Política

Ordem no governo é baixar temperatura da tensão com BC, diz Reuters

16 fev 2023, 19:36 - atualizado em 16 fev 2023, 19:36
BC
O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já deixou claro que o tema não estará na pauta desta quinta-feira, em mais um sinal de que o governo não vai forçar a discussão nesse momento (Imagem: REUTERS/Agustin Marcarian)

Depois de dias de conflito com o Banco Central em torno das taxas de juros e mudanças na meta de inflação, a ordem no governo é baixar a temperatura e deixar o assunto fora do Palácio do Planalto, uma posição que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que liderou as críticas, vem sendo convencido a abraçar e que já adota desde a viagem aos EUA, apontaram fontes ouvidas pela Reuters.

Depois do apoio à mudança da meta de inflação por parte de três dos principais gestores de recursos do país –Rogério Xavier, da SPX Capital, Luis Stuhlberger, da Verde Asset Management, André Jakurski, da JGP–, a avaliação dentro do governo é que o caminho está traçado mas, de acordo com as fontes, isso não será feito agora, mas em junho.

É nesse mês que o Conselho Monetário Nacional (CMN) define a meta para mais um ano à frente. Atualmente, o Brasil já tem metas definidas para 2024 e 2025, 3,0% nos dois anos, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Este ano será fixada a meta para 2026.

O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já deixou claro que o tema não estará na pauta desta quinta-feira, em mais um sinal de que o governo não vai forçar a discussão nesse momento.

Nas últimas semanas, o governo –especialmente o próprio Lula– pesou a mão nas críticas ao Banco Central sobre a taxa básica de juros do país, hoje em 13,75%. Segundo uma das fontes, o assunto foi um dos temas da conversa entre Haddad e o presidente na viagem a Washington. Outros assessores de Lula também ajudaram a convencê-lo a deixar o tema de lado. Desde a viagem, não tocou mais no assunto.

“Isso foi conversado, vai baixar a temperatura”, disse uma das fontes.

A entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao programa Roda Viva, na última segunda-feira, também ajudou a distensionar o clima no Palácio do Planalto. Apesar de críticas a algumas posições, a avaliação de ministros próximos a Lula é que o tom geral foi de uma tentativa de aproximação com o governo e abertura de pontes para negociar.

Campos Neto afirmou, inclusive, que gostaria de encontrar com o presidente Lula novamente –a única reunião entre os dois até agora foi antes da posse, em 30 de dezembro–, mas ainda não existe essa previsão. Nesta quinta, no entanto, o presidente do BC tem uma reunião marcada com o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Se a intenção do governo, pelo menos por ora, é fazer a temperatura esfriar, a pressão sobre Campos Neto, no entanto, deve continuar, mas foi tercerizada para o PT e a bancada no Congresso. Na segunda-feira, o diretório nacional do partido aprovou uma resolução com críticas aos juros altos no país, a formação de uma frente parlamentar contra os juros, e o apoio ao convite ao presidente do BC para que explique a política de juros ao Congresso.

“A militância você não tem como controlar, mas é o papel deles”, disse uma das fontes.

reuters@moneytimes.com.br