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Orlando Cintra: Por que o 5G dará cada vez mais voz às startups no mercado de telecom?

19 jul 2021, 17:06 - atualizado em 19 jul 2021, 17:27
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As implicações do 5G são relativamente conhecidas do ponto de vista da experiência do usuário (Imagem: REUTERS/Sergio Perez)

Quase 25 anos depois da privatização das telecomunicações no Brasil, realizada em 1997, estamos a caminho de uma nova revolução no setor num momento em que a 5ª geração da telefonia celular chega ao país.

O mesmo tipo de disrupção que ocorreu com as fintechs está chegando a esse mercado, abrindo espaço para as telcotechs, que passam a oferecer “Telecom as a Service”, um formato que empodera o consumidor a escolher a operadora e o pacote de serviços que deseja sem ficar preso a contratos de fidelidade.

As implicações do 5G são relativamente conhecidas do ponto de vista da experiência do usuário. Sabemos ainda que os fatores velocidade e confiabilidade deverão impulsionar uma série de setores, que dependem disso para oferecer um serviço viável.

No entanto, a revolução será ainda maior do que possamos imaginar, inclusive e principalmente para o próprio negócio das telecomunicações, abrindo espaço para o avanço de startups e pequenas operadoras oferecendo serviços de valor agregado que vão muito além das chamadas de voz.

De acordo com estimativa da consultoria IDC Brasil, o 5G irá gerar US$ 2,7 bilhões em novos negócios no Brasil, incluindo tecnologias como inteligência artificial, realidade virtual e aumentada, Internet das Coisas, nuvem, segurança e robótica.

A nova rede não será apenas uma forma mais avançada de comunicação, mas também a infraestrutura de suporte para o desenvolvimento socioeconômico e a base para a transformação digital, uma tempestade perfeita para o surgimento de uma nova safra de startups disputando o até hoje hiperconcentrado mercado de telecom no Brasil.

Há uma metáfora muito boa para descrever o impacto do 5G, que é o das obras viárias. Imagine uma estrada que liga uma cidade populosa a outra litorânea. Nos momentos de pico de utilização, como em um feriadão, ela fica totalmente congestionada. Agora, adicione uma via de rolamento em cada sentido. A velocidade aumenta.

A chegada do 5G, no entanto, é praticamente uma rodovia nova, que escala a velocidade dos atuais 1Gb/s de pico para até 20Gb/s de pico. A tecnologia torna a latência (o tempo que decorre entre você clicar em um link e o conteúdo começar a carregar na sua tela) praticamente irrelevante: a 20 milissegundos, o correspondente a um piscar de olhos. Você baixa um filme inteiro em HD em poucos segundos. Bom, né?!

Entretenimento é só o cubo de gelo na ponta do iceberg. Estamos falando de fazer cirurgias remotas, algo para o qual nenhum delay é aceitável, pois qualquer milissegundo pode ser fatal.

Esse tipo de performance também faz sentido para um carro autônomo, que precisa se comunicar com os demais veículos em volta, os semáforos, o satélite…

A realidade virtual, a realidade aumentada e a inteligência artificial passam a ser comercialmente viáveis, bem como todo tipo de automação para a indústria 4.0. Geladeiras e casas conectadas e também galpões logísticos.

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Já a infraestrutura de 4G que ficará ociosa nos grandes centros poderá ser realocada para contribuir na melhoria dos serviços nas cidades menores do interior (Imagem: REUTERS/Sergio Perez)

Na onda do Voip

Junte-se o cenário regulatório mais flexível para atuação de novos players no setor com o novo espectro que está chegando (o 5G) e você entende porque o mercado está cada vez mais animado com tecnologias como o VoIP (voz sobre IP).

Se a voz vira dado, trafegando na “rodovia 5G”, a qualidade vai subir muito, tornando ainda mais atraente os custos sobretudo no ambiente empresarial, que chegam a ser até 70% mais baixos em relação à telefonia convencional (celular ou fixa).

Mais que isso, o VoIP pode enfim democratizar a telefonia, atingindo os recantos mais remotos do país, sem ter de esperar que a infraestrutura de fibra óptica atinja os municípios mais distantes. Já o 5G móvel atinge a zona rural levando conectividade às lavouras e aprofundando as oportunidades de automação, inclusive para pequenos produtores.

Já a infraestrutura de 4G que ficará ociosa nos grandes centros poderá ser realocada para contribuir na melhoria dos serviços nas cidades menores do interior.

Empresas como a Nvoip têm a chance de se beneficiarem da capilaridade das redes de telefonia. A empresa de Juiz de Fora é voltada para o universo B2B e atua dentro do conceito de Communication Platform as a Service (CPaaS). .

A startup oferece uma plataforma de comunicação integrada que substitui o PABX físico ou o PABX em nuvem, unindo chat, texto, voz e chamada de vídeo para o ambiente intracorporativo (uma espécie de SLACK turbinado). E tudo sob demanda. Daí a comparação de que empresas como essas funcionam como se fossem uma Netflix da telefonia.

As pequenas operadoras agora podem alugar a infraestrutura e vender seus serviços. E esta maleabilidade para atuar no setor muda tudo.  (Imagem: Pixabay/hpgruesen)

E como fica então o novo mercado?

Aos poucos, as novas regulamentações da Anatel vão insuflando fôlego para as telcotechs e pequenas operadoras crescerem e isso vai mudar a forma como se consomem serviços de telecom no país.

As pequenas operadoras agora podem alugar a infraestrutura e vender seus serviços. E esta maleabilidade para atuar no setor muda tudo. Aqui o papo deixa de ser o preço de dumping para assegurar a fidelidade dos clientes.

Em compensação, o consumidor tem uma equipe de fato para atender sua necessidade, prestando um serviço de muito melhor qualidade.

Veja o exemplo da Veek, que se auto-intitula a primeira telecom gratuita do mundo. Ela não tem a infra cara para suportar, então pode oferecer boa parte dos serviços sem custos, no esquema freemium, como um YouTube das telcos.

Ou seja, a infraestrutura virou uma commodity. O que importa é o tipo de vantagem que a operadora oferece a quem contrata. É possível cancelar e contratar a qualquer momento, de acordo com a conveniência.

O 5G vai muito além de assistir sua série favorita com qualidade 8K na sua TV. Ele vai mudar a lógica de mercado das telecomunicações e inaugurar uma nova era tanto na internet das pessoas como na das coisas. A revolução está apenas começando. E você não vai querer ficar de fora dela, vai?

Orlando Cintra é Membro do Conselho de empresas como SMARTIe (Solvi Ambiental), Solstic Advisors e HyperloopTT, além de Founder & CEO do BR Angels, grupo de investimento anjo formado por CEOs e empreendedores. Como Executivo de grandes corporações como SAP, HP e Informatica Corp, atuou em diversas posições como Presidente e Vice-Presidente Sênior para América Latina

**Paulo Pontin é membro do BR Angels e managing partner para América Latina da Verizon Enterprise Solutions

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