Opinião

Opinião: A nova embalagem do inflacionismo

16 mar 2019, 9:05 - atualizado em 14 mar 2019, 19:40
(Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Por Victor Oliveira para o Terraço Economico 

No marketing de vendas, a embalagem do produto é um aspecto fundamental para decisão de compra do consumidor. Através dela, cria-se uma ligação positiva entre os clientes e a marca, através das emoções. Em alguns momentos, um produto pode não apresentar uma demanda alta, por não despertar o desejo dos clientes, e uma troca no design e formato da embalagem, seguido de uma campanha de divulgação nas diversas mídias, pode ser o gatilho para trazer demanda ao produto.

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O mesmo raciocínio pode ser aplicado à teoria macroeconômica. Até alguns anos atrás, era inimaginável ver grupos políticos importantes defendendo o endividamento infinito do Estado; a impressão de moeda em grandes quantidades e o desequilíbrio fiscal, com os gastos superando as receitas por margem grande. Porém, nos últimos anos essas ideias foram ressuscitadas sob uma nova roupagem: a Teoria Moderna da Moeda (MMT, na sigla em inglês).

Baseados no exemplo de países como EUA, que aumentaram sua base monetária e endividamento sem observar um aumento na inflação, esses teóricos passaram a defender a aplicação do tal modelo. Quase metade do Partido Democrata, por exemplo, já aceita a MMT como guia para um eventual governo a partir de 2021. Com a velocidade da difusão de informações, esse modelo está chegando em outros países, sendo o Brasil um deles.

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Por aqui, há quem use a MMT para negar a necessidade do país promover reformas em busca do equilíbrio fiscal, defender uma redução ainda maior na taxa básica de juros e o uso de endividamento para financiar gastos sociais. De acordo com a teoria, um país que emite a própria moeda não tem risco de ir à falência. Além disso, o nível de moeda em circulação não é causa de outras variáveis econômicas, mas sim consequência.

Irracionalidade ou amnésia, não dá para saber o que justifica a volta, com força, dessas ideias. Seus defensores parecem esquecer diferenças básicas, porém de extrema importância entre os países. Por exemplo, o nível de poupança interna dos países. No Brasil, este nível oscila próximo ao patamar de 15% do PIB. Na Alemanha, chega próximo de 25%. Também há o nível de riqueza, que em países ricos supera o PIB, enquanto no Brasil é praticamente o PIB. Em um texto publicado pelo próprio Terraço, esses elementos são bem explicados.

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A própria história recente do Brasil é ignorada pelos defensores da MMT. Nem faz 30 anos que nos livramos da inflação anual na casa dos três dígitos. Durante o processo de estabilização, foi necessário adotar o tripé macroeconômico, que consiste em metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário.

Por 10 anos, o Brasil conseguiu crescer, obter avanços sociais e reduzir a relação dívida/PIB aplicando os preceitos do tripé. Bastou o governo Dilma Rousseff afrouxar a política monetária, aumentar os gastos públicos e reduzir a arrecadação através de subsídios e desonerações, para que a inflação já voltasse a patamares altos, passando de 10% em 2015 e ainda nos colocando em uma gravíssima crise econômica, da qual ainda estamos patinando para sair.

A embalagem do inflacionismo até pode ser nova, com verniz de produto importado, novo e que visa quebrar o “consenso” existente atualmente. Sem ilusões. Na prática, a adoção dessas ideias vai representar a ida desembestada do Brasil rumo ao colapso econômico e social. Um olhar atento ao histórico brasileiro já seria suficiente para espantar esse receituário, porém, dado o nível de desonestidade no debate econômico, aliado às vontades de diversas corporações em manter privilégios que dependem dos gastos públicos elevados, permite que essas ideias velhas e absurdas sejam levadas a sério e ganhem um ar de renovadoras.