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Opinião: Empreendedorismo digital vai na contramão da maior crise econômica pós-ditadura

13 set 2017, 21:45 - atualizado em 05 nov 2017, 13:55

Por Pedro Zambarda*

Sempre gostei de histórias de empresas e nunca gostei do tom de autoajuda ou excessivamente bajulador de alguns perfis de executivos. Felizmente, por alguns meses em 2016, consegui produzir um livro-reportagem que acredito ser equilibrado sobre as companhias “O2O”. Para quem não sabe, trata-se dos negócios “online-to-offline”, ou seja, desenvolvimento de software e aplicações que prestam serviços que normalmente só funcionariam fora da internet.

O maior exemplo de sucesso global neste segmento é o Uber, que praticamente implodiu o sistema de taxis ao redor do planeta, distante de regulações tradicionais de sindicatos ou de governos. No entanto, este tipo de renovação não chegou somente ao setor dos transportes.

Está no setor de alimentação via delivery, compra de ingressos, medicina, logística de caminhões, entrega de motoboys e muitos setores. O potencial de crescimento dos negócios O2O ultrapassa muitas vezes 90% destes mercados apresentados, porque muitos serviços ainda estão offline para a maioria da população brasileira. 

Livro

Mais da metade do Brasil está conectado, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). No entanto, a maior parte das conexões é de baixa qualidade, feitas por celulares com desempenho mediano, em conexões 3G precárias e através do Facebook. Com a melhoria progressiva da infraestrutura em rede, decorrente do barateamento das ferramentas de acesso ano a ano, deve mudar o quadro para melhor. E com mais gente conectada, mais oportunidades de negócios surgem.

É esta história que conto no livro “Internet Heroes Brasil”. Em 11 perfis de empresas brasileiras, eu dou uma visão geral de como os negócios O2O avançam no nosso território. Na China, este mercado já chega a um trilhão de dólares e os chineses são absolutamente viciados em apps de celular. No Brasil, até 2020, por mais que a crise econômica coloque suas cascas de banana, nós também chegaremos lá.

Conto a história como o dono do aplicativo Truckpad, Carlos Mira, andou de caminhão para entender o problema dos motoristas com as entregas nas debilitadas estradas brasileiras. Sabendo disso, ele desenvolveu um programa que otimiza os serviços de freelance dos caminhoneiros, tornando suas jornadas menos exaustivas.

No caso do programa Vaniday, conto como Cristiano Soares integrou cabeleireiros e profissionais de beleza num sistema digital que compara preços e favorece clientes e salões. O negócio começou na casa da mãe do empresário, passando por dificuldades financeiras. A iniciativa cresceu a ponto de abrir filial na Europa durante a crise final do governo Dilma Rousseff.

Uma iniciativa mais experiente como o Peixe Urbano explica como mudou da metodologia das compras coletivas para renovar o comércio online, enquanto o iFood unificou restaurantes em torno do delivery de comida em casa de qualquer tipo via apps.

E há ideias simples como o site Ingresso.com, que melhorou a ida ao cinema em shopping, até aplicações mais complexas como o GetNinjas, que funciona como um hub de serviços autônomos – de reforma doméstica até serviços de design e programação.

Todos estes negócios cresceram em plena crise. Alguns, temendo o risco, mantém suas empresas como startups de 10 até 30 funcionários. Mas há iniciativas com mais de uma centena de envolvidos.

E mesmo as companhias de porte mais robusto possuem custos reduzidos. A maioria dos negócios exige apenas uma equipe de tecnologia aplicada para desenvolver soluções criativas e uma integração com profissionais que já estão no mercado. A iniciativa é um ganha-ganha para os dois lados.

E embora grandes empresas como o Uber sofram com acusações graves de irregularidades em seus serviços, outras iniciativas como a do app 99 oferecem motoristas mais treinados e habilitados para transportarem passageiros por preços reduzidos. Descontos nas corridas contribuem para que o consumidor seja fisgado para este mercado potencialmente trilionário.

As histórias podem não trazer um personagem tão impressionante quanto o falecido empresário Steve Jobs, que hoje vive no iPhone X e nas inovações que mudaram para sempre a tecnologia mobile. No entanto, trato no livro de empreendedores de carne e osso, muito mais próximos da problemática realidade brasileira. O material teve financiamento da ABO2O – Associação Brasileira de O2O.

Estes negócios florescem na pior recessão econômica no período democrático recente do Brasil pós-ditadura militar.

E é por isso que estes 11 perfis corporativos merecem ser lidos.

*Pedro Zambarda é escritor e comunicador. Formou-se em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e em filosofia pela FFLCH-USP. Foi repórter do site EXAME.com (Editora Abril) e colunista do site TechTudo (Globo). É repórter freelance e editor dos projetos Geração Gamer e Drops de Jogos. Cobre negócios, economia, política, cotidiano e videogames. Gosta de inovação e acredita na tecnologia como ferramenta de mudança social.

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