Orlando Telles: O novo plano da rede Terra (LUNA) poderá de fato funcionar?
*Por Orlando Telles
Nas últimas semanas, enfrentamos uma das maiores quedas da história do mercado cripto e a grande representante desse evento foi Terra (LUNA), ativo que ocupava o sexto lugar no ranking de valor de mercado, e caiu mais de 99,99%.
Mesmo com esse cenário catastrófico, o CEO da instituição por trás da Terra tem um plano para recuperar a moeda e, neste artigo, vamos analisar se isso é, de fato, possível.
Antes de entender como Terra quer resolver o problema, precisamos dar um passo para trás e relembrar a crise semelhante que já foi enfrentada pela Ethereum (ETH).
Em 2016, quando as primeiras aplicações estavam sendo construídas na Ethereum, uma grande organização descentralizada nomeada DAO continha mais de US$ 156 milhões de usuários. Essa instituição foi hackeada por meio de uma falha de segurança e o hacker conseguiu desviar mais de US$ 60 milhões.
Naquele momento, a solução encontrada foi fazer um “hard fork” (“bifurcação drástica”, em tradução livre) na rede da Ethereum, ou seja, criar uma nova cripto.
A Ethereum que conhecemos hoje é uma cópia da Ethereum que existia naquela época, enquanto a rede original se tornou relativamente abandonada e, atualmente, é conhecida como Ethereum Classic (ETC).
O que é ‘hard fork’ e como ele pode mudar
o futuro da rede Terra (LUNA)?
O plano de Terra (LUNA)
A proposta para salvar LUNA foi criada por Do Kwon, principal cofundador e CEO do projeto, e foi votada pela comunidade. A estratégia consiste em criar uma nova cripto LUNA, e o ativo que existiu até hoje seria renomeado como “LUNA Classic”.
Essa nova rede não teria mais a stablecoin UST, uma vez que ela foi o ponto de falha na arquitetura da blockchain de Terra, responsável pela criação da “espiral da morte” que destruiu o projeto.
De acordo com a proposta de governança, os novos tokens seriam distribuídos da seguinte forma:
- 25% — Pool comunitário, controlado pela governança;
- 1% — Alocação de emergência para Desenvolvedores Essenciais;
- 4% — Desenvolvedores essenciais;
- 35% — Detentores de tokens LUNA “pré-ataque”;
- 10% — Detentores de LUNA em algum momento do futuro, antes do lançamento do novo token;
- 25% — Detentores de UST em algum momento do futuro, antes do lançamento do novo token.
Quanto à proposta, duas polêmicas chamaram a atenção da comunidade. A primeira delas se refere aos usuários que tinham tokens LUNA armazenados em corretoras cripto. O que garante que as corretoras que receberem os novos tokens vão de fato repassá-los para os legítimos donos?
Já a segunda polêmica se refere à baixa proporção de tokens direcionados para os antigos investidores e os mesmos 35% sendo disponíveis para os próximos investidores que comprarem tokens LUNA e UST.
Parece que a governança quer estimular investidores a comprar LUNAs e USTs no mercado hoje, algo que poderia elevar o preço dos ativos temporariamente e beneficiar quem ainda quer despejá-los no mercado, um comportamento muito suspeito.
Quando esse plano de reestruturação entrará em prática é uma questão ainda não decidida. Além do mais, o que impede os líderes de adiarem essa data apenas para estimular a compra dos antigos tokens LUNA e UST por usuários que querem receber os novos tokens?
A recepção da comunidade tem sido muito negativa com a nova proposta. A verdade é que, atualmente, Terra é uma blockchain morta, literalmente. A produção de novos blocos foi cessada pelos validadores por motivos de segurança.
Muitos projetos, como Polygon (MATIC) e Fantom (FTM), já estão brigando pelos desenvolvedores que estavam com a LUNA, de modo que, para a equipe original, não restaram muitas chances de se reerguer no mercado.
Por mais que o hype em torno de novos tokens possa aumentar o preço da LUNA de forma ínfima e temporária, ainda assim não seria sustentável. Após o lançamento dos novos tokens, os atuais detentores do ativo não teriam nenhum estímulo para segurá-los.
Não acredito que Terra tenha alguma opção viável para se reerguer neste momento, e nem que faça sentido especular em cima do preço de tela de um projeto como esse, que perdeu totalmente a confiança do mercado.
*Orlando Telles é sócio-fundador e diretor de research da Mercurius Crypto, casa de pesquisa em criptoativos.
O especialista é responsável pela gestão de riscos e análises fundamentalistas dos principais projetos do mercado de criptomoedas da casa. Com especialidade em ciências atuariais, Telles produz, atualmente, análises e conteúdos distribuídos pelos maiores players de cripto do Brasil.
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