Oposição queria “passar na TV”, admite deputado após obstrução de 8h
A estratégia da oposição de não marcar presença na sessão plenária adiou em mais de oito horas o início da votação do pedido para que o presidente da República, Michel Temer, e ministros sejam processados por organização criminosa e obstrução de Justiça (SIP 2/17). O deputado Julio Delgado (PSB) admitiu, há instantes, que o propósito era empurrar a votação até à noite para passar na TV.
A sessão começou às 9 horas e só teve a fase de votações iniciada por volta das 17 horas. Mesmo assim, o processo de obstruçãoainda não foi encerrado completamente.
Os deputados favoráveis à investigação de Temer resolveram dar presença na sessão, mas recorrem ao tempo reservado à fala de líderes para adiar ainda mais a votação.
O líder da Minoria, deputado José Guimarães (PT-CE), comemorou a estratégia. Segundo ele, o adiamento da votação mostra a união dos partidos contrários ao governo Michel Temer. Ele adiantou, no entanto, que a oposição talvez não tenha os 342 votos necessários para que Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria de Governo) sejam julgados pelo Supremo Tribunal Federal. “Os partidos de esquerda e progressistas saem hoje vitoriosos. É claro, é uma batalha, mas construímos um processo importante”, disse Guimarães.
A líder do PCdoB, deputada Alice Portugal (BA), disse que o adiamento tem a intenção de ampliar a audiência da sessão de votação da denúncia. “Os trabalhadores e os estudantes não poderiam visualizar quem é quem neste processo. Mas, a partir de agora, o povo brasileiro estará acompanhando o voto de cada um dos senhores e das senhoras”, declarou.
Defesa
Durante todas as oito horas de sessão em que a oposição se absteve de participar do Plenário, os microfones foram dominados por deputados governistas, que atacaram a denúncia e defenderam Michel Temer e, especialmente, os resultados econômicos do governo.
Vice-líder do governo, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) criticou a oposição por não comparecer ao Plenário, acusando-a de “covarde”. Já o deputado Mauro Pereira (PMDB-RS) disse que as delações que foram base para a denúncia são mentirosas. Ele ressaltou que, após o término do mandato, Temer poderá se defender na Justiça.
O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) foi o único a defender em Plenário a autorização para que o Supremo Tribunal Federal (STF) abra o processo. “O apoio do PSDB ao governo é pelas reformas e esse apoio continua”, disse Macris. “Eu me posiciono favorável à investigação do presidente Michel Temer pelo STF, e é o Supremo que vai decidir, não esta Casa”, completou.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, chegou a pressionar o Plenário em defesa do quórum. Ele anunciou que estaria disposto a encerrar a sessão e adiar a votação do pedido de processo contra Temer para não prolongar a sessão indefinidamente à espera do número mínimo para o início das votações.