Operadoras de saúde negligenciaram riscos para catástrofes, avalia Credit Suisse
Há um risco real de catástrofe para as seguradoras de saúde. Esta é a percepção desconfortável obtida ao ler um relatório publicado na noite desta segunda-feira (24) por um grupo de analistas do setor financeiro e de saúde do Credit Suisse.
Segundo os analistas Marcelo Telles, Mauricio Cepeda e Otavio Tanganelli, a crise do coronavírus foi a “consumação de um risco catastrófico muitas vezes negligenciado para as seguradoras de saúde e similares”.
O problema está no fato de que as operadoras brasileiras se baseiam em taxas de sinistralidade apertadas. Por exemplo, para cada um real recebido dos clientes elas gastam cerca de 70% a 80% em custos médicos para os clientes, considerando as mais eficientes.
“No entanto, o novo evento de pandemia desencadeou um uso global imprevisto de UTIs e outros auxiliares respiratórios de alto custo. Ao conversar com agentes do setor, eles declaram não ter nenhum resseguro, que é considerado ‘muito caro'”, revelam os analistas.
O maior impacto se dá na exposição aos clientes com a idade superior a 65 anos.
Empresa | Ação | Clientes acima de 65 anos (em mil) | % do total |
---|---|---|---|
Amil | – | 222 | 6,20% |
Bradesco | BBDC4 | 176 | 5% |
Notredame Intermédica | GNDI3 | 154 | 5,40% |
Hapvida | HAPV3 | 134 | 4,40% |
SulAmerica | SULA11 | 144 | 6,60% |
Prevent Senior | – | 272 | 64,50% |
Porto Seguro | PSSA3 | 5 | 2,20% |
Outros | – | 3,475 | 11,10% |
Total | 4,582 | 9,70% |
Com base em dados sobre a evolução da pandemia em outros países e o seu impacto infecioso sobre os mais velhos, o Credit Suisse calculou o efeito financeiro do uso mais elevado das UTIs para cada uma das seguradoras analisadas:
A Amil teria um custo adicional de R$ 311 milhões;
O Bradesco gastaria mais R$ 246 milhões, ou 0,6% do lucro líquido de 2019.
A NotreDame perderia R$ 215 milhões. O valor representaria 30,4% dos ganhos do ano passado.
A Hapvida usaria cerca de R$ 188 milhões, que correspondem 12,9% dos resultados.
A SulAmerica pagaria R$ 202 milhões, cerca de 10,3% dos lucros.
A Prevent Senior desembolsaria R$ 381 milhões.
A Porto Seguro gastaria apenas R$ 7 milhões. O número representa 0,3% do lucro.
“Apesar do potencial impacto negativo (sob essa suposição simplificada), a maioria das empresa será solvente o suficiente para lidar com o impacto, com um efeito muito mais significativo em quem possui uma maior presença em vidas acima de 65 anos, como a Prevent Senior. Vale ressaltar que o impacto parece bastante pequeno para o Bradesco e a Porto Seguro”, avalia o Credit Suise.
As estimativas consideram apenas alguns custos simplificados de UTI, deixando de fora os gastos adicionais para os pacientes que não atingem um estado mais crítico.
O Credit Suisse ressalta que apenas o acompanhamento da pandemia no Brasil poderá fornecer dados para uma projeção mais acurada, como o tempo de duração dos casos.