Política

Ordem no QG de Bolsonaro é condenar ações de Jefferson e tentar ligar ex-deputado a Lula

24 out 2022, 15:12 - atualizado em 24 out 2022, 15:12
Jair Bolsonaro
O petebista que passou a apoiar a apoiar Bolsonaro no segundo turno de 2018 havia sido inicialmente preso em caráter preventivo em agosto de 2021 pela PF (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) montou uma operação de guerra no domingo para tentar afastar o candidato à reeleição de Roberto Jefferson, ao reforçar a condenação às ações do ex-deputado e ao mesmo tempo tentar ligar o presidente de honra do PTB a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e assim buscar conter possíveis danos eleitorais a uma semana do segundo turno, de acordo com duas fontes ouvidas pela Reuters.

Aliado de Bolsonaro, Jefferson disparou tiros de fuzil e lançou granadas ao resistir na manhã de domingo a uma ordem de prisão do Supremo Tribunal Federal (STF), deixando dois agentes da Polícia Federal feridos.

O ministro do STF Alexandre de Moraes havia revogado uma prisão domiciliar do petebista concedida em janeiro deste ano em razão de problemas de saúde por ele ter desrespeitado várias vezes medidas cautelares, entre elas quando divulgou vídeo na sexta-feira passada com graves ofensas contra a ministra do Supremo Cármen Lúcia.

O petebista que passou a apoiar a apoiar Bolsonaro no segundo turno de 2018 havia sido inicialmente preso em caráter preventivo em agosto de 2021 pela PF, por determinação de Moraes, em uma investigação que incitação ao crime e ataques a instituições.

De fevereiro a julho do ano passado, em várias ocasiões, Jefferson atacou ministros do Supremo e incitou crimes de racismo e homofobia. Em uma entrevista, ele chegou a equiparar LGBT, drogado, traficante e assaltante de banco à “demolição moral da família”. Ele virou réu nesse caso.

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Elevando o Tom

Bolsonaro foi elevando o tom da resposta ao episódio ao longo do domingo. Em seu tuíte inicial sobre o tema, o presidente repudiou as ofensas a Cármen Lúcia e a “ação armada” da Jefferson, mas também criticou a “existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP”, numa referência a investigação que apura a existência de uma organização criminosa digital voltada para atacar instituições democráticas, alvo de críticas constantes dele.

Nas publicações e aparições públicas seguintes, Bolsonaro já se referia a Jefferson como bandido e ainda tentava levar algum crédito pelo desfecho do episódio.

“Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio”, disse.

O presidente tinha chegado a determinar a ida de ao Rio de Janeiro para acompanhar o andamento do que chamou de “lamentável episódio”. Contudo, segundo uma fonte, ele recuou e deixou Torres monitorando a situação de Juiz de Fora (MG) após Moraes ter emitido uma segunda ordem de prisão contra Jefferson e alertado que qualquer autoridade que interviesse no caso poderia responder por prevaricação.

Na sequência, além de se referir a Jefferson como bandido, o presidente e aliados se referiram ao ex-deputado “criminoso” e “infrator” e passaram a tentar ligá-lo a Lula, por ter dado sustentação ao governo do adversário em 2003 e só teria se afastado após o escândalo do mensalão, no qual foi o delator em 2005.

“Tem gente aí, como o candidato fujão (numa referência a Lula) que quer tirar proveito da situação dizendo que ele (Jefferson) coordena minha campanha e é meu amigo. Ele não coordena minha campanha e não tem nada de amizade”, disse Bolsonaro, na sabatina da Record de domingo à noite.

O presidente tinha chegado a determinar a ida de ao Rio de Janeiro para acompanhar o andamento do que chamou de “lamentável episódio” (Imagem: REUTERS/Carla Carniel)

O presidente ainda citou em entrevista à Record que Jefferson entrou com uma queixa-crime contra ele e o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, no Superior Tribunal Militar (STM) por prevaricação. Ele se refere a uma ação em que o petebista questiona o fato de que Bolsonaro e o titular da Defesa não terem acionado as Forças Armadas contra o que seria arbitrariedades do Supremo. O foro dos dois, no entanto, seria o STF e não o STM.

Para tentar se distanciar, o candidato à reeleição chegou até a falar que não tinha foto com Jefferson, mesmo com dezenas de encontros registrados entre os dois nos últimos anos, inclusive no Palácio do Planalto.

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, usou as redes sociais nesta segunda-feira para atacar o PT. “Bolsonaro virou genocida, miliciano, pedófilo, canibal e agora a aposta é colar ele no Jefferson que foi o delator do Lula e do Dirceu no mensalão”, criticou ele, um dos principais auxiliares do presidente nas eleições.

Uma fonte da campanha admitiu que o episódio envolvendo Jefferson quebrou o discurso de vitimização do bolsonarismo em relação ao Supremo porque gerou uma onda de solidariedade à ministra Cármen Lúcia e também acabaram, de maneira geral, por dar razão às medidas que Moraes tomou contra o petebista.

Não à toa, houve quem no núcleo bolsonarista mais ideológico em especial nas redes sociais chegasse a dizer que Bolsonaro deveria ficar do lado de Jefferson na resistência ao Supremo. Mas esse caminho é minoria no núcleo da campanha.

“É olhar para frente e torcer que não haja um impacto eleitoral”, reconheceu uma das fontes, ao acrescentar que a ordem é buscar falar de ações do governo e comparações com a gestão petista. Segundo a fonte, a campanha deve lançar nos próximos dias 22 propostas o número eleitoral de Bolsonaro– para o eleitorado. Isso era para ter ocorrido no sábado.

O candidato à reeleição terminou o primeiro turno 6,2 milhões de votos atrás de Lula. As pesquisas eleitorais têm mostrado que a vantagem do petista tem se estreitado.

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