução de escalabilidade com segurança similar a rede da ETH – compatíveis com a EVM.
Estudo realizado pela Nickel Digital Asset Management (Nickel), com investidores institucionais e gestoras de grandes fortunas que juntas somam US$ 108 bilhões, mostrou que 73% dos investidores acreditam que a regulação do mercado de criptoativos pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos seria positiva para o preço dos criptoativos.
Apenas para exemplificar o impacto, se os 100 maiores bancos da atualidade adicionassem 1% do seu capital sob gestão no mercado DeFi, significaria que teríamos um mercado de US$ 1,25 trilhão. Algo que seria viável apenas com o processo regulatório.
Para Fidelity Digital Asset, a regulação é o quarto maior gargalo para aportarem em criptoativos, com 49% dos investidores institucionais destacando o problema.
A regulação dos protocolos DeFi pode ser o fator responsável por adicionar grande base de capital nos ativos, o que aumentaria sua receita, usabilidade, além de gerar segurança jurídica para o segmento.
Esse aspecto vem sendo muito defendido pelo presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), Gary Gensler, de modo que podemos aguardar uma mudança significativa no cenário regulatório em breve.
O crescimento de outras aplicações no mercado de criptoativos, como games em blockchain e web 3.0, podem se tornar uma grande oportunidade para o mercado DeFi, visto que a integração de serviços financeiros nessas aplicações aumentaria a usabilidade, assim como se tornaria outro meio de receita para o mercado de finanças descentralizadas.
Protocolos que estão buscando criar aplicações que gerem interação com NFTs e desenvolvendo aplicações em outros segmentos também podem ajudar o reaquecimento do mercado DeFi.
Este segue como um dos setores que mais atrai desenvolvedores e mantém um crescimento significativo nos últimos meses, apesar de não ter sido refletido no preço.
Acredito que à medida que o mercado encontrar soluções para os seus gargalos estruturais, viabilize tanto o ingresso de capital institucional, por meio da regulamentação, quanto o retorno do mercado de varejo, através das soluções de escalabilidade.
Os protocolos que estiverem prontos para absorver essas mudanças serão os grandes vencedores. Ainda se trata de um mercado que pode crescer mais de 114 vezes como mostrado pela análise da Bitwise.
Estamos bem no início da revolução das finanças descentralizadas!
*Orlando Telles é sócio-fundador e diretor de research da Mercurius Crypto, casa de pesquisa em criptoativos.
O especialista é responsável pela gestão de riscos e análises fundamentalistas dos principais projetos do mercado de criptomoedas da casa. Com especialidade em ciências atuariais, Telles produz, atualmente, análises e conteúdos distribuídos pelos maiores players de cripto do Brasil.