Opinião: Estadão tentou “lacrar” o mercado ao omitir informação do IRB?
Por Gustavo Kahil, CEO e sócio-fundador do Money Times
As ações do IRB (IRBR3) derretem até 35% nesta quarta-feira (4), uma perda de R$ 9 bilhões em valor de mercado, após o megainvestidor Warren Buffet ter negado, por meio de uma nota oficial publicada pela Berkshire Hathaway, que possua ações da resseguradora brasileira. E mais, Buffet disse que também não pretende comprá-las.
Esta história começou no dia 26 de fevereiro, quinta-feira, com uma notícia publicada no Broadcast, serviço pago de notícias do Estadão: “Berkshire Hathaway aumenta investimento em IRB Brasil”.
O texto argumentava que a Berkshire Hathaway teria triplicado a fatia que detinha do IRB Brasil em fevereiro. O movimento seria a realização de uma oportunidade criada pela queda dos papéis após um questionamento contábil levantado pela gestora Squadra, que possui uma operação vendida.
É importante ressaltar que o Estadão assume a notícia como verdade e, em nenhum momento, diz conhecer a fonte da informação. Apenas que, procurado, o “IRB não comenta”.
“Lacrando” o mercado
Hoje, diante das repercussões, o Estadão veio a público com um novo artigo. Nele, o jornal disse que teria checado a mudança de participação “junto a fonte do mercado”.
Ainda mais, o Estadão assumiu que, na verdade, teve acesso a uma “tabela de acionistas” enviada pelo IRB.
“Era a mesma a qual o Estadão/Broadcast havia tido acesso e que agora circula nas redes sociais”, admitiu.
Por que, então, a notícia original não dispunha de tais informações?
Isto pode ter acontecido por uma ânsia de “lacrar” o mercado, o que acomete boa parte dos jornalistas financeiros. Ou seja, pode ter havido uma tentativa de dar um “furo” com a ideia de que a notícia traria uma informação de dentro do mercado, exclusiva.
Não é bem assim que acontece. Na verdade, nunca é assim.
Nesta quarta-feira, o IRB afirmou, numa curtíssima nota ao mercado, que fará “uma análise criteriosa a partir das notícias divulgadas na data de ontem relativas à sua base acionária”. A determinação foi dada pelo conselho de administração à diretoria executiva da resseguradora.